Vale a pena ler este o artigo do analista de sistemas e ex-publicitário Carlos Cardoso, que tem se dedicado aos blogs desde o final de 2005. Confira.
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Estava matutando sobre a birrinha de sempre de alguns jornalistas (mea culpa: vamos parar de generalizar, há excelentes jornalistas que não morrem de medo do Futuro) e percebi que há dois fenômenos diferentes acontecendo aqui:
Um são os veículos, que demoram muito a entender as mudanças tecnológicas, principalmente quando são acompanhadas de mudanças sociais, comportamentais. Essa coisa de mídia colaborativa pegou todo mundo de surpresa.
Outra coisa são os profissionais. Assumindo que sempre haverá espaço para gente boa, o que leva alguns representantes dessa gente boa (notem que estou excluindo os medíocres. Não me culpem, reclamações com C. Darwin) a ficarem tão presos a um modelo arcaico?
Existe o fenômeno do pedestal, é muito bom o cara pagar um de Bozó, dizendo “trabalho na Globo”, “Escrevo pra Folha”, etc. Mas será isso mesmo o único motivo para essa birra com a Nova Mídia?
O grande problema com a nova mídia é que ela é de mão-dupla. E bota a cara na janela. Nos velhos tempos (ou ontem, se você trabalha no Estadão) era fácil esconder-se atrás da fachada da empresa, toda a responsabilidade ia para O Jornal. Da mesma forma todas as críticas são devidamente filtradas.
Não como blogs, onde em geral, caso o sujeito não xingue nossa mãe, deixamos o comentário no ar, por mais idiota e ofensivo que pareça.
Comentários de blog devem parecer um horrível pesadelo para quem edita sessão de cartas de jornais, onde os textos são escolhidos a dedo, cortados, mutilados (ou “editados”, como dizem) e dependem da ENORME boa-vontade de alguém, para ir ao ar.
Já nos blogs não há esse controle. Mais ainda; na INTERNET não há esse controle, daí o medo da Grande Mídia e dos Maus Profissionais. Aqui eles podem ser criticados abertamente. Se um jornalista fala uma besteira no Globo, fica por isso mesmo, exceto se for algo MUITO grande. Se um blog fala alguma besteira, meia-dúzia de leitores aparecerão apontando o erro.
E jornalista ODEIA ser pego de calças arriadas, estamos cheios de exemplos onde discreta e silenciosamente corrigem textos, sem admitir o erro anterior. Acho que o recurso tipográfico indicativo de correção é mundano demais pra esses sites sérios.
Não percebem que estamos no mesmo barco. NÓS dos blogs vivemos a mesma realidade. Somos patrulhados, no bom e no mau sentido o tempo todo. Estava conversando outro dia com o Beto Largman, e ele estava preocupado com a credibilidade dos blogueiros. Expliquei que não precisava se preocupar, nós somos muito mais vigiados (no bom sentido) do que a velha mídia, que já é considerada corrupta por natureza, e de onde nada se espera é que não sai nada mesmo. Nossos leitores nos encaram como uma alternativa a uma mídia repleta de vícios e práticas questionáveis. Isso é bom. Mesmo quando é ruim.
Esse mundo onde todo mundo é questionado o tempo todo, onde não importa se você é O Maior Jornal do Pais, desde 1891, onde importa apenas a coerência da sua notícia, e onde sua credibilidade está em jogo a cada texto, esse mundo não é atraente para todos, mas esse é o mundo do futuro, e o futuro está na esquina, já.
O que os dinossauros temem, eu percebo, não é a concorrência dos blogs, mas os leitores, que estão descobrindo que é muito melhor um relacionamento de mão-dupla do que a velha mídia que se acomodou em sua posição de arbusto flamejante escrevendo em uma pedra com raios.
Eu sei que na versão bíblica do mito não há raios, mas a imagem do filme do Charlton Heston é muito melhor.
Fonte: Comunique-se
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