segunda-feira, 30 de março de 2015

As circunstâncias impedem uma solução


Antes das eleições para a composição de um novo Parlamento israelense, pesquisas de intenções de voto davam vantagem à União Sionista, liderada pelo líder trabalhista Yitzhak Herzog e, em segundo lugar, a Tsipi Livni, no comando da sigla centrista Hatnua. O programa da União Sionista era redistribuir as riquezas. E, além da economia, Herzog e Livni preocuparam-se com a segurança do país. Herzog, de 54 anos, mantém boas relações com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas. Uma das propostas do líder trabalhista é ser favorável ao congelamento dos assentamentos na Cisjordânia. Acredita na chamada "solução de dois Estados". Portanto, cerca de 20% de árabes israelenses, parte de uma população de 8 milhões no território de Israel.
Mas a aposta no radicalismo fez Benjamin Netanyahu (na foto) se reeleger pela quarta vez consecutiva nas parlamentares antecipadas por ele mesmo, o premier mais longevo da história do país. Desde aquele momento, Netanyahu já dava demonstrações de que intensificaria sua retórica ultraconservadora, com a proposta de transformar Israel num "Estado nação judeu". Ao longo da campanha, quando a oposição tocava em temas como o crescimento da desigualdade e o aumento do custo de vida no país, perdeu o favoritismo e apostou todas as suas fichas focando na segurança nacional, na conquista dos votos ao formar uma coalizão ainda mais conservadora, da direita nacionalista e religiosa - e coesa.
Netanyahu, o principal líder da direita no país, raramente aborda o tema da paz. Em vez de distribuição de riqueza, prefere falar sobre como evitar a recessão e afetar o mundo. O golpe de mestre veio quando às vésperas da eleição, invocou uma conspiração para derrubá-lo, disse que ampliaria os assentamentos judeus - considerados ilegais pela comunidade internacional - e não hesitou em abandonar o compromisso de permitir um Estado palestino, que havia assumido em 2009. Outra medida de segurança a fazer parte do discurso de Netanyahu, é claramente, sobre o Irã. Depois de reeleito, negou o recuo, mas é inevitável o raciocínio de que as circunstâncias impedem uma solução.
Enquanto Barack Obama finalmente fazia sua parte, algo de interessante e encontrava-se em Teerã para dar continuidade às negociações. Aí, Netanyahu faz uma jogada de pôquer, pagando para ver, aceitou convite do presidente da Câmara dos Estados Unidos, o republicano John Boehner, para exprimir as percepções dele sobre o Irã. Estava muito claro que o objetivo de Netanyahu: defender Israel, digamos assim, de um "acordo ruim". Contudo, para a oposição americana, o presidente israelense mergulhou em lagoa rasa, criando uma delicada questão bipartidária nos EUA, mas a intenções eram cristalinas de esnobar o democrata Obama.
A estratégia até que acabou funcionando e Netanyahu conseguiu a maioria de assentos no Parlamento por parte do Likud, partido em que é o líder. Mas, terá de fazer um esforço hercúleo na necessidade de lidar com uma oposição bem mais estruturada, mais forte e coerente. Entre ela, está a Lista Conjunta, sigla formada por três partidos árabes e um socialista, que obteve 14 cadeiras no Knesset (Parlamento israelense) e se tornou a terceira força política do país, a despeito dos esforços de Netanyahu.
Para o líder da lista árabe, Ayman Odeh, "o racismo tem se tornado um fenômeno crescente na política israelense". A minoria árabe-israelense, que totaliza 1,7 milhão de cidadãos, mas sua participação política é historicamente abaixo da média geral. Árabes que vivem na Cisjordânia, na Faixa de Gaza e na Jerusalém Oriental não podem votar. O voto de confiança dos israelenses significa que o país vai continuar investindo em assuntos como o terrorismo islâmico e o programa nuclear iraniano. Israel não poderá esquecer sua agenda doméstica. O país tem mais de 2,5 milhões de pobres. Até quando teremos de assistir a um confronto tão desigual quanto injusto?

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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