terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

A Hydra de Lerna e a Hydro - mitologia e realidade no Pará


ISMAEL MORAES – advogado socioambiental

As mitologias narram tragédias com heróis. Nossa dura realidade narra apenas tragédias.
A Hydra de Lerna, na mitologia grega, era um monstro que tinha corpo de dragão e várias cabeças de serpente. Segundo a lenda, as cabeças da Hydra podiam se regenerar; algumas versões dizem que, quando se cortava uma cabeça, cresciam duas em seu lugar, mas as primeiras versões da lenda não incluíam essa característica. Havia uma cabeça, mais forte, venenosa e mais difícil de ser morta.
A Hydra era tão venenosa que matava os homens apenas de cheirar o seu hálito ou o seu rastro, em terrível tormento. A Hydra foi derrotada por Hércules, em seu segundo trabalho.
No Pará, a entidade Hydro, com poder monstruoso, igualmente possui diversas cabeças políticas de muitas serpentes, e uma cabeça mais difícil de ser morta – Jatene e seu grupo no poder, com ramificações na Procuradoria Geral do Estado, na Segurança Pública, nos órgãos ambientais, no Ministério Público. Ele e Luiz Fernandes estão entre as serpentes que fazem parte do conjunto de cabeças de serpente centrais da Hydro. Todos com um veneno e uma perversidade próprios funcionando para manter a Hydro viva e não se importando com quem vai morrer para isso.
Há uma semana todos veem o que ocorre na Semas, órgão máximo de proteção ao meio ambiente até então controlado com imenso poder pela cabeça de serpente Luiz Fernandes: estruturação criminosa de fraudes, falsidades ideológicas, simulações de fiscalizações, alteração do sistema de controle por satélite, licenças forjadas, acobertamento de dreno clandestino, enfim, um conjunto de maldades planejadas com frieza contra as comunidades envenenadas só imaginável ter existido no regime nazista.
Em dezembro, a cabeça de serpente jurídica instalada na Procuradoria Geral do Estado (órgão onde é difícil encontrar procuradores quem não sejam ou não são advogados particulares dessa multinacional) defendeu a Hydro perante a 9ª Vara Federal justificando a construção de bacia de rejeitos químicos sobre a Reserva Ecológica com mais afinco que os advogados particulares do escritório Silveira e Athias. O titular da PGE, Ophir Cavalcanti Jr., faz de conta que nada sabe.
Outras cabeças de serpente agem nos bastidores, mas talvez seja o caso de citá-las em outros artigos no momento em que destilarem veneno.
O governo Jatene ultrapassou há muito tempo o limite da indecência. Agora está ultrapassando o limite da delinquência.
A principal cabeça da Hydro, o governador Simão Jatene, perdeu de tal maneira a vergonha na cara que, mesmo com o flagrante do dreno clandestino, do flagrante da “vistoria” da Semas que concluiu inexistir irregularidades, do flagrante feito por promotores de Justiça de fraudes nas licenças, ainda teve a desfaçatez réptil em aparecer na TV defendendo a sua matriz monstruosa e culpar as chuvas pela poluição mortífera. Tão grande é a sua sofreguidão em amealhar milhões através dos movimentos sub-reptícios do seu filho Beto Jatene, conhecido operador oficial do pai nos bastidores das negociatas com o Poder Público no Pará.
Nesta história da realidade paraense não existe um herói. Se todos os paraenses não se reunirem e se fizerem heróis de si próprios, a Hydro que nos envenena e nos suga os recursos, nos levará à morte pela miséria e a violência.

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