quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Juvêncio Arruda

ANDRÉ COSTA NUNES

Conheci o Juvêncio faz menos de um ano. Não houve sequer tempo para chamá-lo de Juca. Laffayette apresentou-me, em um certo fim de tarde de meio de semana, no bar do Ranulfo, colado ao Quem São Eles. - Juca, este é meu pai, de quem te falei. Pronto. Virou amigo de infância, de juventude, embora quase vinte anos separassem nossas infância e juventude. Acho que ele levava muito a sério o fato de ser juvêncio. Daí para a Terra do Meio, ficar de bubuia nas águas do Rio Uriboca foi um pulo. E parecia que era frequentador do lugar há vinte, trinta anos. Desde sempre. E haja irreverência, casos e causos. Fizemos planos e mais planos para o seu Quinta Emenda. Blog, a mídia do futuro, concordávamos. E o futuro chegara. Concordávamos também. No mais, discutíamos e, por vezes discordávamos. Um citadino com extrema sensibilidade cabocla, coisa que eu, cabocão xinguara, buscava, até com impaciência, nos meus amigos urbanos.
Juvêncio, por que não Juca? estava almoçando comigo na maloca à beira do Uriboca. Fora trazido pelo Laffayette, que, sem eu saber, convidara o irmão, André, que é médico. André chegou quando a caldeirada já estava no meio. Abriu uma cerveja e alimentou o papo. Quando esperávamos a sobremesa, queijo de búfala com doce de cupu e castanha, quase com displicência, pegou os exames do Juvêncio. Ele os levara para isso mesmo, para uma avaliação do André. Pneumologista, pegou logo a radiografia do tórax. Antes que a olhasse contra o sol, Juvêncio ainda brincou - e aí, cara, quantos meses ainda tenho de vida?
Acho que só eu notei o tremendo esforço que o André fez para não demonstrar a angústia que sentia.
Sem responder perguntou - estás dirigindo? - não, vim na carona do Lafa. - vamos comigo. Conversamos no caminho. Juvêncio ainda insistiu em perguntar alguma coisa que não me lembro. O Laffayette ficou mudo. Os três, em silêncio, dirigiram-se para os carros estacionados à sombra da mangueira. A sobremesa chegou. Ninguém comeu. A cerveja esquentou. Fiquei só. Eu e meu rio, com aquele nó na garganta e um sentimento profundo, indefinido, mundiado, que só os cabocos velhos sabem sentir.
Poucos dias depois, não me lembro quantos, o André me telefonou do hospital. Acabara de assinar o atestado de óbito do Juvêncio. Disse duas palavras e calou. Ainda devemos ter ficado um bom tempo com o celular ao ouvido. Nada mais havia a dizer ou a perguntar.
Requiescant in pace, camarada.

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ANDRÉ COSTA NUNES é escritor
andré@terradomeio.com.br

3 comentários:

Adelina Braglia disse...

Um abraço, Paulo.
Um abraço, André.
Axé, Juca querido.

Poster disse...

Abraços, amiga.

Anônimo disse...

André, parabens, lembro voce do largo de Nazareth e do maior vendedor de COCA COLA do Brasil. Coisa que muita gente não sabe! Parece que estou vendo voce uniformizado de caqui, que naquela época era a cor predominante deste refrigerante.