Na FOLHA DE S.PAULO:
Em uma alegoria de eleição cuja monótona naturalidade caberia em alguma das obras-primas satíricas do escritor russo Nikolai Gogol, a Rússia elegeu ontem o jovem Dmitri Anatolievitch Medvedev, 42, como presidente da segunda potência nuclear mundial.
Nada foi surpresa. Como num conto de Gogol, o absurdo tomou ares de cotidiano: até a proporção de comparecimento às urnas saiu conforme o previsto pela Comissão Eleitoral, e, por extensão, pelo Kremlin. Oficialmente, cerca de 65% dos 109 milhões de eleitores consagraram Medvedev, provando, pela presença, a eficácia da campanha oficial -resta saber a lisura de tal empreitada.
Segundo a pesquisa de boca-de-urna do Centro de Pesquisa de Opinião Pública de Toda a Rússia, o vice-primeiro-ministro e candidato do Kremlin recebeu 69,6% dos votos -sondagens pré-eleitorais lhe davam mais ou menos isso.
Com 90% da apuração concluída, o número aproximado era o mesmo, mas faltavam urnas das regiões mais populosas.
Na apuração, o comunista Gennadi Ziuganov era o segundo, com entre 15% e 20% dos votos, e o ultranacionalista Vladimir Jirinovski tinha de 10% a 15%. Andrei Bogdanov (Partido Democrático), o mais folclórico personagem do teatro de absurdos do pleito, teve 1%.
O vencedor, portanto, foi o regime de Vladimir Putin, presidente interino em dezembro de 1999, eleito em 2000 e reeleito quatro anos depois. Um cínico aliado e dependente do Ocidente, Putin não caiu na tentação chavista de tentar mudar a lei e permitir mais reeleições que a única regulamentar. "Isso levaria a uma condenação do Ocidente, tudo o que ele não quer", diz o cientista político Boris Kagarlitski.
Sobram as denúncias de fraude anteriores e durante o pleito, sobre as quais o presidente da Comissão Eleitoral, Vladimir Churov, deu o veredicto: são apenas interferência estrangeira. Não havia nenhuma delegação grande de observadores ocidentais.
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