terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Monstro confessa


No AMAZÔNIA:

“Não sou esse monstro. Agi por impulso”. A afirmação é do ex-militar do Exército André Barbosa, de 26 anos, o homem que a Polícia Civil aponta como o matador de três adolescentes, entre dezembro de 2006 e março de 2007, nas matas da estrada da Ceasa. Detido na tarde de domingo, ele também é acusado de atacar, na semana passada, um garoto de 11 anos, que conseguiu fugir. André confessou todos os crimes. Ao ser apresentado à imprensa, ontem à tarde, o acusado disse ter se arrependido dos assassinatos dos adolescentes, cujas famílias ele conhecia. Os parentes das vítimas, porém, nunca suspeitaram do ex-militar. 'Foi um momento de fraqueza, agi sem pensar', completou André, durante a tumultuada e rápida entrevista aos jornalistas.
Na entrevista, André Barbosa disse que matou os três garotos, mas não soube explicar os próprios atos. 'Não consigo obter resposta para isso. Estou arrependido'. O ex-militar também não fez comentários sobre os abusos sexuais sofridos pelas vítimas. E pediu perdão aos parentes dos meninos por ter 'traído a confiança deles'. Usando um colete do Grupo de Pronto-Emprego (GPE), e escoltado por policiais dessa unidade da Polícia Civil, André não quis dar mais declarações aos repórteres e foi retirado do auditório da Delegacia Geral de Polícia Civil.
A Polícia Civil divulgou detalhes da confissão de André, que nasceu na cidade paulista de Guarujá, é solteiro e revelou que, na infância, foi abusado sexualmente. Ele contou que veio para Belém com três meses de nascido, sendo criado por uma família no bairro do Guamá. Só conheceu a mãe biológica, que hoje viveria fora do País. Não conheceu o pai. André disse que não completou o nível médio, mas serviu ao Exército em 1999. No Exército, aprendeu a fazer vários tipos de nó em cordas. André Barbosa contou aos policiais civis ter sido violentado sexualmente várias vezes quando tinha de seis para sete anos de idade, por um homem que se chamava 'Max'. Esse homem teria sido morto por causa de problemas com traficantes de drogas, no bairro do Guamá.
De acordo com André, 'Max' lhe dava linha e papagaios (pipas) para brincar. Ele contou que, toda vez que era violentado, 'Max' ameaçava matá-lo, caso contasse a história para alguém. André Barbosa revelou que conhecia os três adolescentes que matou. Ele confirmou que freqüentava a mesma 'lan house' à qual as crianças compareciam, na avenida José Bonifácio, de nome 'Fox' e que foi fechada depois das mortes das crianças. Também passou a freqüentar a 'lan house' de nome 'Big Boi', naquela mesma avenida.
André Barbosa contou que, para convencer os garotos a sair com ele, oferecia dinheiro para que tomassem conta de sua bicicleta, enquanto faria um jogo em uma casa lotérica, em frente ao colégio Paulo Maranhão, também na avenida José Bonifácio. Segundo os policiais, ele sempre usava a desculpa de que já lhe tinham roubado uma outra bicicleta. Depois, levava os meninos para as matas da Ceasa. Sobre as mortes, André Barbosa contou que tinha muita confusão na cabeça e ouvia 'vozes'. E que, depois, deparava-se com as crianças mortas. André Barbosa também afirmou que, durante a noite do dia de cada crime, ficava em desespero e que, quando via os noticiários sobre as mortes, não acreditava que ele tivesse cometido os crimes, apesar de se lembrar de todos.
Também explicou com quais golpes dominava as vítimas: 'triângulo', 'arm lock' e 'guilhotina' e um outro que aplicava pelas costas dos adolescentes, de nome 'mata-leão'. André contou ainda que todas as mortes foram causadas por estrangulamento, usando cordas de náilon. Ele disse que estrangulava quando os garotos já estavam desacordados e que agia sozinho em todos os crimes. Os policiais também quiseram saber a razão pela qual os assassinatos eram praticados entre dezembro e março. André disse que essa era a época em que via os filhos reunidos com as famílias, por causa de festas como o Natal e o Ano-Novo. E, por ter sido adotado, ele não estava com os pais biológicos nessas datas especiais, e sim com os adotivos. Sobre a idade das vítimas que atacou, entre 11 e 15 anos, disse que não as escolhia pela idade, mas que o fazia de forma aleatória.


Investigação já apontava para o ex-soldado do exército


O delegado Paulo Tamer informou que, nos últimos 11 meses, a força-tarefa que investigava as mortes dos três adolescentes traçou o perfil do provável criminoso. E também o perfil de suas vítimas.
Os policiais, explicou ele, também sabiam que o matador em série agia em determinados períodos, entre dezembro e março. E, por essa razão, a força-tarefa não descartava a possibidade de um novo ataque nessa época, tanto que isso ocorreu na semana passada. Ainda conforme Paulo Tamer, o acusado, no ataque ao menino de 11 anos, apenas mudou o local do crime, mas manteve a mesma forma de atrair suas vítimas. O delegado acrescentou que as investigações vão continuar, até para se verificar se o ex-militar matou outros adolescentes, agindo, por exemplo, no interior do Estado.
Segundo o delegado geral Justiniano Alves, o serial killer deixava 'assinaturas' no cenário dos crimes: a posição das sandálias dos garotos, a posição do corpo, os meninos despidos da cintura para baixo. Justiniano acrescentou que André é inteligente, tentou manipular as investigações, lê muito sobre a Segunda Guerra Mundial e se disse fã de Adolf Hitler, o tirano responsável pelo extermínio de seis milhões de judeus.
O delegado Paulo Tamer disse que, no decorrer do trabalho da força-tarefa, André apareceu nas investigações. E que faltava apenas o 'momento certo' para capturá-lo. Ele explicou que as investigações começaram com um 'leque, que virou um funil'. Ainda conforme o delegado, o acusado confessou ter sido abusado sexualmente dentro do mato, tudo conferindo com o perfil elaborado pela força-tarefa, de que o criminoso tinha um histórico de violência sexual. 'Era questão de tempo a gente fechar as investigações', afirmou.
Conforme Paulo Tamer, o acusado acompanhava o noticiário sobre os crimes e sabia que a polícia estava em seu encalço. 'Ele sabia que seria pego, pois sentia a presença da polícia', afirmou. Ao levar as crianças para a mata, o acusado reproduzia o ódio que sentia por ter sido violentado sexualmente. No entanto, embora admita seus crimes, André não fala sobre a violência sexual que pratica. Nessa parte, ele diz dar um 'branco', afirma o delegado Tamer.


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