segunda-feira, 10 de junho de 2013
Diante da incerteza do amanhã
Faz 10 anos, um clima de incerteza persistia na Turquia. O primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, que se mantém no governo com o apoio do AKP (Partido para Justiça e Desenvolvimento), de tendência islâmica, não tem encontrado eco na minoria, que teme um fortalecimento do fundamentalismo religioso e provável fim do sistema laico.
Na verdade, o povo está divido entre o medo da islamização do país e de um golpe militar. Em Istambul, a cidade mais europeia da Ásia Menor, onde tudo acontece, as mulheres, principalmente elas, têm medo da introdução da sharia, a lei muçulmana, no país e querem a continuação da democracia. Os intelectuais receiam ver o país ser tomado gradativamente pelo fundamentalismo religioso, que havia sido banido por lei já nos anos 20 por Ataturk, que aproximou o país da Europa. Ataturk foi general durante a Primeira Guerra Mundial e ainda hoje o Exército turco é o mais ferrenho defensor das estruturas introduzidas por ele.
O percentual de católicos e de muçulmanos no mundo está quase empate. Na Europa, o Islã é uma das religiões do dia a dia de um grande número de imigrantes e convertidos, ao mesmo tempo a expansão da religião vem acompanhada de dúvidas e sofre com preconceitos e estigmas.
Generalizações indevidas caracterizam, na maior parte das vezes, a visão que o Ocidente tem do islamismo; e vice-versa. O islã não é um bloco monolítico, nem muito menos estanque. Religião predominante no Oriente Médio e em vastas porções da Ásia e da África. Hoje, reúne cerca de mais de 1,3 bilhões de pessoas, de diferentes origens étnicas, sociais e culturais.
Passados 10 anos, na Turquia continua a resistência laica à vontade democrática. Faz 15 dias, que manifestações contra o governo de Erdogan se reúnem em grande número na Praça Taksin, em Istambul, desta vez de forma pacífica, depois de uma semana de violentos confrontos. Há estimativas de que 10 mil pessoas ocuparam a região, carregando bandeiras e pedindo a renúncia do governo.
A capital da Turquia, Ancara, contudo, continuou a registrar enfrentamento entre manifestantes e policiais. Houve uso de bombas de gás lacrimogêneo para impedir uma marcha até o gabinete de Erdogan, e canhões de água tentavam dispersar o protesto. A terceira maior cidade turca, Esmina, também teve casos de violência, assim como Adana, no sul do país.
Agora, a Central de Trabalhadores da Turquia, convocou para uma greve geral e milhares de trabalhadores voltaram às ruas e mais violência se espalhou não só na capital como em mais de trinta cidades do interior do país. A situação é tensa e complicada. Os choques e confrontos em Istambul tem afetado a indústria do turismo. Mais de 70% das reservas da rede hoteleira foram canceladas e problemas diplomáticos começam a preocupar as autoridades. A cineasta brasileira, Carla Petra, informou ao vivo para o Globo News, que testemunhou os conflitos de rua em Istambul e ficou muito preocupada com o que viu. Já se contabiliza três mortes e mais de 4 mil feridos.
Como um país com 10 anos de desenvolvimento econômico de fazer inveja, um crescimento de 7% a 8% do PIB, salários triplicados de valor, que ainda tem um primeiro-ministro em alta popularidade no país, elogiado pela comunidade internacional por conseguir conciliar o islamismo com um regime democrático secular, tem contestada sua autoridade de governante?
O povo acredita que está acontecendo um jogo do “melhor xadrez” e o movimento de mestre de Erdogan é o de querer se perpetuar por mais 10 anos no poder e, quem sabe, se tornar um novo sultão. Recentes medidas de seu governo, porém, põe em dúvida a garantia de um regime laico. Aprovou legislação limitando a venda de álcool no país e pretende proibir a realização de abortos.
Enquanto isso, a austeridade faz estragos. Os protestos e conflitos continuam. Há incerteza no amanhã. O povo turco quer e deseja um Estado laico e provavelmente irão às últimas consequências.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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Um comentário:
Perfeito o seu comentário a respeito do povo Islã, nem todos são iguais, principalmente os Norte Africanos que não tem nada a ver com os do Mediterrâneos, principalmente os libaneses.
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