ISMAEL MORAES – advogado socioambiental
Enfim, os Ministérios Públicos resolveram
responder às “notas oficiais” publicadas pela multinacional Norsk Hydro acercada sua paralisação, por ela se sentir a prima-dona da economia do Pará – e por
ter o governo Jatene, com sua proverbial incompetência e corrupção, como refém
de suas vontades.
Causou espécie quando, por ocasião da assinatura
do TAC, a mineradora norueguesa publicou que as autoridades (inclusive MPs)
concluíram que não ocorreu vazamento e que suas instalações estavam licenciadas
e sem irregularidades, mas mesmo assim a Força Tarefa dos MPs manteve-se
calada, não desmentiu as afirmações.
Só agora, depois de tentar se passar por vítima
de novo, sugerindo que a causa da sua paralisação deve-se a alguma
intransigência das autoridades (a Turma de Direito Penal do Tribunal de Justiça
do Pará foi decisiva na proteção dos interesses difusos e coletivos da
sociedade paraense) é que o MP responde por meio de uma nota curta e grossa,
mas que resume com perfeição o estado de inacreditável irregularidade como
funcionava o Grupo Norsk Hydro no Pará, com uso de canais, dutos, drenos e
galerias clandestinas para despejo diário e diretamente, sem tratamento, de
rejeitos químicos e resíduos sólidos nos rios da região, inclusive com risco às
aguas que abastecem a população de Belém, flagrados por vistoria de Peritos
Criminais e de cientistas do Instituto Evandro Chagas, órgão do Ministério da
Saúde responsável pela vigilância sanitária e ambiental sob o aspecto da saúde
humana.
A Hydro entende que pode trocar os empregos que
oferece pela saúde e pela vida de mais de 100 mil pessoas, na lógica nazista de
campo de extermínio herdada dos tempos em que produzia óxido de deutério,
insumo fundamental para a fabricação de bombas para a indústria militar de
Hitler durante a Segunda Guerra Mundial (ver o excelente
www.youtube.com/watch?v=s1MxX-6cxuE), até que os norte-americanos destruíram
essas instalações da Norsk Hydro. Mas ela ressurgiu...
Será que essa será a última patacoada da Hydro?
Desde que foi flagrada, ela protagonizou tanta
palhaçada que é difícil acreditar que seu estoque de criatividade em passar
pelo ridículo tenha se esgotado: primeiro negou as irregularidades, mas
confrontada com fatos irrespondíveis, acabou admitindo os crimes pela boca do
presidente mundia da empresa, o norueguês Svein Brantzaeg... mas eis que, logo,
após voltou a negá-los, como se nada tivesse acontecido!
Quando se pensava que isso seria o limite,
ajuizou uma ação contra o Ministério Público acusando-o de estar utilizando
laudos e pareceres “falsos” do Instituto Evandro Chagas, que é uma das
instituições científicas mais importantes do Mundo, referência internacional de
estudos de saúde humana. Na CPI da Alepa que investigou as atividades
delituosas da mineradora, a Norsk Hydro apresentou uma “consultoria”, que não
resistiu aos interrogatórios, e cujos “pesquisadores” admitiram ser
fraudulentos os resultados apresentados para confrontar as conclusões do
Instituto Evandro Chagas e do Laboratório de Química Analítica da UFPA.
Agora, não mais que de repente, a Hydro tenta
mais um golpe, buscando uma espécie de “extorsão”, afirmando que está sendo
impedida de funcionar sem que haja motivos, por intransigência do Poder
Judiciário e do MP, e que isso causará o desemprego de milhares de pessoas.
A Hydro faz isso não apenas porque conta com
mais do que a cumplicidade das autoridades ambientais do Governo do Pará – a
relação está comprovada de ser de co-autoria, as autoridades do governo Jatene
são verdadeiros comparsas no grande rosário de práticas nocivas à sociedade
paraense.
A
Hydro faz isso também porque os MPs, inexplicavelmente, continuam mantendo
impunes os executivos da mineradora norueguesa, e essa sensação de estar acima
das leis faz com que eles sigam no espetáculo de Vaudeville, em que não apenas
os membros do parquet são expostos, mas em que toda a nossa cidadania é
apresentada como o palhaço principal nesse circo de horrores.
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