terça-feira, 16 de agosto de 2011
A opção pela calamidade
O governo do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, parece vir colecionando mais fracassos. Pelo andar da carruagem, deverá fazer história pelo episódio que os americanos jamais perdoam e acham que sua concessão mais séria foi a sua capitulação aos interesses de Wall Street. Mas o fato de não conseguir manter suas posições nem mesmo em questões de pouca relevância material, mas simbolicamente marcantes, dá a medida certa de sua fraqueza.
Agora, o principal comentarista político, e comediante nas horas vagas, Bill Maher, do canal a cabo HBO, não resistiu quando Washington comemorou, aliviada, a aprovação pelo Congresso de um plano emergencial que estendeu o limite da capacidade do país de pedir empréstimos, evitando o calote histórico da maior economia do planeta.
Pois é, às vésperas de comemorar 50 anos de vida do primeiro negro a comandar a Casa Branca, o apresentador do bastião liberal Real Time desejou ao presidente uma tomada de consciência: “Desejaria que o senhor parasse de agradar aos conservadores. Não vai funcionar jamais”. Os americanos estão cada vez mais céticos e acham que o pior ainda estar por vir.
O desabafo de Maher deu o tom da reação dos setores progressistas a mais um acórdão fechado pela Casa Branca com os republicanos, dessa vez para a aprovação da legislação considerada fundamental para a cada vez mais lenta recuperação econômica. O avanço da direita, que controla a Câmara dos Representantes desde as eleições legislativas no ano passado, começa a se reverter de forma concreta na costura política de Washington.
A bem da verdade, a história acabará culpando Obama por ter deixado o movimento Tea Party, o estridente movimento de direita americana, levar o mundo à Terceira Guerra Mundial. O Tea Party é um movimento tosco e risível, mas Hitler também era. Não será diminuindo o déficit que os EUA sairão da crise. Em lugar de se deixar dobrar de maneira tão patética, Obama devia partir para uma proposta radical. Não o endividamento para salvar bancos, mas para reestruturar a equação de repartição da economia americana, em favor dos assalariados, com o Tesouro, num primeiro momento, sustentando os acréscimos nas folhas de pagamentos das empresas, até que elas pudessem andar com suas próprias pernas.
Contudo, o plano aprovado por 74 a 26 no Senado - com oposição tanto do Tea Party, que quer cortes ainda mais drásticos nos programas sociais do governo, quanto de liberal-democratas, irritados com a ausência de aumento nos impostos dos mais ricos - não reduz diretamente os gastos públicos federais, mas reduz o ritmo com que Washington pode se endividar.
Ao mesmo tempo, o apoio entusiasmado das bases liberais de Obama, fundamental para a reeleição do democrata, parece agora mais distante. Para apagar as velas pelo meio século de vida, o presidente voltou à cidade em que iniciou sua carreira política. A noite foi animada, com a cantora e atriz Jennifer Hudson cantando “Parabéns a você” e o mago do jazz Herbie Hancock dando, digamos assim, canja na festa oficial - com direito a chapeuzinhos azuis de “Obama 2012” - no histórico Aragon Ballroom, em Chicago. A entrada custava a bagatela de 35,8 mil dólares, dinheiro a ser usado na campanha do próximo ano. Pagaram pela extravagância uma centena de fãs. De fora da festa, além de Maher, ficaram os 25 milhões de norte-americanos em busca de trabalho integral, sem nenhum sucesso.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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