Wanzeller vai hoje ao MPE. Vai como Wanzeller ou Ofélia?

Até o final da tarde de ontem, estava confirmada – confirmadíssima – a presença logo mais, às 10h30, no Ministério Público do Estado, do ex-diretor do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves, Miguel Wanzeller Rodrigues.
Exonerado na semana passada pela governadora Ana Júlia Carepa, Wanzeller saiu fazendo denúncias que o apontavam como um homem bomba. Bastaram umas 48 horas, no entanto, para que seus tiros verbais se revelassem de festim- se muito.
O que se prenunciava como uma bomba de altíssimo potencial destrutivo era a denúncia de Wanzeller de que as delegacias de polícia manipulavam, fraudavam laudos emitidos pelo CPC Renato Chaves.
Mas tudo não passou de um festim.
Até agora, Wanzeller não conseguiu demonstrar uma só evidência do que disse. E caiu no descrédito – no completo descrédito. Suas bombas verbais não apenas revelaram uma verborréia de festim como ainda deixaram a impressão de que o ex-diretor pretendia mesmo era fazer uma encenação qualquer que levantasse uma cortina de fumaça sobre vários procedimentos suspeitos na gestão dele próprio à frente do CPC.
As suspeitas vieram na forma de um relatório devastador da Auditoria Geral do Estado, que precisou apenas de 20 dias para colher, num mero trabalho de amostragem, evidências concretas de superfaturamento de preços na locação de veículos, indícios de montagem de processos de dispensa de licitação, desídia administrativa e falta de planejamento, entre outras cositas.
E hoje?

Ex-diretor disposto a “abrir a boca”
Hoje, no Ministério Público do Estado, Wanzeller tem a grande oportunidade de tornar-se o homem bomba que ele, ao que tudo indicava, viria a ser mas não foi.
Tem a grande oportunidade de oferecer ao Ministério Público dados consistentes sobre supostas irregularidades que viu, comprovou, registrou, reclamou e não teve seus pedidos de providências satisfeitos.
Isso é que é importante: Wanzeller deve dar demonstrações evidentes de que não apenas as irregularidades aconteceram, mas que ele próprio, como funcionário público, teve conhecimento delas, comunicou seus superiores hierárquicos e estes eximiram-se de adotar as providências pertinentes para saná-las ou então esquivaram-se de acionar as instâncias responsáveis para apurar as transgressões apontadas.
O Espaço Aberto apurou, no início da noite de ontem, que Wanzeller estava disposto “a abrir a boca”, segundo afirmou uma fonte. E faria isso porque flagrou-se a si mesmo na situação desconfortável de ser um denunciante que acabou se transformando em alvo de denúncias.
Pois que Wanzeller abra a boca e desembuche.
Mas tomara que, ao abrir a boca, não seja a Ofélia.
Ofélia?
Sim, a Ofélia.
Lembram-se da Ofélia, aquela que só abria a boca quando tinha certeza?
Pois é.
Ofélia, a personagem inesquecível, era a única que acreditava que não estava falando bobagens, patranhas.
Ofélia era a única que acreditava não estar sendo a Ofélia.
Tomara, então, que o dr. Wanzeller seja ele mesmo, e não a Ofélia.
Tomara.