terça-feira, 11 de outubro de 2011

Se todos fossem iguais a você...


Ao longo de mais de quatro décadas o Brasil tem procurado fazer a defesa intransigente da democracia e da livre iniciativa - pilares sobre os quais, acreditamos, será construído um país mais moderno, mais justo e mais próspero. Há que se mergulhar em três grandes fenômenos que moldaram - e moldarão - a economia e o ambiente de negócios do século 21. O primeiro - e, talvez, o mais perturbador deles - é a ascensão da China e seu atual movimento de mudança de modelo econômico. O segundo é a construção do Brasil moderno refletida em seus indicadores, suas empresas e seu capital humano. O mais difícil, porém, ainda está por vir. Estamos preparados para passar de emergente a desenvolvido? Agora, chegou a hora de entrar no clube dos ricos.
A transformação e a modernização do Brasil são pontuais. A queda do Muro de Berlim, um daqueles raros eventos da história que separam duas eras, tirou muito da névoa ideológica que tanto conturbou o debate intelectual no Brasil e no planeta. A derrubada física dos tijolos trouxe abaixo também um esquema mental que via o mundo partido em três, no qual capitalistas e socialistas buscavam capturar aliados no que então se chamava Terceiro Mundo - onde inequivocamente estávamos.
Também o sistema mundial pós-muro é formado por três conglomerados de países, mas hoje, entre as nações mais ricas e a pobres, estão não mais os socialistas, mas os emergentes. Esse bloco de países - composto por economias e sociedades gigantescas, como a China, Índia, Indonésia e Brasil - superou uma condição disseminada da miséria, tornou-se relevante para o crescimento mundial, mas ainda não chegou ao desenvolvimento.
A nova divisão do mundo permite um olhar mais claro sobre o desempenho brasileiro. Foi nesse período que conseguimos transitar do terceiro ao segundo grupo. E olha, não é pouco, não. Ofuscados pelo brilho do exemplo americano, sempre tivemos quase um prazer ao nos referir a um suposto fracasso como nação - seríamos, para voltar à surrada piada, o eterno país do futuro.
Talvez seja a hora, até para que possamos pensar no que vem à frente, de reavaliar nossa trajetória. O Brasil de 1967 - de triste memória - era o retrato do atraso. Quase 40% das pessoas com mais de 15 anos eram analfabetas. Só metade das crianças frequentava a escola. O Brasil de 1967 era composto de 90 milhões de pessoas. Hoje somos 192 milhões. Mas nos aprumamos de novo. Somos hoje mais desenvolvidos do que as pessoas pensam.
O Brasil desponta agora como um dos mais promissores países aos olhos dos investidores. Ainda temos pela frente muito trabalho. A criminalidade virou uma marca característica do País. A corrupção - essa, nem se fala - está à vista de todos e ofende os brasileiros que trabalham duro e pagam seus impostos. As carências sociais ainda são enormes. Mas nada disso muda o fato de que a economia fechada e sob tutela estatal dos anos 60 deu lugar a uma potência emergente.
O salto de que precisamos, agora, diz respeito não à quantidade, mas à qualidade. Sim, as crianças estão na escola, mas estão aprendendo? As cidades são locais agradáveis de trabalhar? Nosso sistema de saúde atende à população com dignidade? Ambientes de negócios trata adequadamente nossos empresários e empreendedores? O governo tem respeito pelo dinheiro que recebe do cidadão? Conseguir responder sim a questões desse gênero é a chave para virar um país desenvolvido.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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