domingo, 22 de março de 2020

Soldados desarmados para a guerra contra o coronavírus, funcionários do Barros Barreto pedem socorro


Soldados, quando convocados para a guerra, não podem ir desarmados.
Desarmados, soldados em guerra serão presas fáceis do inimigo.
Mas não basta armar soldados que vão guerrear. Se o inimigo vier com tanques, eles, os soldados do lado oposto, não poderão ir armados com estalinhos (aqueles das festas juninas) e nem com espoletas.
Profissionais de Saúde do Hospital Universitário João de Barros Barreto são, neste momento, soldados armados com espoletas (ou nem isso), sendo convocados para uma guerra contra o coronavírus Covid-19, um inimigo pequenino – tão pequenino que chega a ser literalmente invisível, mas que está guerreando montado em armas bélicas de forte letalidade.
Espiem no vídeo que está aí em cima, feito há cerca de duas semanas. Mostra um funcionário do Barros Barreto narrando, descrevendo, denunciando as condições em que ele e os demais profissionais de Saúde que atuam no hospital para enfrentar o coronavírus. Rita Medeiros, a que ele se refere, é médica virologista e infectologista que atua no hospital.
A voz do profissional que aparece nesse vídeo ecoa a de outros colegas seus, que estão se manifestando aí pelas redes sociais. Vários vídeos, enviados por funcionários do HUJBB, fazem descrições idênticas de outras dependências do hospital. Isso nos oferece uma dimensão – senão exata, mas pelo menos aproximada - da situação deplorável, desvantajosa e desumana em que se encontram para desenvolver suas atividades, ou melhor, sua missão: salvar vidas.
O que eles narram é a composição aterradora de um drama que não vem de hoje. A situação em que se encontra o Barros é de terra arrasada e agravou-se, sobretudo no ano passado, com a divulgação de matérias em vários veículos de comunicação de Belém, mostrando a virtual falência da capacidade operativa do hospital, outrora um dos orgulhos da medicina do Pará, tal era a sua eficiência no tratamento de comorbidades de forte contágio, como tuberculose e aids, por exemplo.

Drama exposto
Em outubro do ano passado, parte desse drama foi exposto, sem retoques, durante uma reunião do Comitê Interinstitucional de Resoluções Administrativas de Demandas de Saúde (Cirads) ocorrida na Justiça Federal, em Belém.
Funcionários com mais de 20 anos de atuação no hospital, entre eles o médico pediatra Miguel Pinheiro, e a promotora do Ministério Público do Estado, Suely Regina Ferreira Catete, reforçaram relatos sobre graves deficiências que põem em risco pacientes que esperam ter as boas condições de saúde restabelecidas, e não agravadas, em decorrência de novas patologias que podem adquirir em decorrência das deficiências estruturais enfrentadas pelo HUJBB.
Entre outros problemas, os funcionários citaram a internação de crianças em UTI adulto, ratos que já foram encontrados dentro de colchões, falta de áreas de isolamento (sendo que das quatro existentes, apenas uma funciona ainda de maneira precária), ausência de unidade de terapia intensiva para a pediatria e falta de ventiladores e equipamentos, como balança para bebês, medidor de pressão arterial e tomografia para crianças.
Vocês imaginam está a situação agora, quando o Barros Barreto, um dos quartéis desta guerra contra o coronavírus, não arma seus soldados e nem lhes dá condições mínimas de contribuir para o combate a essa pandemia aterradora.
O Espaço Aberto tentou falar com a médica Rita Medeiros e com a direção do Barros Barreto, mas não conseguiu. O blog está à disposição para quaisquer esclarecimentos que desejem prestar.

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ATUALIZAÇÃO ÀS 12h30 desta segunda-feira (23)

Sobre o assunto, o Espaço Aberto recebeu a seguinte nota de esclarecimento:

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO JOÃO DE BARROS BARRETO

NOTA DE ESCLARECIMENTO

Na última sexta-feira, dia 20 de março, circularam dois vídeos com informações incorretas sobre o Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB) da Universidade Federal do Pará (UFPA), atualmente em gestão compartilhada com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH). As informações mencionadas nos vídeos não correspondem à realidade do hospital. Em um dos vídeos, afirma-se que a Unidade de Diagnóstico de Meningite (UDM), localizada nas dependências do Hospital Universitário e que funciona em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (SESPA), passaria a fazer os exames de diagnóstico do novo coronavírus e que não havia medidas de proteção para profissionais e pacientes. Em outro vídeo, alega-se que as instalações para a internação de pacientes com a COVID-19 não cumprem as exigências de segurança.
Frente à circulação de informações incorretas sobre as condições de atendimento do HUJBB, faz-se necessário esclarecer à população paraense que não está no escopo da atuação do hospital a realização de exames diagnósticos da COVID-19 (nem na UDM, nem em outros espaços), mas apenas a internação de pacientes que necessitem de tratamento hospitalar. Essa internação acontecerá em área que não corresponde às instalações mostradas nos vídeos. O HUJBB é um dos onze hospitais de referência para o atendimento de casos graves do novo coronavírus no Pará, encaminhados a partir dos diagnósticos realizados pelos testes do Laboratório Central do Estado (LACEN-PA) ou do Instituto Evandro Chagas (IEC).
Ainda com relação às condições sanitárias de atendimento no HUJBB, os isolamentos para casos de COVID-19 foram adaptados seguindo a orientação do Ministério da Saúde e, sendo o Barros Barreto um hospital de referência no País para atendimento de doenças infectocontagiosas, todos os cuidados foram tomados contra riscos para os pacientes e para o corpo técnico, pois fazem inclusive parte da rotina de atuação da equipe do hospital.
É improcedente a alegação de que não há equipamentos de proteção individual (EPIs) para os colaboradores. O hospital está abastecido com máscaras cirúrgicas, respiradores N95, aventais cirúrgicos, luvas, máscaras, óculos de proteção e, inclusive, dispositivo de aspiração traqueal fechado para os pacientes sob ventilação mecânica. Além disso, o uso desses equipamentos também se dará em consonância com a recomendação da Organização Mundial da Saúde.
É lamentável que circulem informações incorretas em uma situação de crise, que afeta toda a população brasileira, promovendo o pânico e a desconfiança, quando são necessárias medidas de esclarecimento e orientação. É claro que, como hospital público, o HUJBB sofre com a limitação de recursos para as políticas de saúde pública no Brasil. Isso não se confunde, porém, com a seriedade e o esforço de todos os que são responsáveis diretos pelo seu funcionamento e que têm garantido que a população continue tendo acesso à assistência, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).
Estamos vivendo no contexto de uma epidemia grave, com grande possibilidade de dificuldades para todos os hospitais brasileiros, independente da esfera (pública e privada) e estrutura. É compromisso, portanto, de todos os profissionais da saúde não estimular o sentimento de pânico entre a população, mas, sim, assegurar a prestação de informações verdadeiras.
A equipe do HUJBB não medirá esforços para, mesmo dentro de um sabido quadro de dificuldades, atender a sociedade no combate à epidemia do novo coronavírus no Brasil.
O hospital permanece à disposição das autoridades municipais e estaduais para os esclarecimentos necessários. E, ao mesmo tempo, buscará as medidas cabíveis para coibir a desinformação e cobrará de todos um comportamento ético e responsável. Há décadas, prestamos serviços de qualidade em saúde pública no Pará, contando com o reconhecimento e apoio da sociedade. Continuaremos essa trajetória, tendo a parceria de pessoas que, de fato, se importam e têm compromisso com o sistema público de atenção à saúde no estado do Pará.

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