terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Os afagos de que Belém precisa

Belém na chuva, na foto de Fernando Sette Câmara
FRANCISCO SIDOU

Belém completa 397 anos em meio a muitos problemas, demandas e carências, mas, também, com o renovo da expectativa de sua gente por dias melhores, com a eleição de prefeito novo, energizado pelos quase 500 mil votos de confiança nele depositados. O novo prefeito assume diante de uma enxurrada de esperanças e também das águas de janeiro, que expõem as mazelas de uma cidade que cresceu desordenadamente, sem planejamento urbano, sem saneamento básico e com muito pouca ação governamental em busca de soluções inadiáveis, sempre adiadas.Ruas alagadas, casas inundadas, bueiros entupidos de lixo jogado na via pública, engarrafamentos colossais, buzinaços estressantes. São faces do caos urbano que se estabelece quando chove. A insegurança e o medo de assaltos nas paradas de ônibus e nos congestionamentos completam o cenário de abandono, escancarando a omissão dos agentes públicos. A nossa bela cidade esteve sem comando e à deriva durante os últimos oito anos.
As soluções dos graves problemas urbanos de Belém são historicamente remetidas para um passado de omissões, falta de planejamento e de visão, “heranças malditas”, fantasmas que precisam ser exorcizados não com queixumes, mas com ações governamentais efetivas de parte de gestores públicos que se elegeram justamente prometendo mudanças.
A cidade e sua população, sobretudo a mais carente, continua sofrendo os efeitos da época invernosa, sem perspectivas de soluções a curto prazo. Não vale culpar a natureza, pois esses problemas são antigos e recorrentes. Planos existem muitos. O que falta é ação. O ex-prefeito Duciomar gostava muito de citar as tais "obras estruturantes", cujos efeitos a população jamais sentiu.
O trânsito continua neurótico e estressante e não só quando chove. A cidade está ficando "engessada". Vocês lembram da famosa profecia dos jovens técnicos japoneses da Jica? Pois bem: eles previram, com base em premissas técnicas, que Belém poderia parar até 2010, caso não fossem realizadas algumas obras viárias indispensáveis para desafogar as vias de tráfego da cidade. Isso em 1986. Alguém duvida que isso esteja acontecendo ? O Projeto do BRT, iniciado de maneira açodada pelo desprefeito Dudu, só fez aumentar o caos no trânsito na BR-316, Augusto Monnegro e Almirante Barroso. E também sua rejeição e de seu candidato, aquele que "sabia como fazer"...
Como toda obra feita sem planejamento técnico adequado, agora vai precisar ser reformulada para sua adaptação ao projeto macro do Ação Metrópole, por se tratar de um Projeto Integrado, que atinge todos os municípios da Área Metropolitana de Belém, fato que Duciomar atropelou na ânsia de mostrar serviço e enganar os eleitores.
A saúde pública em Belém também está agônica. São muitas as mortes de pessoas por omissão de socorro nos pronto-socorros municipais. A desesperança toma conta de seus familiares, que se sentem nessas horas totalmente impotentes e abandonados. São dramas de uma realidade cruel, que parecem tão rotineiros que não mais sensibilizam gestores públicos justamente encarregados de promover as ações necessárias para promover saúde pública de qualidade para a população.
A insegurança do belenense também é pública e notória. Diariamente os noticiários de rádio, jornal e TV trazem registros de crimes brutais, cometidos por motivos torpes ou banais. Ninguém mais se sente seguro nas ruas, nos cinemas, nos shoppings, nos bares ou nos lares. Algo precisa ser feito. Do contrário, todos estamos ameaçados de viver em estado de transe, desconfiando de tudo e de todos. Muros altos e cercas elétricas não são soluções, pois os condomínios mais "seguros" são jutamente os mais visados pelas quadrilhas de assaltantes à mão armada. Ações sociais e maior preparo dos policiais são mais indicadas do que o aumento das frotas de veículos e construção de novos presídios.
A "saga" da contrução  de torres tórridas em concreto, vidro  e aço, para  satisfazer ambições desmedidas e ilusórios sonhos consumistas está transformando Belém numa cidade sitiada pelo calor , pois essas "torres de marfim" estão impedindo a circulação dos ventos e destruindo  áreas verdes e  quintais,"pontes" da cidade com a natureza e a vida. A arborização da cidade é tarefa urgente e inadiável. Pelo menos um milhão de novas árvores precisam ser plantadas  já. Não se concebe Belém como  a capital menos arborizada do Brasil, com sua localização privilegiada, na porta de entrada da maior floresta tropical do planeta.
Como toda morena bonita/brejeira/ faceira, Belém, ainda que malcuidada, tem lá seus  muitos encantos e cheiros, sabores e cores. Prefeito  Zenaldo, o senhor já tomou banho de  chuva nas tardes belenenses saboreando uma deliciosa manga caída  madura do pé ? É disso que Belém precisa. De amor, de afagos e de carinho para voltar a sorrir e também recuperar a autoestima de sua gente.

