segunda-feira, 26 de abril de 2010

Diplomas fáceis e rápidos


A janela aberta para o desenvolvimento do ensino fraudulento com as bênçãos do MEC tem endereço: São Paulo. Trata-se de uma faculdade do interior paulista que recebe caravana de alunos de São Paulo, Minas Gerais e Paraná. Como um sistema aprovado pelo MEC transformou-se em uma fraude? Revista de circulação nacional denomina de Cascata de diplomas. Fica na altura do quilômetro 170 da Avenida Anhanguera. A partir das 9 da manhã, dezenas de ônibus lotados de alunos, a maioria da Grande São Paulo e do interior paulista, seguem em direção ao prédio da Unar, numa espécie de romaria, em busca de diplomas fáceis e rápidos.
Compareciam ali, naquele momento, os "sacoleiros do ensino", espécie de versão dos brasileiros que atravessam a Ponte da Amizade, no Paraguai, para fazer compras. Em vez de muamba, desta vez os passageiros vão atrás de um "canudo". A quase totalidade dos alunos é de professores dos ensinos médio e fundamental das redes estaduais e municipais em busca de um segundo curso de licenciatura. Pois, com mais um diploma, podem acumular mais aulas e ter maior opção de escolha de classes e escolas.
Agora pasmem, o problema é a maneira de fazer o tal curso. Com uma única frequência ao mês na faculdade - e não se trata de ensino à distância, esclareça-se -, os professores concluem, em um ano e meio, cursos de Geografia, História, Pedagogia, Filosofia, Sociologia, Artes e Letras. Assim, sentem-se aptos a ensinar. Os alunos da escola pública é que vão sofrer depois as consequências do ato. Pelo curso, pagam-se R$ 319,00 de matrícula e mais 18 parcelas do mesmo valor.
Isso tira qualquer estímulo de educadores e professores interessados em melhorar os recursos humanos do ensino médio e fundamental. Destrói qualquer perspectiva de uma renovação nas estratégias para bem formar professores.
Um bom professor de qualquer curso deve ter duas raízes. Em primeiro lugar, o domínio do conteúdo desta ou daquela disciplina; em segundo lugar, o saber ensinar que envolve uma postura participativa de todo o processo ensino-aprendizagem.
Nesse esquema de facilitação de diplomas em Araras apóia-se na permissão do Ministério da Educação para a realização dos chamados cursos de "aproveitamento de estudos". Essa possibilidade é aberta para os que fizerem licenciatura e os bacharéis. Agora, observem quanta imoralidade: quem já tem um curso de História, por exemplo, consegue fazer o de Geografia com a eliminação das disciplinas similares do curso anterior. Quem tem o curso de Biologia pode habilitar-se para lecionar disciplinas como Matemática, Física e Química.
Como os alunos só aparecem uma vez por mês na faculdade, se tudo der certo serão realizadas apenas 18 aulas, das 9h às 14h. "Mas a pessoa pode concluir o curso até com umas dez frequências. Aulas são canceladas, por exemplo, quando se sabe que o MEC vem fazer vistoria", contou um ex-aluno de Araras. Por causa de denúncias como essa, a Unar já está "sob supervisão" do MEC. Em 2001, o MEC suspendeu cursos semelhantes de Licenciatura oferecidos uma vez ao mês pela Universidade Iguaçu (Unig), em Nova Iguaçu, na Baixada fluminense.
Nesse contexto, porém, a escola como um segmento da sociedade é envolvida por problemas que a cercam, invadem a sala de aula, mexem com programas e grades curriculares, atingem de maneira negativa a preparação profissional do professor e, evidentemente, a do aluno, parceiros em buscar o ensino, a educação e a cultura para enfrentar as tarefas sociais, e políticas do cotidiano.
Com uma frequência ao mês, professores do ensino público obtêm de maneira vergonhosa um segundo diploma e passam a lecionar disciplinas sem dominar o tema. Mas a sociedade não ignora os problemas internos da escola brasileira, sobretudo a da rede pública de ensino, ainda que não seja tão diferente da realidade da escola particular em alguns aspectos que dizem respeito à formação do profissional da educação.
A mantenedora da Unar, Terezinha Ulson, é sogra do ex-governador paulista Orestes Quércia - que dispensa apresentações. A direção da instituição foi contatada várias vezes, mas não se manifestou. Valha-nos quem?

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

2 comentários:

Anônimo disse...

Agora a onda é outra. Começaram (a UNAR) com parcerias duvidosas até com prefeituras municipais, como é o caso em Castro - Paraná, onde realizam "vestibulares para cursos de Licenciatura a Distância" em pólos irregulares, uma vez que, estes sequer são credenciados no MEC. Aliás, no Ministério da Educação constam credenciados apenas dois pólos, um em Araras e outro em São Paulo, Capital. No entanto, nestes "pólos" fantasmas estão ocorrendo encontros semanais e quinzenais, o que era para ocorrer apenas nos dois pólos credenciados no MEC, conforme citei acima.
Mandamos várias denúncias ao MEC e este nada fez até o momento. Estão permitindo que ocorram os vestibulares e depois provavelmente dirão aquele bla bla bla de sempre, ou seja, que os acadêmicos que já estão cursando terão o direito ao diploma assegurado.
Mas que é ridículo o, no mínimo, duvidosa a atitude do MEC em permitir que isto ocorra, ah isto é...

Anônimo disse...

Realmente o MEC permite isso, sei porque sou aluna e liguei várias vezes no MEC e me disseram que eu poderia estudar na UNAR e continuei, agora vem essa bomba, em quem podemos acreditar? Isso é o cúmulo da irresponsabilidade, o MEC deveria ser uma instituição séria e permite essa papagaiada toda. Onde estamos?? Agora que ja perdi 1 ano e meio, quem vai me recuperar isso???