sexta-feira, 30 de maio de 2008

Vitória traz responsabilidades, diz cientista

Na FOLHA DE S.PAULO:

Segundo a geneticista Mayana Zatz, da USP, que comemorou ontem a derrota da Adin contra a lei de Biossegurança, os cientistas devem assumir agora "um enorme senso de responsabilidade". "Não estamos prometendo a cura imediata, mas estamos prometendo que vamos fazer aqui o que se faz no mundo inteiro", disse. Patrícia Pranke, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), diz que agora "é hora de voltar ao laboratório".
Para o neurocientista Stevens Rehen, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a decisão vai influenciar diretamente o futuro das pesquisas. "A aprovação traz a expectativa de novos investimentos e a possibilidade de progresso científico no país."
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, disse em comunicado à imprensa que a decisão do STF atende à expectativa de "milhares de pacientes" que têm esperança de cura para as suas doenças. "O resultado permite à ciência assumir nova posição no cenário internacional", afirmou Temporão.
A comemoração tomou conta do saguão do STF e da área em volta da estátua da Justiça antes de declarado o fim do julgamento. Dez cadeirantes, todos sorrindo, se juntaram a amigos e cientistas num abraço. Nesse momento, faltava apenas um voto a ser lido, o que deu segurança aos militantes.
"Vitória" era a palavra que se destacava durante a pose para a foto simbólica. "Conseguimos! Não falei?", disse a costureira paulista Angelita Oliveira, 40. Ela é mãe de Kathy, 9, portadora de distrofia muscular e figura sempre presente nas manifestações de apoio à pesquisa.
A bióloga Lygia da Veiga Pereira acompanhou a votação pela TV em seu laboratório na USP. "Agora mais grupos podem tomar coragem para mergulhar fundo na pesquisa com células humanas", disse. "Espero que a gente consiga agora atrair a iniciativa privada."

Derrotados
Um comunicado da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), que teve sua posição derrotada, diz que a divisão entre os membros do tribunal mostrou que "não se trata de uma questão religiosa, mas de promoção e defesa da vida humana, desde a fecundação, em qualquer circunstância em que esta se encontra."
Falando para um grupo de colegiais, Matheus Sathler, 24, que se apresentou como advogado da frente parlamentar evangélica e bateu boca com cadeirantes, disse que o resultado era um atraso. "Não se discute mais célula-tronco embrionária no mundo."
Lídia Said, 53, vestia uma camiseta em defesa do uso apenas de células-tronco adultas. "Eu lamento pela sociedade." Sobre a influência religiosa no julgamento, disse: "Não consigo ver um ser humano isolado. Como em outras áreas, a religião permeia o debate."

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