segunda-feira, 3 de maio de 2010
Quem vai salvar os helênicos?
As bolsas de valores estão despencando pelo mundo devido à crise que se instalou na Europa. A Grécia espalha medo no continente e nos mercados mundiais. O mercado financeiro avaliou pelo rebaixamento sobre a capacidade dos helênicos honrarem suas dívidas e arrastou o mercado acionário mundial em direção ao precipício. Com o pipocar das crises pela Europa, levou as bolsas do continente a despencar, com destaque para Lisboa.
A modificação profunda do mercado levou o dólar à alta de mais de 1,15% e estancou o mercado de juros, que disparou com as expectativas de altas dos juros básicos no Brasil. Com o índice, a taxa real de juro do Brasil passa a 4,2%, a mais alta do mundo. Além da Grécia e de Portugal, as preocupações com novas medidas restritivas da China acirraram a crise nos mercados.
No Brasil, além de toda a aversão a risco externa, a preocupação sobre a alta da taxa Selic também pesou sobre os ativos, assim como já vinha acontecendo ultimamente. As dívidas já anteriormente contraídas, assim como compras a crédito efetuado anteriormente, não sofrerão qualquer alteração. Mas quando se trata de cheque especial, esse, sim, irá para a estratosfera.
Está difícil tirar os gregos dessa situação. As linhas de crédito até o momento não parecem suficientes para tirar o país da obscura situação. Talvez George Papandreou tenha sido apressado demais. No início de abril, apenas alguns dias depois de o primeiro-ministro grego ter afirmado que "o pior já passou", os juros pagos pelos títulos de dez anos do governo saltaram de 6,5% para mais de 7%. Os juros continuam em níveis alarmantes.
A Grécia apresenta-se com telhado de vidro. A situação é dramática. A palavra "moratória" está cada vez mais na boca dos analistas. O custo de segurar os títulos gregos superou os da Islândia; os bancos gregos pediram para utilizar um plano de liquidez do governo. Longe de chegar ao fim, a crise da dívida grega parece mal ter começado. O que era apenas um problema grego também virou português. Em julho, a Espanha terá que pagar 24 bilhões de euros. O problema da Espanha não é de solvência como a Grécia, é de liquidez. A Itália e a Irlanda não vão bem das pernas. Pior, não há mecanismo para tirar um país da zona do euro, e isso aumenta o risco de contágio (até parece à gripe H1N1).
Ademais, há um fato que torna o risco de contágio maior: estão todos na mesma zona monetária e têm números fiscais igualmente amedrontadores. Em grande parte, essa recaída fiscal ocorreu por causa da crise de 2008, mas já havia, desde antes da crise, um relaxamento perigoso dos parâmetros fiscais.
Diante disso, os novos sobressaltos do mercado de títulos foram causados por dúvidas crescentes de que um pacote de emergência montado pelos líderes da União Européia no mês passado ofereça ajuda demais à Grécia. A Alemanha está em pleno processo eleitoral, e como o governo de Angela Merkel explicaria essa gastança a um país que caminha para a insolvência? A revolta alemã diante do esbanjamento grego poderia facilmente retardar o dinheiro necessário, caso os mercados de títulos fechem.
Ancorados uns aos outros, os países do euro enfrentam a pior crise fiscal da sua história. E tudo é consequência da crise bancária. A uma crise bancária sempre segue uma crise fiscal.
Os otimistas de plantão estão confiantes em que o governo conseguirá levantar fundos suficientes nas próximas seis semanas para evitar a moratória, embora a um custo muito alto. O governo tem mais de 13 bilhões de euros em caixa, o bastante para refinanciar a dívida que está maturando e custear o déficit orçamentário em abril já findo. Ele precisará levantar mais ou menos uns 12 bilhões agora em maio. As prováveis necessidades de empréstimos para o resto do ano, da ordem de 25 bilhões de euros, se estendem de maneira mais uniforme.
O legado da Grécia Clássica para a civilização é insofismável. A Grécia tinha a admiração do mundo. Hoje, os ventos setentrionais que sopram no Mar Egeu são muito fortes e sombrios. A incompetência gerencial de seguidos governos e a corrupção exacerbada acanalharam as pessoas. Como deve fazer falta um areópago em Atenas. Se os gregos conseguirem passar por essa tempestade, poderão ter no futuro um cruzeiro relativamente tranquilo pelo resto do ano. Agora, o primeiro-ministro socialista Papandreou ainda não sabe como descascar o abacaxi.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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