Por WILL MONTENEGRO, do AMAZÔNIA
Na memória do povo paraense, a imagem de um homem que foi o maior administrador municipal dos últimos tempos. Um homem com as raízes no Estado do Maranhão, mas que chegou à capital paraense, ainda naquela época Santa Maria de Belém do Grão-Pará, como soldado da Marinha do Brasil. Começou a vida política no então Partido Republicano, no qual também exerceu o cargo de secretário. Antônio José Lemos é detentor do título de mais poderoso e recorrente mito político da Amazônia.
A urbanização belenense, projetada por Lemos no final do século XIX e início do XX, é recordada pela população como um período o próspero da cidade. Ele foi responsável por programar, para Belém, uma série de modificações que iriam delimitar o espaço urbano e os direitos e deveres dos cidadãos. O lema de Lemos era e mesmo do atual disposto na bandeira da República Federativa do Brasil: ordem e progresso.
'Como governante, que deveria seguir os pressupostos da República, tinha que pautar a administração na ordem e no progresso. Isso significa que ele teria que ordenar a cidade para que ela pudesse se torna progressista. Ora, ninguém ordena a cidade se não existem regras, leis. Como também ninguém ordena uma cidade se não há recursos públicos que possam dar sustentação a esse projeto de ordenamento da cidade', explica a historiadora Maria de Nazaré Sarges.
A professora da Universidade Federal do Pará (UFPA) produziu uma biografia de Lemos para a sua tese de doutorado. Segundo Maria de Nazaré, foi ele quem idealizou, e começou a pôr em prática, o projeto de uma Belém com tons e ares europeus. Entre os projetos, a abertura de avenidas, praças e arborização pela cidade. Lemos sonhou e conseguiu colocar em prática uma civilidade que se expressava no Código de Policiamento de Belém. Hoje é chamado de Código de Posturas do Município
'Ele foi um visionário. Entendo o Lemos como uma pessoa muito inteligente e habilmente política. Ele tinha só o liceu, o que hoje corresponde ao ensino médio ou profissionalizante. Ele não paraense, não pertencia a nenhuma família tradicional e não tinha feito curso superior no Brasil, muito menos no exterior. Então, tinha que se impor como o político que pudesse representar a classe dominante do látex. Para isso, ele se cerca de intelectuais que vão ajudar na operacionalização desse projeto. São pessoas que compactuavam com ele o projeto de uma cidade melhor, que não espelhasse o atraso, a incivilidade', destaca professora.
Anos mais tarde, o projeto de Lemos não teve total êxito para Santa Maria de Belém do Grão-Pará, porque ninguém mais teve a capacidade de reprojetá-la para o futuro. Belém se transformou em uma cidade grande e complexa. Explosão demográfica, abertura de novas ruas e avenidas, crescimento vertical e a expansão territorial trouxeram o desenvolvimento para a cidade. Entretanto, acompanhado do desenvolvimento, surgiram também outros problemas.
A ocupação indevida do espaço urbano ainda é um problema enfrentado todos os dias por quem transita, trabalha e convive no centro histórico. O lixo e o trânsito, somados a ocupação indevida, configuram os entraves crônicos e complexos enfrentados atualmente por Belém. As calçadas esburacadas e os objetos obstruindo o trânsito de pedestres não são difíceis de serem encontrados, ou seja, a apropriação do espaço público pelas pessoas.
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