Sob o título acima, O LIBERAL publicou no último sábado último, em sua página 2 do primeiro caderno, artigo assinado pelo ator Jiddu Pinheiro.
Ele é filho do artista plástico paraense – de saudosa memória – Osmar Pinheiro de Souza Jr., o Osmarzinho.
O artigo aborda a agressão perpetrada contra obra de Osmar e que deverá ser objeto, conforme já adiantou o blog, de uma ação judicial.
Abaixo, o desabafo de Jiddu.
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Quando recebemos a notícia da perda ou da destruição de uma obra de arte ou de qualquer patrimônio cultural, reagimos com tristeza e indignação. Pois se trata da memória e da identidade de um povo. Mas quando tal destruição é promovida pelo próprio Estado, isso é grave. Alguma coisa está muito errada.
»Quem passou pelo Ver-O-Peso nos últimos dias já deve ter notado que o enorme painel representando um antigo casario, localizado na esquina do bulevar Castilhos França com a avenida Portugal foi apagado da noite para o dia para dar lugar a uma outra imagem.
»O autor da obra destruída é o artista plástico paraense Osmar Pinheiro, falecido em 2006. O ato de destruição teria sido comandado pelo Governo do Estado, através do Hangar e com o aval da Prefeitura. A obra, realizada em 1985, fazia parte do projeto urbanístico do Ver-O-Peso e, portanto, era patrimônio cultural da cidade. Além de ser um registro, em espaço público, de um dos principais artistas da história do Pará.
»Osmar Pinheiro é considerado um dos mais importantes artistas brasileiros de sua geração. Desenvolveu inúmeras atividades no Brasil e no exterior. Entre elas: foi membro da Comissão Nacional de Artes Plásticas; participou de cinco Bienais Internacionais. Foi um dos únicos artistas brasileiros premiados com a Bolsa da Fundação Guggenheim, de NY, EUA, ao lado de nomes como Hélio Oiticica e Regina Silveira. Ajudou a fundar o Curso de Educação Artística da UFPA, onde lecionou por mais de vinte anos; foi um dos idealizadores do Salão Arte Pará. É referência para toda uma geração de artistas paraenses que vieram depois dele; formou importantes nomes da arte brasileira atual e transformou o imaginário paraense e amazônico em questão relevante no debate da Arte Contemporânea internacional.
»Não é a primeira vez que os governantes do Pará atentam contra uma obra pública de Osmar. Em 2005, a escultura "Velames", que ficava no complexo do Ver-O-Peso, foi irresponsavelmente destruída e atirada em local desconhecido. Até hoje não sabemos que fim levou.
»Será por descaso ou ignorância que nossos governantes têm tamanho desrespeito pela riqueza cultural e histórica de nossa cidade? Quais os motivos apresentados por tais governantes que justifiquem essa violência? Até agora, que se saiba, não foi dada nenhuma explicação à sociedade. Tampouco a família, representante legal dos direitos intelectuais do artista, foi consultada.
»As poucas informações que tivemos acesso por terceiros dão conta de que o painel estava em mal estado de conservação, portanto deveria ser "substituído". Ora, se estava em mal estado de conservação, a responsabilidade da Prefeitura seria a de restaurá-lo. Este seria o procedimento correto. Além do que, mais simples e menos oneroso do que trazer um outro artista para assentar por cima desta, uma outra obra. De modo que não faz sentido algum. É algo absolutamente descabido.
»Pergunto-me se em outras cidades brasileiras os governantes tomariam semelhante atitude. Como em São Paulo, por exemplo, se pintariam por cima dos painéis do pintor Alfredo Volpi, que se encontram em diversas paredes da cidade, caso estivessem sujos ou mal conservados? Se o prefeito de Belo Horizonte colocaria em cima do painel de azulejos de Portinari uma obra de outro artista? Só para citar alguns exemplos de lugares onde ainda existem representantes que dão o devido respeito às artes.
»Quero deixar claro que a questão aqui não é político-partidária. Osmar jamais pertenceu a qualquer partido político. Era um humanista e, acima de tudo, um artista. De forma que tinha liberdade para se colocar sob uma perspectiva histórica distanciada da lógica do jogo político.
»A relação de Osmar com a cidade de Belém sempre foi matéria-prima de sua construção poética. A idealização do painel do Ver-o-Peso propunha a recriação, pela imagem, do antigo casario do século XIX que ali existia e foi derrubado. De modo a revelar a própria ausência do casario, mantendo viva a história e o seu diálogo com o entorno. E mais: havia o desejo de transmitir a revolta que lhe gerava a destruição silenciosa da beleza e da memória constitutiva de nossa identidade.
»Portanto, grito aqui o grito que meu pai não mais pode dar. Pois, se estivesse entre nós, sem dúvida nenhuma, estaria hoje na esquina do bulevar Castilhos França com a avenida Portugal, mobilizando toda sua energia para impedir tamanha barbaridade.
»É lamentável que, no Pará, seus governantes literalmente passem uma borracha sobre a obra e a memória de um dos principais representantes da cultura paraense. Agindo assim contra seu próprio patrimônio, sua própria história.
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JIDDU PINHEIRO é ator e filho de Osmar Pinheiro
4 comentários:
não existe controversia, tentar provoca-la e ridiculo, pode ser observado pelos numeros de comentarios. PB se o teu blog, ao aproximar as eleicoes virar o q parece - raivoso contra o gov - que alias n e um bom governo, perderas teus leitores, como dizem, escreveras para ti.
Anônimo, pelo menos o blog assume o risco de assinar embaixo do que publica. Sobre o painel encoberto existe sim controvérsia, afinal nâo estamos em uma ditadura (ainda não) e ela é saudável e necessária. Sobre a raiva, infelizmente atitudes como o episódio do desrespeito ao trabalho do artista provocam isso mesmo. E não é só no autor do blog não, anônimo! O dinheiro gasto com o desrespeito poderia ter sido aplicado,por exemplo, na compra do acervo do poeta Max Martins que está em vias de ser comprado pela USP. Nada mais a dizer.
Não se mede o crime pelos comentários ou controvérsias, anônimo. Mas sim pela gravidade que representa para a cultura, e para nós paraense, pintar, exterminar, acabar mesmo com uma obra que tinha uma autoria e já estava posta há 25 anos.
E com qualidade reconhecida.
NBão se tratava de um miral qualquer.
É isso que deve ser discutido e observado em todos os sentidos.
Sem paixões ou verberações políticas.
No mais, o assunto vem sim tendo grande repercursão, tanto que saiu até na Folha de São Paulo.
O blog Espaço Aberto também tem dado o espaço que o assunto merece. E muitos já se manifestaram: a favor e contra, de maneira democrática e com argumentos.
Evidentemente que, por motivos óbvios, a imprensa local pouco se manifestou.
Mas isso, agora, é normal para os petistas de plantão.
Inocente anônimo, existe controvérsia sim senhor e tentar calar os outros com ameaças covardes não muda nada. O que foi feito com a obra de Osmar Pinheiro Júnior é crime e Jiddu tem todos o direito de protestar e o blog a obrigação moral de postar. A pequenez de quem cometeu o ato que agride à criação artística, a sordidez de quem quer evitar os protestos mostram o viés autoritário e fascista que ameaça o convívio democrático de uma comunidade. Parabéns, Paulo Bemerguy, continue assim e não se incomode com as ameaças ingênuas e infelizes dos alienados partidários.
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