segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Tutancâmon, Nasser e Mubarak




Uma das civilizações mais antigas do mundo, floresceu às margens do rio Nilo. O Egito voltou à moda. Há duas faces nessa febre egípcia. Uma delas é mais etérea. É o fascínio pelo esotérico, pelo misterioso. O poder das pirâmides, túmulos dos faraós e a curiosidade pelas suas maldições. A outra face é mais interessante do ponto de vista do conhecimento. Durante mais de 20 séculos, arqueólogos, turistas e ladrões de túmulos procuraram os locais de sepultamento dos faraós do Egito. Quase nenhum desses túmulos, depósitos de tesouros, escapou ileso.
Contudo, no Vale dos Reis, onde os faraós foram sepultados, durante meio milênio um túmulo foi virtualmente esquecido. Trata-se do agora famoso túmulo do rei Tutancâmon, afinal descoberto em 1922. Ademais, muito pouco se sabe desse monarca. Calcula-se que tinha apenas 10 anos quando seu reinado começou no ano de 1361 a.C. Casou-se com uma menina de 12 anos e morreu com 19. No entanto, por ter sido encontrado quase intacto, é hoje a mais empolgante descoberta arqueológica do mundo e o maior dos testamentos já encontrados do estilo de vida no Antigo Egito.
Mais recentemente, o Egito teve o Saladino dos tempos modernos. Em 15 de janeiro de 1918, nasceu em Alexandria, Gamal Abdel Nasser, o futuro rais – nome dado para Nasser ao se tornar governante. Filho de carteiro, ele se tornou o primeiro “egípcio autêntico” a tomar as rédeas de seu país desde os tempos dos faraós. Teve um destino excepcional. Seu governo nacionalizou bancos e o canal de Suez, expulsou os britânicos e realizou uma grande reforma agrária. O acionamento da barragem de Assuã, graças à União Soviética, permitiu recuar o curso do Nilo, e os trabalhadores agrícolas pararam de sofrer com as cheias do Nilo. Fundou, em 1958, a República Árabe Unida. O comandante tornou-se o héroi das multidões árabes.
Em junho de 1967, a vitória de Israel sobre os egípcios, jordanianos e sírios assinalou a fim do nacionalismo árabe. No entanto, o povo não imputou essa derrota e a perda do Sinai a Nasser. Em fevereiro de 1968, o Egito vacilaria novamente, o país virou um caos. Em 1970, o palestino Yasser Arafat e o rei Hussein da Jordânia, depois dos afrontamentos do Setembro Negro entre milícias da OLP e as forças da Jordânia, voltaram a se reportar ao rais. Nasser conseguiu então conter o derramamento se sangue. E morreu no dia seguinte à assinatura do acordo entre os dois inimigos, em 28 de setembro de 1970. Mas, em 1978, o Egito assinou uma paz separadamente com Israel. O sonho nasseriano da unidade árabe estava morto.
Agora, desde (25.01), o Egito é um caldeirão. Crise econômica, revoltas populares e revelações embaraçosas ameaçam gerar uma reviravolta sem precedentes. O presidente ditador Hosni Mubarak, no poder há 30 anos, enfrenta a ira de manifestantes que querem a sua queda e o acusam de ser um serviçal dos Estados Unidos e de Israel. O ultimato está dado. No Egito multidões sublevadas saíram pelas ruas contra o ditador que resiste no cargo e querem sua renúncia já. As forças armadas continuam ao lado do povo.
Uma revolução no Egito pode redefinir o Oriente Médio, como fizeram Nasser e a virada pró-ocidental de Anuar Sadat. Uma onda de protestos varre o gigante Egito e contagia outros países árabes governados por ditadores (Tunísia, Iêmen, Jordânia e Argélia). Estaremos diante de uma revolução democrática – ou de um avanço do islã radical?s



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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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