sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A violência e a antropologia

De um Anônimo, sobre a postagem A selvageria é cultural? Podemos todos ser selvagens?:

Quer dizer que agora dar p... na mulher é cultural, chama o antropólogo; não deixar a mulher ir trabalhar e não ajudar nos serviços domésticos é cultural, chama o antropólogo; não aceitar e barbarizar homossexuais é cultural, chama o antropólogo etc...
Para limitar a "ação cultural" de qualquer nação, tribo, grupo social, mudialmente localizados existe, sim, senhor, o direito internacional à vida em sociedade.
Portanto, vamos sim nos mobilizar em defesa da vida e exigir dos antropólogos o mesmo.
Espero que vários deles leiam aqui e nos deem um segundinho, antes de vir postar barbaridades.

2 comentários:

Artur Dias disse...

A antropologia de fato nunca negou, nem teria como, a existência de aspectos polêmicos nas culturas ditas "primitivas", como rituais que incluem a tortura (vide Pierre Clastres), mas dentro de um ambiente controlado. A aceitação da dor profunda, imposta pelos mais velhos, indica o desejo dos jovens de se mostrar dignos de seu povo, ainda mais quando se está falando de sociedades guerreiras e caçadoras, em que o confronto e os ataques de animais selvagens é uma realidade presente. Assim, seria um luxo sustentar indivíduos deficientes ou com pouca resistência à dor. Até hoje a escarificação tem grande significado para muitos povos, e me arrisco mesmo a dizer que a agressão dos kayapó ao engenheiro há três anos em Altamira, guarda um pouco desse simbolismo, embora no geral tenha sido repudiada até mesmo pelos outros índios. As manifestações da cultura humana têm seus códigos próprios, e isso independe das nossas escalas de valores. Mas não encontraremos antropólogos defendendo as brigas de gangues, digo, torcidas organizadas; muito menos o espancamento de mulheres ou de homossexuais. O que é necessário agora, ao invés de demonizar os índios e os antropólogos, é entender as razões profundas que levam uma família indígena a recusar uma criança, e encontrar uma solução comum entre as duas culturas. Entender as razões do pai e da mãe índios exige ouvi-los, coisa que, ao que me parece, não foi feita pela imprensa.

Anônimo disse...

O anônimo usa de raciocínio rasteiro para tentar desmoralizar a visão da antropologia, como é de praxe em quem se acredita dono da verdade e do "direito internacional à vida em sociedade" (aqui, para ele,sociedade é a dele). Artur Dias, com moderação, coloca um pouco de razão na discussão.