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FRANCISCI SIDOU é jornalista
chicosidou@yahoo.com.br

6 comentários:

José Carneiro disse...

Caro Sidou:

Como já lhe disse, voce tem razões de sobra ao defender a cidade de tantos maleficios. E dá provas frequentes de seu amor por esta bela cidade em que vivemos. Pena - que pena mesmo - é que suas palavras, como as minhas e de tantos outros - caem no vazio. Os gestores não dão a mínima para a opinião gratuita que emitimos. E fica tudo como esteve e está. Mas devemos continuar criticando, como você faz tão bem.
Grande abraço do
José Carneiro

Anônimo disse...

A culpa é de quem podia um dia ter cobrado e nunca o fez.

Francisco Sidou disse...

Mau caro amigo, colega jornalista e guru José Carneiro: você é um dos poucos cientistas políticos que fala/escreve em linguagem que o povo entende, mesmo com a profundidade de suas análises políticas. Você é um dos nossos, ou seja, da turma que aprendeu com a humildade do mestre Sá Leal que "o difícil mesmo é escrever fácil"... Tem sido essa a minha persistente busca de aprendiz no ofício de escrever.
Sobre as críticas caírem no vazio dos ouvidos moucos de nossos políticos, agora há pouco mandei mensagem para o nosso amigo comum e grande jornalista Lúcio Flávio Pinto, ao ler sua bem elaborada "Carta Aberta ao Prefeito de Belém", em seu valoroso Jornal Pessoal. Sugeri a Lúcio que reunisse em livro todas as sugestões proativas que já fez em seu pequeno grande Jornal Pessoal,para lançamento por ocasião dos festejos dos 398 anos da cidade. Também o informei que estou lançando uma nova ideia ao novo prefeito: que seja constituído por Decreto um Conselho Municipal da Polis, integrado por notáveis cidadãos beleneneses, líderes em suas profissões ou comunidades, acima de qualquer suspeita, para assessorar o prefeito com ideais para uma Nova Belém. Exemplos de cidadãos que poderiam compor esse conselho: Dr. Camilo Viana, o próprio Lúcio Flávio, líderanças comunitárias, artistas que vão aonde o povo está, etc. Detalhe:os conselheiros não teriam remuneração, apenas um jetons para pagar o transporte em dias de reunião. De quebra, o prefeito, com a instalação desse Conselho de Notáveis, digamos assim, poderia dispensar mais uns 500 DAS da mastodante asssesoria oficial que herdou. Concorrência com a Câmara Municipal de Belém ? Não haveria esse risco, porque o que menos sai nos debates na CMB são ideias e projetos para a melhoria dos serviços públicos e da cidade. Ali os "polvos" com seus tentáculos costumam abafar os interesses do povo. Com raras exceções, claro, não é Marinor & Cia. ?

Francisco Sidou disse...

Mau caro amigo, colega jornalista e guru José Carneiro: você é um dos poucos cientistas políticos que fala/escreve em linguagem que o povo entende, mesmo com a profundidade de suas análises políticas. Você é um dos nossos, ou seja, da turma que aprendeu com a humildade do mestre Sá Leal que "o difícil mesmo é escrever fácil"... Tem sido essa a minha persistente busca de aprendiz no ofício de escrever.
Sobre as críticas caírem no vazio dos ouvidos moucos de nossos políticos, agora há pouco mandei mensagem para o nosso amigo comum e grande jornalista Lúcio Flávio Pinto, ao ler sua bem elaborada "Carta Aberta ao Prefeito de Belém", em seu valoroso Jornal Pessoal. Sugeri a Lúcio que reunisse em livro todas as sugestões proativas que já fez em seu pequeno grande Jornal Pessoal,para lançamento por ocasião dos festejos dos 398 anos da cidade. Também o informei que estou lançando uma nova ideia ao novo prefeito: que seja constituído por Decreto um Conselho Municipal da Polis, integrado por notáveis cidadãos beleneneses, líderes em suas profissões ou comunidades, acima de qualquer suspeita, para assessorar o prefeito com ideais para uma Nova Belém. Exemplos de cidadãos que poderiam compor esse conselho: Dr. Camilo Viana, o próprio Lúcio Flávio, líderanças comunitárias, artistas que vão aonde o povo está, etc. Detalhe:os conselheiros não teriam remuneração, apenas um jetons para pagar o transporte em dias de reunião. De quebra, o prefeito, com a instalação desse Conselho de Notáveis, digamos assim, poderia dispensar mais uns 500 DAS da mastodante asssesoria oficial que herdou. Concorrência com a Câmara Municipal de Belém ? Não haveria esse risco, porque o que menos sai nos debates na CMB são ideias e projetos para a melhoria dos serviços públicos e da cidade. Ali os "polvos" com seus tentáculos costumam abafar os interesses do povo. Com raras exceções, claro, não é Marinor & Cia. ?

Francisco Sidou disse...

Carneiro, meu caro amigo e não mau caro amigo, desculpe o erro de digitação, meu caro, please !

Anônimo disse...

Oito anos, não. 16!