quinta-feira, 28 de maio de 2015

Respeitem Marin. Respeitemos suas habilidades e apetites.


“Mesmo que você trabalhe honestamente, com transparência e dignidade, como sempre foi feito aqui, eles falam. Uma meia dúzia de jornalistas esportivos. Acho que é mais inveja e rancor, porque, no fundo, eles querem profissionalização e sabem que trabalhamos bem.”
Vocês leram aí?
Sabem quem é o autor da frase?
J. Hawilla.
Disse-o em 2010, em reportagem do jornal O Globo, intitulada O dono do nosso futebol.
Mas quem é o dono do nosso futebol?
Melhor dizer quem ele foi e em quê se transformou.
J. Hawilla foi vendedor de cachorro quente. E se transformou no dono da maior empresa de marketing esportivo da América Latina, a Traffic, a ponta visível de um conglomerado de negócios que alcançou, nos últimos anos, lucros superiores a US$ 500 milhões. Isso mesmo: mais de R$ 1,5 bilhão em valores atuais.
Por que aqui se põe em evidência J. Hawilla?
Porque foi ele quem, digamos assim, deu o serviço para que o Departamento de Justiça dos Estados Unidos identificasse o que autoridades americanas estão chamando de corrupção sistêmica no futebol mundial, inclusive, obviamente, o futebol brasileiro.
Réu confesso, Hawilla dedurou meio mundo através do instituto da delação premiada. Para tanto, concordou com o confisco de US$ 151 milhões (pouco mais de R$ 475 milhões, na cotação atual) de seu patrimônio –US$ 25 milhões (R$ 78 milhões) deste total já teriam sido pagos no momento da confissão.
Leram, meus caros?
Pois é isto: J. Hawilla, aquele que em 2010 disse trabalhar “honestamente, com transparência e dignidade”, devolveu quase meio bilhão de reais do seu patrimônio e ficou livre da prisão e de penas mais duras.
Mas o que ele contou valeu a pena.
Como valeu a prisão de sete cartolas de projeção mundial, entre eles José Maria Marin, ex-presidente da CBF, acusado de ter recebido R$ 2 milhões anualmente.
"Entre 1990 e 2009, a Traffic acertou uma série de contratos com a CBF, a federação brasileira de futebol, para adquirir direitos comerciais da Copa do Brasil, um torneio anual com clubes brasileiros", diz o documento da investigação da Justiça dos Estados Unidos.
"Durante esse período, Marin recebeu propina na negociação da venda de direitos econômicos da Copa do Brasil. Como resultado de um acordo alcançado entre CBF e Traffic em 22 janeiro de 2009, a Traffic detinha os direitos de cada edição da Copa do Brasil para ser jogado a partir de 2009 até 2014."
Algum de vocês aí está espantado com essa performance de Marin?
Pois tratem, meus caros, de se desespantar.
Porque um cara que foi flagrado num vídeo embolsando – literalmente, enfiando bolso abaixo – uma medalha, como não poderia receber um mimo de R$ 2 milhões por ano?
Respeitem Marin, cidadãos. Respeitem as suas habilidades. Respeitemos os seus apetites.
As habilidades de Marin e os seus apetites vão além, muito além do que embolsar medalhas, né?
Quem pensou que as aspirações de José Maria Marin se esgotariam naquela medalhinha cometeu uma grave ofensa ao ex-presidente da CBF, agora preso e em vias de ser extraditado para os EUA.
Meter no bolso uma medalhinha é coisa de aprendiz.
Marin precisava mostrar como, onde e quando meter a mão.
Ele sempre se escusou a revelar isso. Mas as investigações que se processam nos EUA haverão de mostrar isso.
Ah, e vocês querem saber de mais uma coisa?
A corrupção, a sujeira, a imundície, a patifaria, os desvios morais de toda ordem inundam e contaminam essas entidades que dirigem o futebol - todas elas, todinhas, com as exceções que confirmam a regra.
As prisões de ontem, em Zurique, na Suíça, começam a revelar a extensão dessas sujeiras e patifarias que remontam há décadas.

2 comentários:

Anônimo disse...

Se fosse só as entidades de futebol, mas está incutida em quase todas as atividades, especialmente aqui no Brasil.
É empresário que não dá a nota fiscal e se der calçam as notas;
É gente que corrompe o guarda de trânsito;
É quem deixa de fiscalizar para favorecer algum amigo ou empresa;
É quem julga com mão menos pesada do que exige a lei, a fim de prevaricar;
É quem julga com mão mais pesada, criando dificuldade para vender facilidade;
É quem combina preços para aumentar seus lucros e ainda tem a cara-de-pau de criar uma associação para mascarar de legalidade esse crime;
Dá pra elencar mais uns duzentos motivos.... mas não perderei tempo...
Os sistemas já existem e de regra são bons. Mude-se a moral ou preparem-se para que as coisas fiquem piores.

Anônimo disse...

Os méritos são para o FBI. Ele só abriu o "bico ", pois não estava pagando os imposto. Cometeu o mesmo erro que "Al Capone". O "Al" para os íntimos. Sem essa descoberta da Receita, eficiente, por sinal, continuava sendo o senhor "honestidade". Ele está internado em um hospital de Nova York. A operação foi muito bem planejada. A Polícia esperou que todos os mafiosos estivesse debaixo do mesmo teto para dar o bote. A justiça da Suíça, está mais afinada com a justiça americana, que orquestra sinfônica de Viena. Quem está com tudo e não está prosa, e um jornalista inglês da BBC. Quem não recorda destas palavras, tentando entrevistar o ex - presidente da CBF,Ricardo Teixeira? :"Mister Teixeira! Please! Mister Teiiixeiira !