quinta-feira, 11 de julho de 2019

Maia deixa o Capitão chupando o dedo com a aprovação da reforma



Vejam só como são as coisas.
Olhem as capas de quatro dos principais jornais do País, nesta quinta-feira (11).
Só dá Rodrigo Maia.
Seja nas manchetes, seja nas fotos principais, só dá ele.
Parece até que, digamos assim, o pai da reforma da Previdência, aprovada folgadamente por 379 votos a 131, é o presidente da Câmara dos Deputados.
Parece até que a proposta de emenda constitucional foi uma iniciativa do Poder Legislativo, e não do Executivo.
E Bolsonaro?
E o Capitão, que apresentou a PEC e fez questão de levá-la pessoalmente ao Congresso nas primeiras semanas de seu governo?
Não se falou nele, durante uma sessão em que o presidente da República poderia ser o maior protagonista na aprovação de uma iniciativa que se avalia como fundamental para evitar que o país quebre daqui pra amanhã, caso o desequilíbrio nas contas da Previdência não seja urgentemente estancado.
Mas não.
Bolsonaro estava sumido.
Diz-se que estava no Alvorada, monitorando votos.
Monitorando votos?
Hehe.
Falem sério!
Quando, daqui a 500 anos, falarem num dia como o de ontem, vão se lembrar, é claro, do governo Bolsonaro, mas não do presidente Bolsonaro.
Porque, se fosse pelo presidente – por ele, pessoalmente, pela figura institucional que ele represente – não teríamos reforma alguma.
Não teríamos a reforma nem mesmo daquele fosso, o pequeno fosso que fica em frente ao Palácio da Alvorada, no qual turistas jogam a moedinha quando o visitam em Brasília.
Porque Bolsonaro, durante todo esse processo, foi de uma nulidade aterradora.
De uma nulidade pavorosa.
De uma nulidade clamorosa.
De uma nulidade espantosa.
Por tudo o que ele disse.
Por suas declarações equivocadas.
Por ter estigmatizado o que ele chama de “velha política” – e portanto de “velhos políticos” (que nem ele, vale dizer).
Por ter-se indisposto com o próprio presidente da Câmara.
Por ter-se mostrado incapaz de articular a formação de uma base consistente para defender seu governo.
Por ter sido, no mínimo, omisso diante de ofensas que Carluxo, seu filho mercurial, e Olavo de Carvalho, o desequilibrado que, acreditem, é o guru desse governo, dispararam contra Maia, tratando-o depreciativamente nas redes sociais.
Por tudo isso, enfim, não tenhamos dúvida: a reforma da Previdência, aprovada ontem, é obra, a rigor, não do governo Bolsonaro, mas da Câmara dos Deputados e de seu presidente, Rodrigo Maia.
Aliás, o presidente da Câmara chamou si para os holofotes ao fazer algo inédito – ou pouco usual: antes de autorizar a divulgação do resultado no painel eletrônico, foi para a tribuna e fez um discurso.
“Não haverá investimento privado sem democracia forte. Investidor de longo prazo não investe em país que ataca as instituições. Em nenhum momento, quando a Câmara foi atacada, saí do meu objetivo, que é a votação de hoje. [...] Este é um momento histórico para todos nós, os que defendem e os que não defendem a reforma. A cada discurso que ouço, tenho convicção de que a posição de reformar o Estado é a posição correta”, disse o deputado.
E o relator do projeto, Samuel Moreira (PSDB-SP), valeu-se de uma imagem futebolística, aliás muito apropriada, para resumir o papel de Maia em todo esse jogo: “Ele matou a reforma no peito, bateu escanteio e correu para fazer gol, mesmo com o Bolsonaro chutando contra”.
Entenderam?

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