segunda-feira, 26 de março de 2012

Herdeiros da casa-grande


Como sempre, em política, velhas rivalidades emergiam com força vulcânica, sinalizando uma conjuntura altamente inflamável. Luís Carlos Prestes, aliado de Getúlio Vargas em 1945, mesmo depois de passar uma década nas masmorras do Estado Novo, se voltava novamente contra o presidente em seu segundo mandato. Jornais que apoiavam o governo gritavam manchetes: “O ilegal partido comunista alia-se aos oposicionistas”. O ponto comum às duas correntes, os comunistas e antigetulistas (personificados pela União Democrática Nacional - UDN), eram os ataques ao governo Vargas, desta vez eleito democraticamente, visando enfraquecê-lo politicamente.
Em medicina, a morte humana é constatável por diagnóstico técnico. A morte política, no entanto, é impossível de ser diagnosticada. O deputado ACM Neto, por exemplo, falhou num veredicto desses. Após a derrota de José Serra, em 2010, não se sabe se por informações sopradas por alguma ialorixá baiana, ele afirmou que Aécio Neves passaria a ser então, “o grande líder da oposição”.
Certo é que o ex-governador paulista, dado por muitos como um morto político, reencarnou e se apresentou, com força e vivacidade, como candidato postulante à prefeitura de São Paulo. A bem da verdade Serra animou um cenário político, de certa forma, jururu. Observem três momentos que não são infundados e nem fantasiosos.
 Aécio em Brasília... A opção de Serra pela disputa da prefeitura de São Paulo deixa o caminho livre para Aécio. Ele tem pela frente, no entanto, três obstáculos cruciais para a corrida presidencial em 2014. O primeiro, e o mais difícil, será enfrentar Dilma se ela mantiver a popularidade. Isso criará dificuldades para Aécio atrair aliados da base do governo. Só a erosão da economia favorecerá o candidato da oposição.
Em Minas... O segundo obstáculo é a base mineira de Aécio, o segundo maior colégio eleitoral do País. Antônio Anastasia, atual governador feito por ele, está impedido de disputar a reeleição e Aécio não tem um nome forte e terá de construir às pressas uma alternativa, e todos percebem, até agora invisível a olho nu.
E em São Paulo... Serra, se ganhar a eleição para a prefeitura paulistana, seria o terceiro obstáculo no maior colégio eleitoral, com 23% do total de eleitores do País. Vencedor, Serra afastaria o PSD de Kassab de qualquer aliança com Aécio e, por outro lado, inibiria as ações do governador Geraldo Alckmin na disputa pela reeleição. Lembrete: JK quase perdeu a eleição, em 1955, pela pífia votação que obteve em São Paulo.
A candidatura de Serra à prefeitura de São Paulo, além de dar continuidade ao projeto pessoal dele, tem um forte viés anti-Aécio. Há boatos de que Serra, se eleito, deixará o PSDB. Em 2010, na casa do empresário Alexandre Accioly, em Ipanema, no Rio, Aécio falou o mesmo. Deixaria o PSDB, caso Serra ganhasse a eleição. O ninho tucano ficou pequeno demais para os dois.
É com mão de ferro que ele puxa mais uma vez para si a candidatura e deixa as novas lideranças a ver navios. Serra acaba de anunciar que seu sonho de Presidência da República está adormecido até 2016. Ou seja, se for prefeito, cumprirá seu mandato por completo. Hum! FHC achava o sonho aposentado de vez, mas o homem resiste, mudou de ideia. Veremos o que veremos. Resta a evidência: o PSDB assumiu o papel outrora arcado pela UDN velha de guerra e Serra representa à perfeição os herdeiros da casa-grande. Politicamente, o Brasil é um gigante lento.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

Um comentário:

Artur Dias disse...

Essa crítica da tal "mão de ferro" do Serra é só um disfarce do lulismo, afinal, o PT está em pânico em SP, porque não consegue fazer o Haddad decolar. Candidatura, diga-se, enfiada goela abaixo ao PT paulista pelo Lula, esse sim, o dono do partido e muito mais identificado com o autoritarismo que Serra. Quantos candidatos a presidente o PSDB teve, até hoje, e quantos teve o PT? Não me diga que agora é preciso ensinar ao PSDB que o mais importante é "renovar", ainda que perdendo a eleição, porque só sendo muito panema das idéias pra engolir isso. Em vencendo a "renovação", onde foi que ela se mostrou no governo Dilma? No kit gay do Haddad, em que ONGs estrangeiras pretendiam molestar as nossas crianças, ensinando os apelidos gays para os órgãos sexuais? o anti-serrismo, mesmo que não vindo do PT acaba servindo a propósitos pavorosos.