domingo, 23 de agosto de 2009

A educação que não merecemos


O que resta a um País quando a educação é tratada de acordo com a democracia da conveniência? Provavelmente, o sinal de um tempo em que as misérias chovem fortemente. O distintivo do ciclo da degradação a que chegou o sistema político no Brasil.
Essa é a admoestação que se pode fazer da primeira sessão da Corte do Planalto, onde se deveriam tratar assuntos de relevância como a educação e a saúde que estão sucateadas no sentido literal.
Quando analisamos os sucessivos e rotineiros escândalos no Senado Federal, com propriedade poderíamos sugerir medidas que propiciem termos uma instituição mais ética e transparente. Precisamos dissecar as transgressões, as bandalheiras com cartas marcadas, engolir sapos que nos são atirados todos os dias através da mídia, tentar entender como uma tropa de choque defende a mediocridade, a rapinagem. E isso passa ao longo do tempo como verdade e confunde principalmente aqueles que não têm acesso a uma educação com dignidade, e sim de conveniência.
Precisamos de maneira eficiente e lúcida acabar com o raquitismo intelectual e acrescentarmos à educação musculatura capaz de conter esses tipos de desvios. Nosso país está se beneficiando pela atual cornucópia do Bolsa Família. Os bilhões que estão sendo carreados para lá por esse artificialismo demagógico, e pela fragilidade de seus objetivos e controles, acabarão favorecendo os maus políticos, para os quais o "pudê" é tudo o que interessa. Com certeza, são os políticos psicopatas, e eles sabem o que é o ilegal, passam por cima de tudo isso e acham tudo normal, tudo legal.

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“Hoje, os jovens têm a escola que merecem. Aos trancos e barrancos, da 1ª à 8ª série, depois de vencer os obstáculos, nossos jovens adolescentes deveriam ganhar um prêmio. Mas, ao contrário, descobrem uma escola pior.”
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Onde tudo começa em termos de educação? Respondo e todo mundo sabe: em casa, em que mostra a importância da família na educação escolar dos filhos. Observem quanto o apoio dos pais faz a diferença. Alunos motivados nos estudos são impulsionados a progredir e, com isso, o conhecimento torna-se instigante. As escolas deveriam sempre estar dialogando com os pais, informando e registrando os avanços e as dificuldades dos alunos. Esse é um meio facilitador para a integração com as famílias. Cria-se um ambiente de reciprocidade, de respeito e de cumplicidade nas escolas.
Nas instituições estaduais - isso deveria ser em todo o País -, o professor-coordenador pedagógico (PCP) é peça fundamental para ativar as relações de sucesso escolar. É ele que faz a ponte entre a escola e a família. Para melhorar o desempenho escolar, são necessários bons exemplos. Nada mais correto que os exemplos familiares.
Não estou "viajando" e muito menos dando asas a elucubrações. Hoje, os jovens têm a escola que merecem. Aos trancos e barrancos, da 1ª à 8ª série, depois de vencer os obstáculos, nossos jovens adolescentes deveriam ganhar um prêmio. Mas, ao contrário, descobrem uma escola pior.
A falta de cuidado é histórica. As turmas de ensino médio são as que se apresentam mais lotadas (chegam a 50 alunos por sala), o conteúdo é mais extenso e específico e os professores não têm preparo para lidar com o estágio de desenvolvimento dos alunos. A qualidade desce ladeira abaixo, ao fim do 3º ano apenas 25% dos alunos sabem o conteúdo de língua portuguesa e 10% o de matemática. Observem que, entre 10 milhões de alunos entre 15 e 17anos, só metade está no ensino médio. Da outra metade, 1,8 milhão de discentes desistiram de estudar e 3,5 milhões continuam presos aos obstáculos do ensino fundamental.
A quantidade assustadora de analfabetos deste nosso País muito nos entristece, pois são alienados. Nem sempre um povo leitor interessa a um governo - tomara que não seja o nosso caso -, pois quem lê é informado e vai votar com relativa lucidez. Ler e escrever faz parte da cidadania.
No mais, parece que está nascendo a escola da violência. Alunos - será que são alunos? Na realidade, são verdadeiras gangues que se digladiam quase diariamente nas ruas de Belém. Aluno de 15 anos que mata um de 13 com quem havia discutido na hora do recreio por causa de zombaria. Não faz muito tempo, pelo mesmo motivo uma aluna tirou a vida de outra. Esses dois últimos assassinatos aconteceram em escolas de ensino fundamental. Sabe-se também que as drogas estão presentes nas escolas (principalmente ao término das aulas) e muitos alunos menores de idade, são encontradas com a farda do colégio em estado de embriaguês espalhados pelas nossas praças e bares da redondeza. Será essa educação de conveniência que merecemos?

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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