segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

O Utinga, a Sema, a foto e o cúmulo da imbecilidade



Espiem só a foto lá do alto.
Foi feita com um celular, pelo repórter aqui do Espaço Aberto.
Mostra o Lago Bolonha, que fica no interior do Parque Ambiental do Utinga.
Agora, espiem só a imagem acima.
Mostram algumas fotos da mesmíssima área. Para ver outras trocentas e tantas, clique aqui e você vai constatar que elas aparecem no Google  Imagens, quando se escreve, no campo de buscas, simplesmente Parque do Utinga.
Muito provavelmente - ou quase certamente - as fotos que aparecem no Google Imagens foram feitas também com telefones celulares.
E aí?
E aí, meus caros, que no Parque Ambiental do Utinga, você pode passa a mão no seu celular e tirar fotos dos lagos Bolonha e Água Preta, os dois mananciais que abastecem Belém.
De posse de um celular, você pode, folgadamente, fazer fotos e vídeos de pacas, tatus, onças, leões, rinocerontes, das flores e dos matagais, enfim, de tudo o que seja selvagem, intocado, intocável, preservado e preservável que existe naquela bela paragem.
Pois é.
Mas não caia na besteira de chegar ao Utinga com uma câmera fotográfica. Não caia.
Se você cair na besteira de chegar ao Utinga com uma câmera fotográfica, você será barrado na entrada.
Será barra na cara, na lata.
Por quê?
Sabe-se lá por quê.
Ninguém explicar ao certo.
E talvez não se explique porque, para imbecilidades tamanhas, qualquer explicação será, igualmente, imbecil.
A barração, acreditem, aconteceu ontem de manhã, com leitor aqui do Espaço Aberto, um psicólogo, que se encontrou casualmente com o pôster à saída do Utinga.
Ele, o leitor, chegou ao parque com uma câmera fotográfica.
Pretendia apenas espairecer, relaxar, fazer algumas fotos do parque, enquanto a namorada pedalava.
Mas não pôde.
Uma segurança disse que era proibido.
- Mas com o celular, pode? - ele indagou à segurança.
- Pode. Mas com a máquina fotográfica, não - respondeu ela.
Diante de tamanha imbecilidade, o pôster, ao saber disso, dirigiu-se a três seguranças do parque, um dos quais a moça que acabara de barrar o psicólogo.
Travou-se mais ou menos o seguinte diálogo - bem sucinto e objetivo, mas nada esclarecedor:
- Amigos, existe algum ato por escrito, uma portaria, um regulamento, enfim, qualquer determinação por escrito estabelecendo que é proibido fotografar aqui no parque com máquina fotográfica? - perguntou o pôster.
- Existe.
- Qual é o ato?
- Senhor, nós não temos o papel aqui.
- Perfeito. Mesmo assim, eu queria saber: com câmera de fotografia não pode tirar fotos aí, mas com celular pode. É isso?
- Pois é... - responde um dos seguranças, tentando disfarçar a própria vergonha de cumprir uma determinação sem fundamento, tão estapafúrdia, e não saber como explicá-la.
Até que a segurança - a mesma que barrou o psicólogo - intervém:
- Senhor, deixe eu lhe explicar: aqui tem uma hierarquia. Nós cumprimos ordens. E a ordem que nos foi dada é de que não podemos deixar ninguém entrar com máquina fotográfica.
- Minha amiga, mas vocês mesmos estão dizendo que eu posso entrar com celular e tirar fotos aí dentro.
- Pois é, mas a questão é hierarquia. De qualquer forma, o senhor tem razão. Nós precisamos ter essa ordem por escrito para mostrar a quem vem aqui caminhar - admitiu a segurança.
É assim.
O que explica a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) sobre isso?
Não se discute o poder de polícia da secretaria - ou mesmo da Cosanpa, sei lá - em administrar o Parque do Utinga.
Mas o poder de polícia não pode ser exercido de modo voluntarioso, esdrúxulo, imbecil e despropositado, impedindo-se o uso de imagens com câmeras fotográficas, mas permitindo, amplamente, o uso de celulares.
Pode isso?
Não pode.
Mas no Parque do Utinga, por decisão da Sema - segundo disseram ao blog os próprios seguranças -, isso é plenamente possível.
Vish!

11 comentários:

Anônimo disse...

Deve ser medo de uma invasão marciana!

Anônimo disse...

Deve ser a razão pela qual turista passam bem longe dali.

Anônimo disse...

Deve ser "órdis çuperioris"...

Anônimo disse...

A cara de Belém.
Ordens de autoridades esdrúxulas, funcionários públicos pífios e retrocesso na exploração ambiental e turística.
Aguardaremos ansiosos o pronunciamento da SEMA sobre o assunto.
Se eu fosse fotógrafo, chamava uns 15 colegas de trabalho para uma visita no Utinga. E, caso fossemos barrados, fazia um ensaio fotográfico dessa cômica situação, dos funcionários públicos impedindo que câmeras fotográficas entrem no Parque Ambiental.

Anônimo disse...

A única explicação que vejo é que, se a norma realmente existe, talvez ela seja antiga, na época em que celulares não faziam fotos. E como não foi revogada, estão levando a interpretação ao pé da letra.

Ismael Moraes disse...

