domingo, 9 de agosto de 2009
Falência no Mercosul
A aliança dos países do Cone Sul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), buscava um intercâmbio de mercadorias, tecnologias e de profissionais, maior do que vinha sendo praticado, e uma redução gradativa ou eliminação de tarifas cambiais.
A livre circulação de bens, serviços e capitais e o tratamento homogêneo, nas relações comerciais com outros países foram escolhidos como estratégias para o aprimoramento da competitividade dos agentes econômicos intrablocos, tendo-se como horizonte sua melhor inserção econômica, em um cenário internacional caracterizado pela globalização dos circuitos produtivos financeiros e pela consolidação dos blocos regionais de comércio, num contexto pós-Guerra Fria marcado pelo influxo das novas tecnologias de informação e das novas organizações enxutas e flexíveis.
Mas o que se tem observado ultimamente é que no Cone Sul os acordes são dissonantes. Um encontro de países que pensa pequeno. A melhor maneira dessa constatação foi a punição da Argentina nas eleições legislativas de 28 de junho, que consagram políticos que vão ficar com a herança maldita da era Néstor e Cristina Kirchner. O casal sofreu sua primeira derrota eleitoral. Um verdadeiro massacre. Sete em cada dez argentinos votaram na oposição nas eleições que renovaram parte da Câmara dos Deputados e do Senado.
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“O Mercosul foi sustentado pelas relações entre Brasil e Argentina, as duas maiores economias do bloco. Contudo, com a relação entre os dois países descendo a ladeira, o futuro do Mercosul está ameaçado.”
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O casal K, como é conhecido, perdeu o "estilo K" de governar. Daqui em diante, para manter a governabilidade, como se diz em Brasília, o casal presidencial terá que começar a negociar - palavra até então inexistente em seu vocabulário. É um ciclo político que se encerra na Argentina. Será que se o regime bicameral do Brasil em 2010, fosse renovado à imagem e semelhança de nossos hermanos, não faria tão bem ao nosso País?
Voltemos ao Mercosul. Desde a sua criação há 18 anos, ele sempre foi sustentado pelas relações entre Brasil e Argentina, as duas maiores economias do bloco. Contudo, com a relação entre os dois países descendo a ladeira, o futuro do Mercosul está ameaçado. É bom lembrar que, no primeiro trimestre, a Argentina passou de segundo para terceiro destino dos produtos brasileiros, atrás da China e dos Estados Unidos.
Segundo especialistas, uma análise da conjuntura internacional atual, além da crise externa e das barreiras comerciais erguidas pelo governo de Cristina, os Argentinos passam por uma severa restrição de crédito. E a valorização do real torna os produtos industrializados brasileiros menos competitivos. A combinação desses fatores beneficia todos os nossos competidores e, em especial, a China, fazendo com que o Mercosul se torne mais fragilizado.
Com a imposição das barreiras alfandegárias, o governo tropeça nos próprios pés e fere os princípios do Mercosul, alijando seus tradicionais parceiros. Como entender que embarques de calçados na fronteira do Brasil e Argentina tem levado em média 150 dias, mesmo com a determinação da Organização Mundial do Comércio (OMC) de que as licenças sejam dadas no máximo em dois meses?
As exportações do Brasil para a Argentina são afetadas por licenças não automáticas, exigidas de setores como têxtil, linha brancas e móveis. Para entrar na Argentina esses produtos precisam de autorização do governo, mas os pedidos têm sido engavetados com frequência. Além das medidas protecionistas, a Argentina também está sofrendo fortes efeitos da crise, com o encolhimento de seu mercado consumidor.
Os motivos são diversos, mas tudo indica que o fluxo de comércio entre Brasil e Argentina jamais será o mesmo. O que vale também para o Mercosul. As barreiras são mais uma evidência do desrespeito ao bloco. E o governo brasileiro como sempre muito generoso, não está interessado em cobrar nada dos argentinos.
Para Nelson Belduque, diretor de comércio exterior da Abimaq, que no início de junho cumpriu uma agenda de negócios em Buenos Aires, o pior de tudo é que se abre um flanco para a invasão de produtos chineses. E, adverte: "Precisamos criar uma proteção contra a China porque sua estrutura de custos é muito inferior à do restante do mundo".
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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