sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Honra e glória no lixão


Práticas gerenciais empíricas e amadoras têm sido a causa mais visível da falência múltipla dos clubes paraenses. Dirigentes "alpinistas sociais", que sonham se "dar bem" na carreira ou na política, geralmente se utilizam do esporte como trampolim para suas ambições, vendo nos clubes de massa como Paysandu e Remo a oportunidade de aparecer na mídia ou então garantir uma eleição fácil, fácil.
As torcidas, movidas pela paixão, muitas vezes se deixam seduzir por "cartolas" fariseus, os quais, não raro, apenas contribuem para multiplicar dívidas, com decisões equivocadas e contratações desastrosas de atletas em fim de carreira, verdadeiros "bondes" que nada produzem para o clube, além de arruinar suas finanças com ações trabalhistas milionárias.
Culpa da Justiça do Trabalho? Evidente que não. Por falta de gestão profissional, Remo e Paysandu estão com suas finanças destroçadas e seu patrimônio ameaçado de ir a leilão em hasta pública. Patrimônio valioso e histórico, construído com muito amor, paixão, suor e lágrimas. As torcidas, organizadas ou não, influem muito pouco na gestão de clubes de massas.
Não por acaso, as eleições são indiretas, manipuladas por um clube fechado de "conselheiros", que também "se acham" iluminados senhores do destino dos clubes. Como na "casa de Noca", onde todo mundo manda e ninguém se entende, assim também são as reuniões desse "clube fechado", composto de beneméritos, remidos e outras patentes vistosas. Em tais convescotes, muitos contam bravatas e façanhas de um passado de glórias, mas esquecem de deliberar sobre ações estratégicas para garantir o presente e salvar o futuro dos clubes. Em tempos de crise, é quando mais são exigidos talento e criatividade dos verdadeiros líderes ou dirigentes.
Vender o patrimônio do clube é a saída mais fácil para os que não o construíram, não têm compromisso com sua história, nem capacidade inventiva para criar soluções alternativas, aproveitando o grande potencial de marketing de um clube de massas. O incentivo às categorias de base, celeiro de novos e promissores talentos, também não é prioridade de gestões empíricas. As escolinhas de futebol vivem à míngua, sem recursos sequer para compra de material esportivo. Sobrevivem graças à dedicação e amor à causa de alguns poucos abnegados.
Ações desastradas como a derrubada do escudo do Clube do Remo, com picaretas, nas caladas da noite, para evitar o "tombamento" do estádio e apressar sua venda, a preço discutível, revelam não só incúria e descaso, mas também desamor. Com dívidas, todos os grandes clubes brasileiros convivem. O que faz a diferença é a forma de compor e rolar essas dívidas, através de ações gerenciais eficazes, que podem melhorar o desempenho do time em campo e também "levantar" a moral das torcidas para que voltem a lotar os estádios, aumentando as receitas sem precisar vender o patrimônio do clube.
Remo e Paysandu não são apenas dois clubes. São instituições valiosas, que integram o patrimônio cultural e imaterial do povo paraense. Suas tradições não podem ser destruídas com as picaretas da insensibilidade nem jogadas no lixão do descaso. São tão importantes que não interessa ao Paysandu a falência do Remo. Nem vice-versa. Os dois clubes estão condenados a um destino comum, o de honrar suas tradições e garantir a sobrevivência, com muita garra, paixão e amor, pois o combustível que os move é forjado pelas emoções de todo o povo paraense.
Chega de lambanças ! Diretas Já também no Remo e no Paysandu ! Por que se nada mudar, contrariando o "filósofo" Tiririca, pior do que está, sim, pode ficar...

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FRANCISCO SIDOU é jornalista
chicosidou@bol.com.br

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