segunda-feira, 19 de abril de 2021

Respirador escondido ou não em parede falsa é apenas um detalhe. Que seria folclórico, se não fosse trágico.

No Hospital Abelardo Santos, 19 respiradores parecidos com esses ficaram sem utilização
por algum tempo. Esta é a essência da questão, e não se estavam ou não em parede falsa.

Ao qualificar expressamente de mentira, ou fake news (como mudernamente se diz), uma informação sobre a descoberta de 19 respiradores novinhos em folha que teriam sido escondidos numa parede falsa no Hospital Abelardo Santos, em Icoaraci, o governo do estado pode estar se expondo, perigosamente, a um grande risco: o de parecer que está tentando desviar o foco do essencial para o secundário. E quando se faz isso, todos sabemos, é sinal de que não se pretende apurar nada - nem o que é essencial, nem o que é secundário.

O tuíte da Sespa: preocupação com detalhe secundário
pode indicar que não será apurado o essencial
O que é essencial nessa história toda, que começou com a revelação postada na coluna on-line do jornalista Olavo Dutra, psoteriormente repercutida em âmbito nacional a partir da veiculação de reportagem da CNN? O que é essencial, portanto?

O essencial é que 19 respiradores, em tese aptos a funcionar, estavam inativos até a OS (organização social) Santa Casa de Misericórdia de Pacaembu deixar a administração do hospital e transferi-la para o Instituto de Saúde Social e Ambiental da Amazônia (Issaa). Essa, verdadeiramente, é a essência da questão.

Se os 19 respiradores estavam em perfeitas condições de funcionamento, mas eram mantidos inativos, é preciso apurar rigorosamente e rapidamente as responsabilidades por esse fato, eis que as condutas - comissivas ou omissivas - podem em tese configurar crimes, porque praticadas num momento em que vidas, às dezenas, estavam sendo ceifadas em decorrência da pandemia.

E qual é a questão secundária? A questão secundária é, justamente, se os 19 respiradores estavam numa parede falsa, num porão falso, num buraco falso, seja o que for. Isso é apenas um detalhe que poderá, quem sabe, reforçar ou não - dependendo do contexto da subtração dos equipamentos ao uso num hospital público - o suposto dolo com que agiram os responsáveis pelo sumiço temporário dos respiradores.

Inacreditável - Não ameniza o gravidade da ocorrência tanto a Sespa como o Issaa dizerem que os respiradores foram encontrados numa sala ao lado do auditório do hospital e imediatamente colocados para utilização. Mesmo assim, é verdadeiramente espantoso, inacreditável, implausível que 19 respiradores tenham ficado sem utilização, ainda que não escondidos, mas armazenados (vamos utilizar esse termo sob a suposição de que não estavam numa parede falsa). Espiem na foto que aparece acima.

Os respiradores utilizados no Abelardo Santos são, seguramente, bem parecidos com os que aparecem na imagem, diferenciando-se em pequeníssimos detalhes, dependendo do modelo e da marca do equipamento. Cada um vem acondicionado em duas ou três caixas, das quais são retirados para posterior montagem e utilização. Vocês imaginem, então: havia no mínimo 38 caixas armazenadas em algum lugar das dependências do hospital Abelardo Santos.

Como é que todas essas caixas não foram vistas, não foram percebidas? A sala onde supostamente permaneceram os equipamentos sem utilização era de acesso restrito? Muito provavelmente não, porque situa-se ao lado de um auditório, conforme a versão oficial. Se não era, como se pode acreditar que ninguém percebeu esses respiradores lá, sem utilização? Quem se omitiu ou quem agiu para que tal ocorresse?

Vejam, portanto, que essas questões - a serem respondidas, espera-se, pelas investigações que já estão se processando - levam em conta o essencial, conforme já dito e repetido nesta postagem: a inatividade em que permaneceram equipamentos em perfeitas condições de uso. Eis a gravidade do fato.

Se havia parede falsa, cortina falsa, gaveta falsa ou porão falso guardando ou ocultando esses equipamentos, isso é um detalhe. Um detalhe que, se confirmado, seria folclórico e bizarro, se não fosse verdadeiramente trágico. Porque, convenhamos, quando a vida humana está em risco, nada é folclórico, nada é bizarro, nada pode ser tido como uma brincadeirinha inocente.

Nada.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que decepção com esse governo. Como querer culpar pelo erro de gestão a informação dada por um Blogueiro? Quando um Blogueiro tem um espaço informativo, o correto é ele repassar aos seus leitores e cabe ao gestor resolver a parada. Como duvidar de pessoas que tem suas plataformas na internet, e que publicam algo de interesse público, como Lúcio Flávio Pinto, Ana Célia Pinheiro, Franssinete Florenzano, Paulo Bemerguy, Carlos Mendes, Olavo Dutra, Jeso Carneiro, Zé Dudu, Jorge Amorim, Diógenes, entre outros??? Parece uma gestão perdida. E isso no penúltimo ano de governo.