Lola deixou várias perguntas sem resposta

O ex-secretário calou-se várias vezes quando perguntado sobre coisas do governo Duciomar. Mas deixou pistas. Muitas. Basta ir atrás delas.

William Lola, o ex-secretário municipal de Saúde que “entregou” o prefeito Duciomar Costa ao Ministério Público Federal, falou muito quando foi ouvido a respeito da compra e da destinação de veículos adquiridos com verbas da Saúde. Mas deixou várias perguntas sem resposta. Calou-se em vários momentos ou por conveniência, ou por temores não revelados, ou por não dispor mesmo de informações.
Não quis informar, por exemplo, se no dia 12 de janeiro de 2006, dia do aniversário de Belém, foram apresentados veículos da Guarda Municipal de Belém (GBEL) durante a solenidade oficial de comemoração, ocorrida em frente ao Palácio Antônio Lemos, sede da prefeitura, e que contou com as presenças de Duciomar e da maioria de seus secretários, Lola inclusive.
Afirmou que não soube que algumas viaturas tinham sido desviadas da Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) para a Guarda Municipal, muito embora tenha confirmado que foi delegada a Carlos Cunha – ligadísimo à chefe de Gabinete da prefeitura, Sílvia Randel -, por determinação do próprio Duciomar, a tarefa de retirar os veículos do pátio da concessionária Fiat, competência que normalmente seria da próprio secretário de Saúde. Durante o depoimento que prestou, Lola disse apenas que só foi tomar conhecimento pela Imprensa de que alguns veículos que haviam sido adquiridos pela Sesma, com dinheiro da saúde, foram transferidos para a Guarda Municipal.
Lola preferiu ficar em silêncio quando lhe perguntaram como 15 veículos da Sesma poderiam ser recebidos pela secretaria e ter sua finalidade desviada e a quem competiria autorizar a adesivação de veículos com a logomarca apropriada. Também deixou sem resposta a pergunta sobre a quem competiria, no âmbito da Sesma, acompanhar o efetivo uso dos veículos.

Regra na licitação
William Lola igualmente calou-se quando lhe indagaram como 16 dos veículos, embora adquiridos e recebidos pela Sesma, receberam adesivos da GBEL e tiveram seu uso desviado.
O ex-secretário explicou que, pelo menos enquanto integrou a administração municipal, existia uma regra na prefeitura determinando que licitações com valor acima de R$ 8 mil só poderiam ser feitas pela Comissão Permanente de Licitação (CPL) do gabinete do prefeito. Diante disso, conforme justificou, como não teve conhecimento do valor cobrado pela afixação de adesivos nos carros, não poderia responder se foi a própria Sesma que se encarregou da contratação de tais serviços. Lola calou-se novamente quando perguntado se a Sesma utilizou motocicletas adquiridas por meio de um processo licitatório.
Toda fonte tem suas conveniências, claro. No caso Watergate, Mark Felt, o Garganta Profunda que ajudou a demolir o governo Nixon, muitas vezes – ou na maioria das vezes – não entregava as informações de bandeja aos repórteres Carl Bernstein e Bob Woodward. Indicava-lhes apenas caminhos, pistas, sinais, indícios que poderiam conduzir à verdade que os jornalistas buscavam. Pois William Lola fez o mesmo. Informou muito e deixou outras pistas. Convém ir atrás delas. E há gente que está indo atrás.