Soldados, quando convocados para a guerra, não
podem ir desarmados.
Desarmados, soldados em guerra serão presas
fáceis do inimigo.
Mas não basta armar soldados que vão guerrear.
Se o inimigo vier com tanques, eles, os soldados do lado oposto, não poderão
ir armados com estalinhos (aqueles das festas juninas) e nem com espoletas.
Profissionais de Saúde do Hospital Universitário
João de Barros Barreto são, neste momento, soldados armados com espoletas (ou
nem isso), sendo convocados para uma guerra contra o coronavírus Covid-19, um
inimigo pequenino – tão pequenino que chega a ser literalmente invisível, mas
que está guerreando montado em armas bélicas de forte letalidade.
Espiem no vídeo que está aí em cima, feito há cerca de duas semanas. Mostra um
funcionário do Barros Barreto narrando, descrevendo, denunciando as condições
em que ele e os demais profissionais de Saúde que atuam no hospital para enfrentar
o coronavírus. Rita
Medeiros, a que ele se refere, é médica virologista e infectologista que atua no
hospital.
A voz do profissional que aparece nesse vídeo
ecoa a de outros colegas seus, que estão se manifestando aí pelas redes
sociais. Vários vídeos, enviados por funcionários do HUJBB, fazem descrições
idênticas de outras dependências do hospital. Isso nos oferece uma dimensão –
senão exata, mas pelo menos aproximada - da situação deplorável, desvantajosa e
desumana em que se encontram para desenvolver suas atividades, ou melhor, sua
missão: salvar vidas.
O que eles narram é a composição aterradora de
um drama que não vem de hoje. A situação em que se encontra o Barros é de terra
arrasada e agravou-se, sobretudo no ano passado, com a divulgação de matérias
em vários veículos de comunicação de Belém, mostrando a virtual falência da
capacidade operativa do hospital, outrora um dos orgulhos da medicina do Pará,
tal era a sua eficiência no tratamento de comorbidades de forte contágio, como
tuberculose e aids, por exemplo.
Drama
exposto
Em outubro do ano passado, parte desse drama foi
exposto, sem retoques, durante uma reunião
do Comitê Interinstitucional de Resoluções Administrativas de Demandas de Saúde
(Cirads) ocorrida na Justiça Federal, em Belém.
Funcionários com mais de 20 anos de atuação no
hospital, entre eles o médico pediatra Miguel Pinheiro, e a promotora do
Ministério Público do Estado, Suely Regina Ferreira Catete, reforçaram relatos
sobre graves deficiências que põem em risco pacientes que esperam ter as boas
condições de saúde restabelecidas, e não agravadas, em decorrência de novas
patologias que podem adquirir em decorrência das deficiências estruturais
enfrentadas pelo HUJBB.
Entre
outros problemas, os funcionários citaram a internação de crianças em UTI
adulto, ratos que já foram encontrados dentro de colchões, falta de áreas de
isolamento (sendo que das quatro existentes, apenas uma funciona ainda de
maneira precária), ausência de unidade de terapia intensiva para a pediatria e
falta de ventiladores e equipamentos, como balança para bebês, medidor de
pressão arterial e tomografia para crianças.
Vocês
imaginam está a situação agora, quando o Barros Barreto, um dos quartéis desta
guerra contra o coronavírus, não arma seus soldados e nem lhes dá condições
mínimas de contribuir para o combate a essa pandemia aterradora.O Espaço Aberto tentou falar com a médica Rita Medeiros e com a direção do Barros Barreto, mas não conseguiu. O blog está à disposição para quaisquer esclarecimentos que desejem prestar.
