Na FOLHA DE S.PAULO:
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu ontem à alegação de que a saída do delegado Protógenes Queiroz, que comandou as investigações da Operação Satiagraha, da Polícia Federal, ocorreu por intervenção do governo. Lula defendeu que ele permaneça à frente do inquérito até que o relatório siga para o Ministério Público.
Apesar da reação, Lula e a cúpula do governo não queriam que Protógenes continuasse à frente da segunda fase das investigações. A PF pressionou pela saída dele do caso. A idéia era que ele encerrasse a fase atual e, depois, fosse removido do inquérito. Só que o delegado decidiu precipitar sua saída e divulgou reservadamente que foi afastado por pressão política. Queiroz não foi localizado ontem pela Folha.
A amigos o delegado reafirmou que ele foi retirado da operação. Segundo Queiroz, basta ouvir a fita na qual foi gravada a reunião de segunda-feira na Superintendência da PF em São Paulo para comprovar que ele e os delegados Karina Souza e Carlos Pellegrini foram expurgados. Em vez de discutir os novos rumos da operação, de acordo com Queiroz, só houve no encontro reclamações da cúpula por causa de supostos excessos cometidos durante a ação.
Lula classificou a versão da pressão como "mentira".
"Quem contou essa mentira, que foram pressionados, espero que desminta. Ninguém pode fazer o trabalho que ele [Queiroz] fez por quatro anos e, na hora de terminar o relatório, dizer que vai embora. Tem que ficar no caso. Vender insinuações à sociedade é que não é correto. Nem para o presidente da República, muito menos para um delegado da PF."
A Folha apurou que o delegado disse que não poderia voltar atrás de algo que ele não decidiu. Para ele, Lula não conhece toda a situação do caso. Ontem, em tom irritado, o presidente afirmou que a reunião em São Paulo foi gravada com o consentimento de todos os participantes. No encontro, disse Lula, Queiroz teria dito que precisava sair das investigações ou então que, se continuasse, só poderia trabalhar nos finais de semana. Lula chamou de "atuação de má-fé" vender a idéia de que não quis deixar o caso, mas foi obrigado a isso. Para ele, Queiroz só não voltará à operação se disser expressamente que não quer.
"Moralmente, esse cidadão tem de continuar no caso até terminar esse relatório e entregar ao Ministério Público e, depois, então, ele pode se afastar. A não ser que não queira e diga publicamente e espontaneamente que não quer."
Lula disse que a operação que levou às prisões do banqueiro Daniel Dantas, do ex-prefeito Celso Pitta e do investidor Naji Nahas tem que ser tratada com responsabilidade.
"É um processo sério, envolveu gente, as pessoas foram para a TV. Então é preciso que tenha logo relatório definido para que se peça ou não o indiciamento dessas pessoas. A única coisa que nós queremos nesse caso é responsabilidade."
Antes das falas de Lula, o ministro Tarso Genro (Justiça) já havia dito que a troca no comando do inquérito não interromperia investigações. "A substituição do delegado não interrompe nenhuma variante que saia desse inquérito para outras investigações se o material colhido apontar a necessidade de que isso ocorra."
Segundo o ministro, as pessoas que hoje classificam a saída de Queiroz como uma operação abafa do governo vão mudar de opinião. "O delegado manifestou, de maneira frontal, em diálogo com seus superiores, a sua vontade de sair."
As investigações da Operação Satiagraha iniciaram há quatro anos com base em informações da CPI dos Correios. A atuação de Queiroz foi considerada "brilhante" por Tarso, apesar de considerar que ocorreram equívocos.
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