Um marido, sua mulher, a amante – dele -, um prédio inteirinho da silva em polvorosa e um quarteirão também inteirinho como espectador. Espectador privilegiado - ora divertido, ora indignado.
Era esse o cenário, eram esses os personagens – principais e figurantes – de um barraco de cinema que literalmente parou a Avenida Marquês de Herval, entre as travessas Humaitá e Chaco, das 23 horas de ontem até há pouco, por volta de 1h da madrugada de hoje.
Houve de tudo: palavrões, acusações, estapeamentos e tocaia.
Sim, tocaia.
A traída plantou-se por um bom tempo bem em frente ao Plaza Toulouse, um espigão que tem naquele perímetro. Ficou por ali como quem não quer nada, de celular na mão e conservando a discrição típica de quem fica de tocaia e armazena todas as energia – as boas e ruins – para dar o bote na hora certa. E bote hora certa nisso.
Até que o maridão chegou. Chegou de carro com a outra, que mora justamente no prédio, no Plaza Toulouse.
A traída não contou conversa: partiu em direção ao carro, com a intenção de agredir a “vagabunda”. Mas o marido arrancou, para deixar a amante em lugar incerto e não sabido.
Persistente, a traída esperou no mesmo local. Até que ele voltou. Sabem aquela velha teoria, consagrada lá no “Crime e Castigo”, de Dostoievski, de que o criminoso sempre volta ao local do crime? Pois é, o cara voltou.
Voltou e encontrou a mulher lá, plantada e de plantão, o ódio dominando-lhe o coração e aflorando-lhe à boca, de onde eram cuspidos palavrões a não querer mais.
O encontro dos dois é que movimentou o set. Ou melhor: o prédio e a rua. Além do boca-boca, houve tapas. Dela nele, que em dado momento fez menção de partir para o contra-ataque, mas se conteve, até porque sentiu-se um tanto o quanto intimidado diante dos figurantes, que em boa parte gritava “covarde”, “covarde” para o infiel.
Isso tudo demorou umas duas horas. Teve espectador do prédio que começou a ver um filmezinho em seu apartamento e passou a acompanhar o filme lá debaixo apenas nos intervalos do filme lá de cima.
Demorou tanto o barraco que os dois brigões, o infiel e a traída, ao que parece cansaram-se. Ou estabeleceram aquela pax de conveniência, aquela pax precaríssima, que apenas prenuncia novas turbulências. Ela entrou no carro e os dois foram embora.
Quem sabe, a esta hora que você lê esta postagem, já estão até reconciliados.
Mas é possível que não. Nunca se sabe ao certo.
O certo é que o pessoal do Plaza Toulouse, para não dizer todo o quarteirão da Marquês, entre Chaco e Humaitá, está curiosíssimo para saber a identidade da outra, que mora lá.
O pior mesmo é que uns dois ou três casais - todos espectadores, é claro - começaram a ter, digamos, um início de rusga, desde que elas, solidárias à traída, ficaram automaticamente com raiva dos maridos, apenas por imaginarem que elas poderiam estar enfrentando a mesma situação que a mulher enganada.
No final, todos se entenderam.
Ainda bem.
7 comentários:
cara, que cornada foi essa pelo amor de Deus.
No domingão, quem sabe, esses "personagens" aparecem sorridentes nas páginas Troppo, Top, Pop, Soft, Caras&Bocas e similares.
No caderno de "puliça" nem pensar...ora...rsrs.
Ah, o amor e o ódio já deram enredo para tantos filmes e canções... e agora para este texto delicioso! Parabéns, Paulo. E, recomendar nunca é demais, leitor infiel: juízo! Amanhã pode ser você o protagonista dessa história, contada com muito molho aqui no blog! rsrsrsss...
Anônimo das 10:19,
Não diga assim - "cornada". Digamos que "não houve resistência às tentações".
Não fica menos pior? (rsssss).
Abs.
Anônimo das 13:53,
Pena que, nas legendas, não pode sair a "qualificação" de cada um.
Abs.
Franssi,
Esse seu conselho é só para os leitores?
Você não acha que o pessoal aqui da redação do "Espaço Aberto" também não deve segui-lo? Pelo sim, pelo não, vamos segui-lo. Ao pé da letra (rssssssss).
Abs.
Acautelai-vos todos os infiéis! E principalmente os da redação, afoitos por natureza! rsrsrsss... Beijos!
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