sexta-feira, 13 de janeiro de 2012
Quem quiser ver o peso
Quem quiser ver o peso que tens, que se apresse, não tarde. Veja o peso de tua chuva certeira, transpiração vespertina de nuvens, devolvendo, apressadas, tuas águas ao rio. Veja as mangas que caem sobre o solo, pela manhã, tarde e noite, sem que nos causem fastio.
Quem quiser o ver o peso que tens, veja mais do teu rico pomar. Teu açaí, transportado em paneiros, bebido aos litros o ano inteiro, exportando moda aonde chegar. Veja o peso de teus frutos, cozidos ou crus. Pupunha. Cupu. Bacuri. Tucumã. Graviola. Uxi. Veja seus tons e licores. Prove seu gosto, sabores.
Quem quiser ver o peso que tens, estenda mais um pouquinho a vista. Veja tuas feiras animadas, de pé ainda cedinho. Madrugada carregando farinha e peixe. Verduras. Alimentos de todo sabor. Veja a Ceasa. Batista Campos e Vinte e cinco. Guamá. São Brás. Terra Firme. E a feira batizada de Açaí. Mas não esqueça de ver e rever o peso, que até hoje se confere na mesma hora e lugar.
Quem quiser ver o peso que tens, que se apresse, não tarde. Veja o peso de teu banho-de-cheiro, vendido nas praças no mês de junho. Patchouli e Japana. Raízes e folhas de tuas matas, que invadem a cidade para nos lembrar de onde viemos, o que somos e temos. Veja o peso de tua natureza.
Quem quiser ver o peso que tens, olhe as torres de teus grandes mercados, igrejas e até mausoléus. Veja a Belle Époque presente, no peso dos teus azulejos e telhados dos teus casarões. Palacetes. Palácios. Mansões.
Quem quiser ver o peso que tens, veja a força de teu faustoso teatro, a Casa da Paz. Plantada ali, no meio da praça, para deixar bem claro seu papel. Veja o Bosque e o Carlos Gomes, onde a natureza e a música tocam as notas do Guarany. Veja o Goeldi e o Evandro Chagas. Referências de nossas ciências em fóruns mundiais.
Quem quiser ver o peso que tens, veja o peso de teu nascimento. Presépio de palha, Feliz Lusitânia. Veja logo teu Forte erguido. Canhões. Catedral. Armamento.
Quem quiser ver o peso que tens, veja o peso de teus pratos, do tucupi, e do pato, da maniçoba cheirosa, da cuia cheia de açaí. Tacacá. O peso do jambu, anestesiante e ardente, escondendo a goma queimante, da tapioca inocente que dá nome a sorvete.
Quem quiser ver o peso que tens, veja o peso de tua fé renovada, da caminhada festiva em outubro. Veja o peso do teu pentecoste. Dos elevados Vingren e Berg, missionários da chama que incendiou este Brasil, que multiplicaram seus passos em milhões, pés ardentes pelas coisas do Céu.
Quem quiser ver o peso que tens, que se apresse, não tarde. Veja o peso de teu grande estádio, Mangueirão, de apoteótico perfil. Veja terras, matas e rios, com suas incríveis ilhas de aluvião. Veja teu povo, teu som, teu cheiro, teu chão.
Quem quiser ver o peso que tens, veja o peso de teus dias, pois são poucos para mais um século. Dois. Três. Quatro. 2016, Quadricentenário de Belém. Quem quiser ver o peso que tens, que se apresse, não tarde.
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RUI RAIOL é escritor
www.ruiraiol.com.br
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