sábado, 8 de março de 2008

Polícia "não pode entrar batendo", diz Lula

Na FOLHA DE S.PAULO:

O presidente Lula criticou a truculência policial nas invasões de favelas e buscou ressaltar sua identificação com os moradores das comunidades durante as solenidades que marcaram o início das obras do PAC no Alemão, em Manguinhos e na Rocinha.
Ao lado do governador Sérgio Cabral (PMDB) -em cujo governo o número de mortes cometidas por policiais aumentou 27,3% de 2006 para 2007- Lula defendeu "uma intervenção muito pesada do governo, mas não uma intervenção com a polícia, não uma intervenção para fazer guerra, além das guerras que as pessoas já têm".
"[A polícia] não pode entrar batendo em todo mundo. Senão, nós partimos do pressuposto de que todo mundo é bandido até prova em contrário, quando, na verdade, todo mundo é inocente até prova em contrário", afirmou na Rocinha. "Bandido não é para ser tratado com pétalas de rosa, mas a polícia precisa saber que, além de bandidos, têm homens, mulheres e crianças que só querem viver condignamente", disse no Alemão.
Nos discursos, ele buscou reforçar a identificação entre ele e os ouvintes. "Eu sou filho de uma mulher que nasceu e morreu analfabeta, sou filho de uma mulher que morou em lugar que dava enchente de 1,5m dentro de casa. Acordava à meia-noite com rato, barata, fezes dentro do quarto", discursou Lula em Manguinhos.
Lula foi muito aplaudido pelos moradores nas três ocasiões em que abordou a violência policial. Perto dos locais das cerimônias, faixas pediam paz.
Aos jovens Lula disse que o desemprego não é razão para trabalhar para a bandidagem. Disse que, na infância, teve vontade de roubar uma maçã para comer, mas resistiu para não envergonhar a mãe.
Na Rocinha, o presidente da União Pró-Melhoramentos da favela, Luiz Cláudio Oliveira, pediu um minuto de silêncio em homenagem a Ágata Marques dos Santos, 11, morta no dia 15 -segundo os pais, pela polícia, que nega. Todas as autoridades ficaram de pé. Lula soltou uma pomba branca.
No Alemão, bandeiras e balões brancos simbolizavam o que desejam os moradores, ainda abaladas pelo ocorrido em 27 de junho, quando 19 pessoas, parte delas sem ligação com o tráfico, morreram numa operação com 1.350 policiais.
"Fiquei com 37 crianças dentro de uma casa sem poder sair, das 9h30 às 17h. E elas desenham coisas terríveis, têm muito medo do Caveirão [o blindado da polícia]. Eu espero que o PAC sirva para elas aprenderem que é possível ter esperança", disse Heloísa Ribeiro, que dá aulas em uma ONG.

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