sábado, 15 de março de 2008

Evasão na Uepa no interior vai a 60%

De um Anônimo, sobre o post Disputa na Uepa faz estragos no interior do Estado:

Sou professor efetivo há 10 anos desta Universidade, atualmente estou Coordenador de curso que tem várias turmas no interior e concordo apenas parcialmente com o que foi manifestado pelo Servidor Temporário.
Não há dúvidas que o impasse das eleições na UEPA tem prejudicado muitas atividades, mas daí afirmar que a interiorização é ÓTIMA é um exagero. São inúmeras as dificuldades para se fazer esses cursos no interior, muitos criados antes mesmo de serem consolidados em Belém. O índice de evasão é alto, ultrapassando 60% em muitos casos. A exceção de núcleos como Conceição do Araguaia e Santarém onde existe um corpo mínimo de professores fixos que conseguem por resignação dotar os cursos de melhor qualidade, a maioria dos núcleos funciona como escolão. Ensino de qualidade questionável, sem nenhuma pesquisa e extensão.
Isso ocorre por que a criação da grande maioria dos cursos e campi do interior foram decididos por critérios políticos e não sócio-econômicos como deveriam. Os coronéis (Nilson Pinto, Gerson Peres, entre outros) que deram as cartas nos últimos 12 anos na instituição usaram como puderam sua estrutura para eleger seus apadrinhados e a si próprios. Os núcleos em geral tem bons prédios, mas falta vida acadêmica.
A realidade hoje é que para muitos cursos faltam professores, estes "heróis itinerantes" que muitas vezes são assaltados nas estradas, sem direito a seguro de vida, alimentação e alojamento condizentes. O regimento da UEPA estabelece que deslocamentos a distâncias superiores a 500 km devam ser feitos via aérea, mas nenhum professor de graduação que eu conheço conseguiu este direito. O Núcleo de Igarapé-Açu funciona dentro de um galpão ou melhor "fornão", espaço que antes era usado para guardar adubos. Tenho a convicção que a interiorização é muito importante e estratégico para o estado, só que da forma como foi conduzida até hoje, serve mais para discursos políticos do que para engrandecimento da comunidade local.
Por fim, apesar do desgaste, acredito que o momento que a UEPA está vivendo é um mal necessário, sou favorável um reitor temporário e uma nova eleição que passe a limpo os esquemas fraudulentos e os regimentos feitos sob encomenda. A UEPA pode ficar o tempo que for necessário no "caos" mas que saia deste processo amadurecida em sua política acadêmica.

2 comentários:

Anônimo disse...

Sou professor da UEPA há mais de vinte anos e inicie minha carreira docente no projeto de interiorização da UEPA. Sabemos da importância que é interiorizar a educação superior num Estado enorme e cheio de carências como é o nosso. A UEPA está hoje em mais de quatorze municípios, mas infelizmmente este processo de interiorização não foi pautado na qualidade, mas sim em critérios meramente eleitoreiros,normalmente para atender solicitações de determinados políticos que tinham currais eleitorais no interior. Mais de 90% dos professores do interior são temporários e serviços prestados, que não tem chance de se aperfeiçoarem, nem de encabeçar projetos de pesquisa. A maioria dos campi do interior encontram-se hoje isolados e sem nenhuma autonomia. A maioria dos Coordenadores deste campi foram indicados pelo próprio reitor, só em dois destes campi foram realizadas eleições, e nestes dois campi os coordenadores se sentiram livres e apoiaram outra chapa diferente daquela apoiada pelo atual reitor, todas os outros coordenadores, que são cargos de confiança do reitor apoiaram é claro a chapa da situação. Esta política de isolamento e de manter na direção pessoas indicadas e não eleitas pela comunidade, é que permite a grande manipulação que é feita durante um processo eleitoral no interior. A mesma política utilizada por muitos candidatos a outros cargos políticos de isolamento e coação. Isolados não tem acesso a informações importantes acerca da gestão e de outros movimentos políticos de resistência que se organizam na universidade. Tem de se contentar com as informações trazidas pelos próprios gestores, que no inicio da gestão abandonam esta comunidade, mas que próximo a eleição realizam constantes visitas populistas com os recursos da própria universidade, para convencê-los de que todo o possível está sendo feito para melhorar sua situação. Os movimentos de oposição que não estão na gestão tem dificuldade de estar presente no interior, pois não tem condições de estarem viajando com diárias e passagens da UEPA. Também é muito difícil se criar qualquer movimento de oposição no interior pois além da maioria estarem em situação instável no emprego e a qualquer momento poderem ser mandados para rua, podem sofrer também perseguições da Coordenação do Campus que é indicada pela situação. Isto se refletiu no resultado das eleições, pois na capital a chapa Bira e Jofre ganhou de Silvio Gusmão nos três segmentos, no interior ganhou entre professores e alunos, mas a grande maioria dos votos de funcionários que são serviços prestados ou cedidos da prefeitura foram coagidos a votar na chapa da situação, o que gerou o resultado final forjado de vitória do candidato da situação. Precisamos de um projeto de interiorização que prime pela qualidade de seus cursos, onde a pesquisa além do ensino também seja interiorizada, que realmente permitam um desenvolvimento mais igualitário entre as diversas regiões do estado do Pará,e que também seja democratizado, para que seus coordenadores todos sejam eleitos, para que a maioria dos trabalhadores destes campi sejam efetivos da universidade, para se sentirem livres de coação para votarem conscientemente nos gestores desta instituição.

Poster disse...

Anônimo,
Isolamento, indicações políticas, manutenção de castas e tudo o mais só perduram porque a comunidade universitária quer e deixa.
Se não quisesse e não deixasse, isso já teria mudado.
De qualquer forma, sua avaliação merece respeito por estar fundamentada.
Amanhã, domingo, o blog vai postá-la na ribalta.
Abs.