segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Em 2020, 776 crianças indígenas morreram de causas evitáveis

Cemitério Parque da Saudade, em Boa Vista (RR), onde foram enterrada crianças
Yanomami vítimas da Covid-19 (foto Emily Costa/Amazônia Real)

Da Amazônia Real

Brasília (DF) – Um ano trágico para os povos originários do Brasil – 2020 se expressa em números vergonhosos de mortes e agressões e em situações que evidenciam o caráter genocida do presidente da República Jair Bolsonaro. Essa é a síntese do Relatório de Violência contra os Povos Indígenas, lançado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) na tarde de quinta-feira (28), em Brasília. O documento denuncia que 776 crianças indígenas com até 5 anos morreram em 2020 no Brasil de causas evitáveis, como o novo coronavírus, anemia, diarreia, desnutrição, pneumonia e morte sem assistência. Entre elas, 250 no Amazonas, 162 em Roraima e 87 no Pará, que tiveram mais da metade dos casos de mortalidade infantil indígena registrados em 20 Estados brasileiros. 

Reportagens publicadas pela Amazônia Real já revelaram um dos lados mais cruéis expressos no relatório do Cimi. Em junho de 2020, a agência denunciou que corpos de três bebês Yanomami foram enterrados em cemitério de Boa Vista (RR), sem o conhecimento das famílias. Morreram por Covid-19 ou suspeita de contaminação, mas com certidões de óbito diversas. 

Os corpos encontrados eram de bebês que morreram em hospitais da capital roraimense. As mães consideravam os filhos desaparecidos, pois não haviam sido informadas ou consultadas sobre os sepultamentos. Aflitas, elas queriam levá-los de volta às aldeias, para rituais funerários próprios de sua cultura. 

Os dados do relatório do Cimi foram obtidos na Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), com base na Lei de Acesso à Informação, que torna obrigatória a divulgação de dados pelo poder público. Entre o total de mortes no País, 14 ocorreram por “infecção por coronavírus”, 7 por “Covid-19” e 8 por “síndrome respiratória aguda grave”. Segundo o documento, “estão assim segmentados os dados fornecidos, o que não deixa claro se todos esses casos foram mortes ocorridas em decorrência da pandemia”. Essas 29 vítimas tinham entre 0 e 3 anos. 

O Cimi informa que 183 óbitos ocorreram por desidratação, desnutrição, diarreia ou diferentes tipos de pneumonia, em 13 estados de todas as regiões brasileiras, e 21 mortes de zero a 5 anos tiveram como causa registrada “morte sem assistência”, no Pará (1), Roraima (2), Amazonas (5) e Mato Grosso (13). 

Outra violência contra os povos originários apontados no Relatório de Violência são os 182 assassinatos de indígenas. Ou seja, mais de 15 a cada mês. Roraima (66), Amazonas (41) e Mato Grosso do Sul (34) são os Estados com maior número de casos, que significam 61% a mais do que as ocorrências de 2019, quando foram registrados 113.

Duas ocorrências de assassinatos coletivos se destacam. Em Mato Grosso, quatro indígenas do povo Chiquitano foram mortos enquanto caçavam na fronteira com a Bolívia, por agentes do Grupo Especial de Fronteira (Gefron), da Polícia Militar. Investigações indicam que sofreram torturas antes de serem executados. No Amazonas, uma ação da PM na região dos rios Abacaxis e Marimari resultou na morte de dois homens do povo Munduruku, consequência de conflito provocada por pesca esportiva não autorizada. Morreram ainda quatro ribeirinhos e dois policiais.

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