terça-feira, 3 de março de 2015

A Susipe entre a honestidade e a tibieza


A Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado do Pará (Susipe) oferece uma notável contribuição a honestidade política quando admite publicamente, conforme exposto em matéria publicada na edição de O LIBERAL desta terça-feira, que o sistema penitenciário do Pará enfrenta a sua maior crise.
Qual crise? A que foi deflagrada, de quinta-feira a sábado da semana passada, nos Centros de Recuperação Penitenciário do Pará I e II (CRPP I e II), que integram o Complexo de Santa Isabel do Pará, e os Presídios Estaduais Metropolitano I e III (PEM I e III), no complexo de Marituba.
A honestidade política da Susipe precisa ser registrada nas mesmas dimensões e nas mesmas proporções da tibieza ou do engodo que a própria Superintendência demonstrou na quinta-feira à noite, quando informava que aquilo a que repórteres estavam chamando de "onda de motins" ou "onda de rebeliões" não passava, no linguajar alegadamente técnico do Sistema Penal, de meros "tumultos".
Mas, como na velha e sábia máxima, antes tarde do que nunca que vozes do comando da Susipe tenham admitido que a crise no Sistema Pena do Pará é a mais grave dos últimos anos, o que indica que tumultos não foram tumultos, mas motins - ou rebeliões - configurados não apenas dentro de casas penais, mas fora delas, uma vez confirmado que a ordem para a depredação e destruição de ônibus partiu de dentro presídios situados na Grande Belém.
Ao mesmo tempo, todavia, em que revela notável contribuição à honestidade política, a Susipe também deixa os cidadãos meio que entre curiosos e preocupados quando informa que, a partir de hoje, a rotina das unidades prisionais será retomada, com atividades como audiências, visitas e banhos de sol, que estavam suspensos desde a quinta-feira.
Meno male!
Se isso concorre para o restabelecimento da ordem nas casas penais, ponto para a Susipe. E palmas pra ela.
Mas convém indagar: e outras rotinas nas cadeias e nos presídios, como é que vão ficar?
Como é que ficará, por exemplo, a rotina do uso de telefones celulares?
Na primeira noite em que estouraram os motins - reduzidos, repita-se, a meros "tumultos" no linguajar da Susipe -, coleguinhas jornalistas que estiveram pessoalmente no front dos acontecimentos relataram ao poster que obtiveram informações sobre o que acontecia no interior dos presídios diretamente dos próprios internos.
Dos próprios internos? Sim, deles mesmos.
Como? Através de telefones celulares, ora bolas.
No sábado de manhã, repórter da TV Liberal que estava na Central de Triagem de São Brás - onde acabara de ser contido um motim em que três agentes chegaram a ser mantidos reféns - exibiu ao vivo, e diretamente de um telefone celular, o áudio em que um detido relatava como estava o clima no interior da cadeia.
Além de jornalistas, os presos se comunicavam à vontade com seus familiares durante o desenrolar dos motins.
Uso de celular por um facínora custodiado pelo Poder Público tem a mesma letalidade que uma arma das mais letais. Sem tirar nem pôr, é isso mesmo.
Se as leis brasileiras são lenientes a esse respeito - daí não poder a Susipe exceder-se em medidas que poderão afrontá-las -, é possível estabelecerem-se controles mais severos que, se não coibissem, pelo menos contribuiriam para reduzir a folga, a liberdade escandalosa, o à vontade espantoso com que presidiários usam telefones celulares.
A Susipe, quando confrontada com essa realidade, haverá dizer que faz pente-finos periódicos e apreende dezenas de celulares nos presídios.
Se é assim mesmo, convém melhorar o pente-fino. Porque tão banal e rotineiro quanto o banho de sol, que deverá ser retomado a partir de hoje, é o uso - criminoso, disseminado, constante e escandaloso - de telefones celulares, que, vale reforçar, nas mãos de um bandido preso se transformam em armas das mais mortíferas.
Ou não?

2 comentários:

Anônimo disse...

Não é só o sistema penitenciário que está enfrentando crise.O setor de Inteligência também. Foi o "calcanhar de Aquiles" de toda essa história. O setor estaria com uma delegada formada em 2007, e que logo assumiu no lugar de um delegado experiente , pediu licença. Seria bom colocar gente comprometida e com experiência. As rebeliões não eram para ter acontecido e provocado o terror na cidade. Mexer em todo o time, colocar essa gente novinha que entrou não faz tempo e já está na capital. Delegadas que só vivem no Facebook posando em plantões em delegacias cheias de charme, como estivessem em um estúdio fotográfico. Afinal , é modelo ou delegada? Tem que ir para o interior,aprender o bê abá.
Nem bem entra na policia já está na cidade, e o nosso interior, como fica?

Anônimo disse...

Hahaha pensei que aqui era a Suécia. É tudo tão lindo na propaganda institucional. Começaram a calçar a sandália da humildade. Então tá!