quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Credibilidade ou credulidade no meio publicitário?

STAEL SENA LIMA

Ninguém, em sã consciência, pode ignorar atualmente a influência que os meios publicitários exercem sobre a consciência coletiva e difusa de uma sociedade. O Brasil, conforme pesquisa recente realizada em 47 países para medir a credibilidade do meio publicitário, é o país que mais confia em publicidade e propaganda em geral. Com efeito, a confiabilidade brasileira gira em torno de 83% a 67%. Em outros países, contudo, tais como a Dinamarca, a Alemanha e a Itália, esse percentual decresce para menos da metade, variando entre 35% e 28%.
Pelo prisma do senso comum, é provável avaliar que a alta confiança do Brasil, seus cidadãos, nos meios publicitários tem alguma base virtuosa. Deve haver um pouco de verdade nisso. Mas não se deve menosprezar que outros fatores endógenos à realidade de cada país podem ajudar a compreender um pouco mais esse quadro diferenciador. O fato é que credibilidade e credulidade, somente na aparência, são a mesma coisa, posto que na essência distinguem-se largamente.
Assim, é possível afirmar que essa diferença de credibilidade perante os meios publicitários entre cidadãos de países emergentes, de um lado, e desenvolvidos, de outro, deve-se ao quase irrestrito, plural e democrático grau de acesso à informação relativa a atos e fatos que são veiculados nestes últimos, características ainda pouco expressivas nos primeiros se comparado com estes. Talvez por isso as populações dos países desenvolvidos sejam mais críticas diante da publicidade e propaganda.
É possível dizer também que tal diferença pode ser atribuída ao tempo de escolaridade dos cidadãos que nos assim chamados países desenvolvidos é alto, ao passo que nos emergentes e em desenvolvimento permanece baixo e, desse modo, continua a merecer mais políticas públicas de inclusão, ainda que se reconheçam avanços.
É possível asseverar, em acréscimo, que o meio publicitário pode se converter em certas circunstâncias num fim, em si mesmo, no qual a realidade e a “verdade” veiculadas podem ficar subtraídas, manipuladas e constrangidas, prisioneiras que tendem a se tornar de algum totalitarismo publicitário de natureza política e econômica, mesmo que vestidas e apresentadas para o desfile com ares e cores democráticos na passarela do quotidiano.
Essa interação envolvendo resultado da pesquisa e possíveis causas diferenciadoras entre países quanto à credibilidade do meio publicitário depende, por evidente, da análise da intrincada rede de atores públicos e privados no curso da evolução política de cada País. Assim exposta a questão, torna-se crível concordar de algum modo com a soma das causas atribuídas a maior ou menor taxa percentual de credibilidade dos ditos meios.
A medição da credibilidade dos meios publicitários, claro, deve ter sempre por base a usabilidade, tanto na forma quanto no conteúdo, de critérios éticos quando se trata de expressar a realidade e sua verdadeira verdade. Cumpre ressaltar, por fim, que se a publicidade é a arte, ciência e técnica de tornar algo ou alguém conhecido nos seus melhores aspectos para obter aceitação do público, então também é verdade que credibilidade é bem diferente de credulidade, visto que nesta predomina a conduta individual e coletiva de acreditar em tudo aquilo que se lê ou se ouve de outrem com grande grau de ingenuidade, simplicidade e ausência de crítica. Alguém desconfia que o que vigore por aqui seja mais credulidade e menos credibilidade diante dos meios publicitários?

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STAEL SENA LIMA é Pós-graduado em Direito, UFPA
staelsena@hotmail.com

2 comentários:

Anônimo disse...

Dá prazer constatar, em um blog desta qualidade, mesmo à guisa de críticas(ainda bem),que hoje os blogs tem mais e crescente credibilidade que outos meios também do universo publicitário. Justamente porque nos blogs, como regra geral, vigora a democracia substancial quanto se trata de expor, e de modo dialético, os fatos e atos veiculados.

Anônimo disse...

Ótimo artigo! Junte a ele o caso da propaganda mentirosa do Bradesco dizendo que está presente em TODOS os 5500 municípios brasileiros e pronto! Para não falar na propagando do governo e da prefeitura. Se acreditássemos nelas estariamos vivendo na Suécia!