Do Comunique-se
Mesmo tendo dito esta semana que nunca processou jornalistas, o presidente do Senado, José Sarney, acumula mais uma ação contra veículos de comunicação. Além de três ações contra o Jornal Pequeno, do Maranhão, e uma contra o colunista do Estadão e deputado de São Paulo João Mellão Neto, em 1994 o senador processou o Jornal do Brasil pela publicação de matérias sobre suas propriedades, máfia dos anões do Orçamento e denúncias de corrupção, informa o jornalista Dacio Malta, que na época era editor chefe do veículo, em seu blog.
De acordo com o jornalista, a ação movida por Sarney por danos morais exigia, como indenização, o montante de dez vezes o valor arrecadado com a venda e publicidade dos jornais que circularam com as matérias contestadas por Sarney.
A acusação
Após a publicação de matérias sobre o senador no jornal, a defesa de Sarney acusou o veículo de campanha infame contra ele.“Lastreados em fantasias e conjecturas, desencadeou o órgão de imprensa, mantido pelo Réu (JB), contra o Autor, a mais sórdida e ignominiosa campanha infamante, jamais movida a um homem público no Brasil”, alegavam os advogados de Sarney na época.
A defesa
“Não foi o ’Jornal do Brasil’ quem o feriu e magoou. Foi a sua própria conduta improbidosa, o seu desdém pela justificação dos seus atos, o seu comportamento, ora ostensivamente ilícito, ora no mínimo nebuloso (...) ao invés de fingir-se ultrajado, como nunca se sentiu realmente, tanto que se absteve de defender-se e explicar-se, de vir à luta contra todos os órgãos de imprensa, que se viram forçados a não ocultar do público os seus desmandos, os seus abusos, o seu descaso pelos deveres de bem governar...”, declarou a defesa do Jornal do Brasil, feita pelo advogado Sergio Bermudes, que ganhou a causa.
“A tática dele é brigar com um jornal apenas, mesmo os outros criticando suas ações. Acha que assim vai conseguir intimidar os outros jornais”, diz Malta, que acompanhou todo o caso.
Além desses cinco processos, recentemente o jornal O Estado de S. Paulo foi proibido de publicar matérias sobre a Operação Faktor, conhecida como Boi Barrica. Em caso de descumprimento, o jornal deverá R$ 150 mil por cada matéria publicada. Sarney negou que tenha relação com a decisão imposta ao jornal, alegando que a ação foi apresentada por seu filho, Fernando Sarney.
Um comentário:
Por falar em PMDB
Sob condições “normais”, a imolação pública de José Sarney mereceria lautos festins. Acontece que a febre moral da grande imprensa visa apenas desgastar o PMDB governista antes das disputas de 2010. É pura campanha eleitoral.
As sucursais brasilienses existem há décadas, com repórteres alimentados por centenas de fontes em todos os níveis de poder, e nenhum deles, nenhunzinho, jamais soube de falcatruas operadas por diretores do Senado antes do governo Lula. O Sarney que presidiu a Casa e coordenou a base parlamentar do governo FHC (1995-97) era probo, literato e elegante. E nunca é demais lembrar que Agaciel Maia esteve lá por 14 anos.
Parece que duvidar da imprensa virou elogio ao coronel maranhense. Sei. Então tá. Proponho o seguinte: aspiremos bons fluídos republicanos, montemos na vassoura ética e investiguemos o PMDB de uma vez por todas. Que tal começar pelo quercismo?
Sugiro um levantamento dos órgãos e cargos ocupados por peemedebistas na atual gestão paulistana de Gilberto Kassab. Como se sabe, a vice-prefeita, Alda Marco Antônio, foi secretária dos “polêmicos” governos estaduais de Orestes Quércia (1987-90) e Luiz Antônio Fleury (1991-94) – aquele do massacre do Carandiru.
Alguém pode aproveitar o embalo para escarafunchar também o governo de José Serra, que se aliou a Quércia para vencer a disputa estadual e manter sólida maioria na Assembléia. Não parece razoável que uma aliança dessa envergadura tenha transcorrido sem qualquer, digamos, retribuição. Ora, deve restar alguma irregularidade, mínima que seja, escondida nos milhares de departamentos e incontáveis gabinetes dessas portentosas máquinas administrativas.
Ops. Cadê o furor investigativo? Agora deu preguiça?
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