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ATUALIZAÇÃO
ÀS 12h30 desta segunda-feira (23)
Sobre o assunto, o Espaço Aberto recebeu a
seguinte nota de esclarecimento:
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO JOÃO DE BARROS BARRETO
NOTA DE ESCLARECIMENTO
Na última sexta-feira, dia 20 de março,
circularam dois vídeos com informações incorretas sobre o Hospital
Universitário João de Barros Barreto (HUJBB) da Universidade Federal do Pará
(UFPA), atualmente em gestão compartilhada com a Empresa Brasileira de Serviços
Hospitalares (EBSERH). As informações mencionadas nos vídeos não correspondem à
realidade do hospital. Em um dos vídeos, afirma-se que a Unidade de Diagnóstico
de Meningite (UDM), localizada nas dependências do Hospital Universitário e que
funciona em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará
(SESPA), passaria a fazer os exames de diagnóstico do novo coronavírus e que
não havia medidas de proteção para profissionais e pacientes. Em outro vídeo,
alega-se que as instalações para a internação de pacientes com a COVID-19 não
cumprem as exigências de segurança.
Frente à circulação de informações incorretas
sobre as condições de atendimento do HUJBB, faz-se necessário esclarecer à
população paraense que não está no escopo da atuação do hospital a realização
de exames diagnósticos da COVID-19 (nem na UDM, nem em outros espaços), mas
apenas a internação de pacientes que necessitem de tratamento hospitalar. Essa
internação acontecerá em área que não corresponde às instalações mostradas nos vídeos.
O HUJBB é um dos onze hospitais de referência para o atendimento de casos
graves do novo coronavírus no Pará, encaminhados a partir dos diagnósticos
realizados pelos testes do Laboratório Central do Estado (LACEN-PA) ou do
Instituto Evandro Chagas (IEC).
Ainda com relação às condições sanitárias de
atendimento no HUJBB, os isolamentos para casos de COVID-19 foram adaptados
seguindo a orientação do Ministério da Saúde e, sendo o Barros Barreto um
hospital de referência no País para atendimento de doenças infectocontagiosas,
todos os cuidados foram tomados contra riscos para os pacientes e para o corpo
técnico, pois fazem inclusive parte da rotina de atuação da equipe do hospital.
É improcedente a alegação de que não há
equipamentos de proteção individual (EPIs) para os colaboradores. O hospital
está abastecido com máscaras cirúrgicas, respiradores N95, aventais cirúrgicos,
luvas, máscaras, óculos de proteção e, inclusive, dispositivo de aspiração
traqueal fechado para os pacientes sob ventilação mecânica. Além disso, o uso
desses equipamentos também se dará em consonância com a recomendação da
Organização Mundial da Saúde.
É lamentável que circulem informações incorretas
em uma situação de crise, que afeta toda a população brasileira, promovendo o pânico
e a desconfiança, quando são necessárias medidas de esclarecimento e
orientação. É claro que, como hospital público, o HUJBB sofre com a limitação
de recursos para as políticas de saúde pública no Brasil. Isso não se confunde,
porém, com a seriedade e o esforço de todos os que são responsáveis diretos
pelo seu funcionamento e que têm garantido que a população continue tendo
acesso à assistência, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).
Estamos vivendo no contexto de uma epidemia
grave, com grande possibilidade de dificuldades para todos os hospitais
brasileiros, independente da esfera (pública e privada) e estrutura. É
compromisso, portanto, de todos os profissionais da saúde não estimular o
sentimento de pânico entre a população, mas, sim, assegurar a prestação de
informações verdadeiras.
A equipe do HUJBB não medirá esforços para,
mesmo dentro de um sabido quadro de dificuldades, atender a sociedade no
combate à epidemia do novo coronavírus no Brasil.
O
hospital permanece à disposição das autoridades municipais e estaduais para os
esclarecimentos necessários. E, ao mesmo tempo, buscará as medidas cabíveis
para coibir a desinformação e cobrará de todos um comportamento ético e
responsável. Há décadas, prestamos serviços de qualidade em saúde pública no
Pará, contando com o reconhecimento e apoio da sociedade. Continuaremos essa
trajetória, tendo a parceria de pessoas que, de fato, se importam e têm
compromisso com o sistema público de atenção à saúde no estado do Pará.
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