domingo, 15 de fevereiro de 2009

2009, um ano macunaímico


À época dos grandes embates políticos, muitos falavam e até tentavam provar - claro, a oposição - que Carlos Lacerda foi um político que adorava criar polêmicas e atritos. Não acho. Aliás, por ele, tinha uma grande admiração, principalmente quando escrevia ou utilizava-se do parlatório para fazer seus pronunciamentos que entraram para a história.
Quando governador do Rio de Janeiro (1960 a 1965), dizia aos amigos para que chutassem a burocracia e que mantivessem os políticos longe das obras e, pelo amor de Deus, não marcassem reuniões, não criassem grupos de estudos ou comissões (em todos os sentidos), por amor ao trabalho, ao desenvolvimento e ao Brasil. Lacerda sabia "das coisas".
Tudo nos leva a crer que estamos em um ano macunaímico. Depois das festas de fim de ano, o Brasil só começa - como sempre - a "pegar de empurrão" em março. Ai, que preguiça! Se há ano sabático, aquele em que a criatura passa os 365 dias do ano praticando o dolce far niente, seja lá o que isso signifique, por que não um ano macunaímico, bem ao estilo da disposição de nosso anti-herói?
Pois é, 2009, que no Brasil, por exemplo, será o maná dos feriadões. A ordem é ficar de pernas para o ar. E o mamão com açúcar na Corte, começou logo em janeiro, com o duelo entre o PT e o PMDB pela disputa do Senado entre os senadores Tião Viana e José Sarney, respectivamente, e de Michel temer para a Câmara dos deputados, com os plenários lotados. E agora? Só o vazio. O PMDB é um partido bilionário que segue agarrado ao Nosso Guia, mas poderá se voltar contra o PT em 2010.
Esse episódio no Senado nos faz lembrar um filme de suspense (que fez muito sucesso) e poderíamos denominá-lo no singular: "Eu sei o que você fez no verão passado", protagonizado por um morto muito vivo: Renan Calheiros, que ainda tem ascendência sobre pelo menos uma dezena de senadores, e quer retomar o papel de protagonista.
Submerso desde que renunciou à presidência do Congresso, Renan se movimenta para retornar ao cenário político. No verão passado, o senador Calheiros afastou-se da presidência do Senado para salvar o mandato, ameaçado por acusações de crimes de corrupção, tráfico de influência, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, exploração de prestígio e sonegação fiscal.
Como o povo brasileiro tem memória curta e obviamente contando com a conveniente falta de reminiscência de alguns parlamentares e com a famosa vassalagem de muitos colegas de seu partido, o PMDB, Renan passou as últimas semanas em trabalho de aquecimento para, como dizia o Nosso Guia, botar o time em campo.

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“Renan Calheiros funciona assim: seu partido cria dificuldades políticas para o governo e, no lance seguinte, depois de um afago, oferece uma solução. Assim, Renan está conseguindo ao mesmo tempo tirar os pés do pântano e ainda atrair oferendas federais.”
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De volta à superfície, desde que foi absolvido da acusação de quebra de decoro parlamentar, o senador está reorganizando sua antiga tropa de elite para tornar a fazer o que sempre fez: parasitar o governo. O primeiro alvo já estava definido: Renan e sua tropa querem voltar a comandar o Congresso. Mas na realidade sua primeira e única grande investida foi vingança e cobiça - conseguiu liquidar com seu desafeto Tião Viana, que disputou com Sarney a presidência da Casa mais importante da Corte, e o ministro da Justiça, Tarso Genro: na mira do senador alagoano.
O senador das alagoas funciona assim: seu partido cria dificuldades políticas para o governo e, no lance seguinte, depois de um afago, oferece uma solução. Assim, Renan está conseguindo ao mesmo tempo tirar os pés do pântano e ainda atrair oferendas federais. O senador Calheiros quer o Ministério da Justiça para sua agremiação partidária, hoje ocupada por Tarso Genro. Será ele o ministro? E muita gente achava que depois de Tarso Genro não dava para piorar...
Sem muita cerimônia, o ano está só começando; janeiro já se foi, perceberam? Fevereiro está passando rápido, cheio de recessos, muitos bocejos e com cavalo selado na direção do Carnaval. Onde há permissividade para se vestir, caminhar e olhar, pra tudo acabar na quarta-feira, e tome esticada para mais um feriadão.
Pela mídia, a turma já se deu ao trabalho de contabilizar o capricho do calendário gregoriano (que há uma década de repete), e o resultado para os nativos é o seguinte: 13 feriados em dias úteis, com 44 dias de feriadões, somados aos sábados e domingos e esticões, quando a cessação do trabalho cai na terça ou na quinta. Lembremos que o ano tem 365 dias, 52 semanas, 104 dias de descanso, além de 30 dias de férias para o trabalhador, ou seja, os dias de trabalho de 2009 serão 58,53% do total. Viva o país do carnaval...

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra@gmail.com

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