quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Famílias acusam PM de praticar execuções

No AMAZÔNIA:

Somente este ano a Ouvidoria de Segurança Pública do Estado do Pará já recebeu denúncias de 13 pessoas que teriam sido executadas por policiais militares. Do total de vítimas, três são adolescentes. No ano passado, o número de denúncias envolvendo irregularidades de policiais civis e militares chegou a 800, 75 das quais são acusações de homicídios. A denúncia mais recente envolve a morte Edilson da Silva Araújo, de 28 anos, no último domingo, no bairro do Jurunas. A família afirma que ele foi executado por dois policiais militares e garante que o rapaz não tinha nenhum envolvimento com a criminalidade. Após este fato, familiares de diversas vítimas se reuniram e cobram uma investigação mais rígida das mortes e a punição dos envolvidos.
A Ouvidoria informou que vai pedir agilidade na investigação nos casos de homicídio. Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública (Segup), todos os casos estão sendo investigados desde quando as denúncias foram feitas. 'Tudo o que foi denunciado está sendo apurado', informou um assessor. A partir da Ouvidoria, as denúncias são encaminhadas para o Ministério Público e Corregedorias Civil ou Militar.
Ontem, entidades ligadas aos direitos humanos se uniram às famílias das vítimas para denunciar e cobrar mais agilidade do Estado na apuração e punição dos envolvidos nos crimes. Leslie Batista, da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SPDDH), afirmou que a polícia não está cumprindo seu papel. 'A polícia militar deveria cumprir seu papel, que é determinado pela constituição, promover rondas ostensiva e preventiva. Ao invés disso, está assumindo os cargos de investigador, denunciador, julgador e executor', afirmou.
A coordenadora do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca Emaús), Celine Hamoy, se disse preocupada com o aumento do número de denúncias. 'Isso preocupa porque está ocorrendo uma regressão, estamos voltando a assistir mortes cada vez mais violentas envolvendo crianças e adolescentes, e não estamos percebendo as responsabilizações', disse.
A dona-de-casa Antônia Felix contou que seus dois filhos foram mortos no ano passado, e ela culpa policiais. 'Eu nunca consegui nenhuma vitória, mesmo depois das denúncias que fiz dos policiais', disse. Ela garante que os responsáveis pelos crimes ainda estão nas ruas. Jorge Bronze, tio de Edilson da Silva Araújo, também acredita que seu sobrinho foi executado por dois policiais militares. 'Testemunhas viram que meu sobrinho parou a morto e mesmo assim foi morto com um tiro na cabeça. Isso abalou a estrutura de toda uma família e não pode ficar assim'.
Rotam - Também estão na lista das vítimas os cinco rapazes mortos por suposto envolvimento no assassinato do cabo Cunha, da Ronda Tática Metropolitana (Rotam), no mês passado, no bairro do Curuçambá. Após a morte do policial houve várias perseguições em buscas pelos responsáveis pelo crime, e cinco pessoas terminaram mortas, em troca de tiros, segundo a versão da polícia. Mas não é o que dizem as famílias. O pai de duas vítimas, que não terá seu nome divulgado, disse: 'Espero em Deus que seja feita Justiça. E que os criminosos sentem no banco dos réus em júri popular'.
Apuração - Segundo a Segup, todos os casos estão sendo investigados. A assessoria lembrou, por exemplo, a operação 'Navalha da Carne', que investigou policiais envolvidos em diversos assassinatos e outros crimes, no ano passado. Pelo menos 50 pessoas foram detidas, e não apenas policiais. Seis policiais civis e 17 policiais militares ainda estão presos por tráfico e associação para o tráfico. Mas as apurações e investigações continuam, segundo a Segup.
A ouvidora Cibele Kuss lembrou que a Ouvidoria é o espaço da sociedade civil onde as pessoas podem ter tranquilidade para ir fazer denúncias. 'Nós vamos realmente tomar todo o cuidado para proteger os familiares das vítimas', esclareceu.

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