Bemerguy, veja o que aconteceu comigo: há uns dois meses, um amigo francês acompanhava outro que fazia um documentário sobre florestas em áreas urbanas na Amazônia e que deixara de ir a Manaus para filmar em Belém. Ao me procurarem, assegurei-lhes que o local mais importante para mostrar era o Parque do Utinga, onde os levei no início de uma bela tarde. Em lá chegando, o guarda também nos impediu de entrar com a filmadora, argumentando que havia uma ordem, que ele não sabia qual e de quem partira. Fui ter com a direção da administração do Parque, a poucos metros dali. O gerente do Parque não estava e a substituta saíra-se com aquele clássico “não posso fazer nada” – detalhe, ninguém sabia qual era a norma que impedia a nossa incursão com a câmera. Após insistir, colocaram-me com ele ao telefone, que então me narrou qual o longo trâmite burocrático para permitirem a entrada ali com o aparelho de filmagem, que se iniciava com uma petição e terminaria com uma reunião que apreciaria o deferimento ou não do pedido. Ao que concluiu o gerente, de nome Vitor: “Isso não é assim, não, aqui é uma Unidade de Conservação de Proteção Integral!”.
Não conformado, procurei saber se ali se encontrava o Diretor-geral das Unidades de Conservação, Crisomar Lobato, cujo bom-senso peculiar é reconhecido por todos que o conhecem. Recebeu-me, mesmo cercado de papéis a despachar. Ao ouvir o que ocorria exclamou “Mas que bobagem! Fulana, vem cá. Acompanha essas pessoas até o guarda e diz que ele está autorizado a entrar e filmar o Parque por ordem minha!”
Acompanhei a filmagem da floresta, do lago, das fezes de capivara, de bandos de aves, e seria tudo de muito bom gosto se na rotuladamente garbosa “Unidade de Conservação de Proteção Integral” os carros da SEMA, os caminhões do Exército, das empresas de construção fazendo reforma e de tantos outros “autorizados” não tivessem nos colocado em risco de nos atropelar por transitarem a até mais de 60 Km/hora, ameaçando a fauna que por ali habita e cruza, sem que o rigoroso gerente Vitor tome qualquer providência para essa salvaguarda que realmente importa, em vez de envergonhar o serviço público, felizmente salvo por gente do bom senso do dr. Crisomar Lobato, que se aponsentará em poucos anos.

Anônimo disse...

Já dizia Albert Einstein: “Só duas coisas são infinitas, o universo e a estupidez humana, mas não estou seguro sobre o primeiro.”

Kenneth

Poster disse...

Ismael, é inacreditável, rapaz!
Simplesmente inacreditável.
Kenneth, se o Einstein incluísse "a ordem esdrúxula de proibir fotos com câmeras fotográficas no Utinga" como a terceira coisa infinita, ele não estaria exagerando. Rss.
Abs.

Anônimo disse...

É verdade, meu caro. Li e reli várias vezes o manual da minha máquina fotográfica. Não consegui achar nenhuma advertência de que tirar fotos com ela, no Utinga especificamente, ao contrário dos celulares, vá espantar a fauna ou descolorir a nossa bela vegetação.

Assim, concordando com Einstein e com você, no adendo feito, só posso chegar à conclusão de que máquinas fotográficas - ao contrário dos celulares - podem ter uma lente "grande angular". É aí que está o medo deles.

A grande angular poderá retratar, in totum, o tamanho da estupidez de quem estabeleceu a proibição.

Kenneth

Anônimo disse...

Deve ser para que os EUA não vejam nossas riquezas. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk quanta estupidez kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk quanta estultice kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk...............

Anônimo disse...

Olá, estou escrevendo em 22/04/2023 e ontem, feriado de Tiradentes, fomos eu e minha esposa fomos pela décima vez ao Utinga, com máquinas fotográficas para observar aves. Porém desta vez ocorreu quase que exatamente a mesma situação descrita no texto de 2014. Depois de entrarmos fomos abordados por uma funcionária que informou que era proibido tirar fotos profissionais para divulgação. Então informamos que nem as máquinas eram profissionais e nem nós fazíamos divulgação, só observávamos e fotografávamos aves por hobby. Não bastaram as explicações, chamou sua supervisora, que repetiu a proibição, insistindo que precisávamos de licença, porém sendo feriado não havia como tirá-la. Queria que nos retirássemos, me neguei e a desafiei a chamar a força policial e nos retirar, pois era um completo absurdo esta proibição. Entramos no parque e cerca de 15 minutos depois fomos abordados por um sargento da polícia em uma viatura, nos constrangeu, visto que eram centenas de pessoas passando, insistindo na questão: máquina profissional e fotos para divulgação. Desafiei-lhe a comprovar que nossas máquinas eram profissionais (visto que são máquinas automáticas, semi-profissionais, sem lentes removíveis) e que usaríamos as fotos para divulgação, se não tivesse como comprovar, estariam nos acusando de algo e nos punindo antecipadamente baseados em que? ... Em nenhum momento e por nenhuma de todas as pessoas envolvidas até este momento veio qualquer resposta plausível. O próprio sargento parecia perceber que a situação era ridícula, então se apegou a uma coisa que disse, sobre ser feriado e não ser possível tirar licença neste dia para nos liberar e ir embora. Seguimos fotografando o restante do dia, mas sob vigilância de alguns funcionários de bicicleta que por outras duas vezes nos abordaram para perguntar: vocês são fotógrafos profissionais? .....

Escrevo isto, com a licença do escritor original, como acréscimo a história, pois o cúmulo da imbecilidade continua sete anos depois, visto que até hoje ninguém consegue explicar o sentido desta proibição ... só acrescento que ontem além dos celulares (que vários deles fazem fotos e vídeos com muito mais qualidade que nossas câmeras) havia também até drone fazendo imagens, milhares de pessoas, centenas de bicicletas, várias com caixas de som ... certamente todas estas coisas muito mais prejudiciais a fauna e flora que qualquer foto. ... A imbecilidade vive e o verdadeiro cuidado com a natureza continua sendo perseguido.