As imagens que a TV Liberal exibiu ontem com exclusividade, revelando sessão de tortura a que foi submetido um recruta nas dependências de prédio da Aeronáutica, em Belém, são espantosas não propriamente pela violência - nausenante, claro - das agressões, mas pelo que representam.
A violência, as torturas, os maus-tratos, os espancamentos - classifiquem como queiram classificar as cenas mostradas na TV - representam uma prática.
Representam uma rotina.
Um hábito.
Quase uma tradição, digamos.
Quem o disse?
Um dos militares entrevistados na reportagem, que confessou já ter sido, ele próprio, vítima da mesma selvageria, transformando-se depois no agressor de colegas recém-ingressos na Aeronáutica.
Pergunta-se-se: a Aeronáutica nunca soube dessas práticas?
Nunca teve conhecimento disso?
Jamais, em tempo algum, os comandos dessa força armada tomaram conhecimento, nem mesmo por alto, de algum indício sobre a habitualidade dessas agressões?
A isso chamam de trote.
Admitamos - apenas por amor ao debate, como dizem nosso dotores juristas - que as agressões, mesmo selvagens, sejam um trote, uma cerimônia de passagem, de iniciação, vá lá.
Mas o trote ocorreu numa dependência da Aeronáutica.
Ocorreu dentro de um hospital da Aeronáutica.
Foi a primeira vez que isso ocorreu no alojamento?
Muito, muitíssimo provavelmente não.
Então, é assim: ninguém é ingênuo de acreditar que o comando da Aeronáutica nunca, nem por alto, tivesse ouvido falar sobre essas selvagerias.
Mas, mesmo que alguma vez tenha recebido as mais remotas informações sobre práticas assim configuradamente criminosas, por que nunca passou a estabelecer a rotina, a prática, o hábito de dissuadir preventivamente esses trotes, alertando sistematicamente seus potenciais autores poderiam ser excluídos da força, além de responderem a inquérito policial, caso viessem a protagonizar barbaridades como as que todos vimos?
Ou será que trotes desse nível são tolerados para que se prove, subliminarmente, o grau de macheza dos integrantes das nossas forças armadas?
Céus!
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