quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Violência ameaça a saúde

No AMAZÔNIA:

A violência urbana desenfreada tem empurrado cada vez mais os médicos para longe das unidades de saúde. Mesmo com salários mais altos, plantões extras que podem ultrapassar R$ 600, quando a média é de R$ 500, e outras vantagens empregatícias, poucos profissionais de saúde tem aceitado trabalhar nos postos situados na chamada 'linha vermelha do crime'. Assaltos, ameaças, depredação do patrimônio e mortes já viraram rotina. O resultado tem sido mais insegurança e menos acesso da população aos serviços de saúde.
No posto de saúde do Benguí, o medo impera entre os funcionários e pacientes. A porta da unidade vive trancada no cadeado, homens de uma empresa de segurança privada, armados, fazem a vigilância dentro do posto, e o atendimento que deveria ser 24 horas está restrito a apenas alguns turnos por semana, justamente pela falta de médicos.
'Uma vez um médico recém-formado foi contratado para trabalhar aqui. No segundo plantão dele, chegou um homem baleado no braço que começou a fazer um escândalo para abrirem logo o portão porque ele precisava de atendimento urgente. O homem já chegou ameaçando todo mundo. Mal conseguimos abrir a porta e o médico foi tentar acalmar o paciente, um grupo de rapazes chegou na unidade atirando e matou o homem e o rapaz que estava acompanhando ele. Os corpos caíram ao lado do médico, que na mesma hora pediu para ir embora e não voltou nem para buscar o carro dele. No outro dia o pai do médico é que veio buscar as coisas dele que ainda ficaram aqui', relata uma funcionária do posto, que, por medo, preferiu não ser identificada.
Na unidade do bairro do Telégrafo uma situação, no mínimo, inusitada. O segurança, responsável por garantir a tranquilidade do local, foi rendido uma vez por assaltantes que levaram a arma e o colete a provas de balas. Desde então, toda a equipe foi proibida de portar armas, o que deixou o ambiente ainda mais vulnerável à violência.
'É complicado, muitos colegas já foram assaltados durante o trajeto para o trabalho. Por isso, quando vamos embora, só saímos todos juntos para evitar este tipo de coisa', afirmou a psicóloga Tereza Cunha.
Um problema que expõe a vida dos profissionais de saúde, mas também a população, que além de estar sujeita à insegurança, acaba voltando para casa sem o tratamento esperado. É o caso do militar aposentado, Rafael Fernandes, que desde novembro espera um retorno do urologista. 'O médico que tem aqui é muito bom, mas nunca consigo dar andamento ao tratamento. A culpa é do sistema que não leva o tratamento a quem mais precisa. Eu estou com problemas nos rins e não consigo resolver. Outros acabam morrendo esperando atendimento', afirmou.

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