segunda-feira, 2 de setembro de 2013

A imagem do ativismo radical


Sem cara. O bloco está na rua, não é centralizado nem permanente. São desconhecidos com anseios similares unidos para uma única ação. Uma tática de guerrilha urbana anticapitalista que pegou carona nos protestos atuais. E, por isso, incontroláveis. Em tempo pretérito, “performance” significava “espetáculo em que o artista atua com inteira liberdade e por conta própria, interpretando papel ou criações de sua própria autoria” (Houaiss) deslumbrando o espectador. Podia-se transferir isso para um craque dos campos de futebol que, com suas jogadas, enchia os olhos do torcedor. Podia-se pensar no que se quisesse desde que nos proporcionasse sentimentos intensos de alegria, prazer e admiração.
Hoje, infelizmente, usa-se esse substantivo feminino para justificar atos selvagens, covardes e criminosos contra propriedades públicas e privadas. Qualquer explicação dos membros dos black blocs para justificar os atos de vandalismo a que estamos assistindo em nosso país contra “tudo que está aí”, não convence. Ao contrário, nos insulta e ofende. Saudade do tempo em que se lutou pelas Diretas Já! Ou pelo impeachment de um presidente da República de maneira pacífica. Saudade a gente já sente dos bravos jovens do Movimento Passe Livre (MPL).
Desde o princípio das manifestações de rua no dia 6 de junho de 2013 em São Paulo contra o aumento nas passagens de ônibus, muito ficou por ser entendido. Seria realmente a carestia a motivação dos protestos que cruzaram a barreira de 1 milhão de pessoas em todo o Brasil ou o esgotamento do sistema político? E os manifestantes, eram jovens anarquistas sem partido ou seriam necessários novos conceitos para dar conta de tantas vozes?
De todas as perguntas, a que mais intrigou o País segue sem resposta clara: em meio ao mar de cabeças e punhos em riste, quem eram e o que queriam aqueles jovens de preto dispostos a destruir bancos e lojas e enfrentar a polícia com as próprias mãos? Black bloc foi o termo surgido de forma confusa na imprensa nacional. Seriam jovens anarquistas anticapitalistas e antiglobalização, cujo lema passa por destruir a propriedade de grandes corporações e enfrentar a milícia. Nos jornais e na boca dos âncoras televisivos, eram “a minoria baderneira” em meio a “protestos que começaram pacíficos e ordeiros”. Seria uma abordagem simplista diante de um fenômeno complexo.
Corretos ou não, a tática black bloc forçou a discussão sobre o uso da desobediência civil e da ação direta, do questionamento da mobilização pelo próprio sistema representativo. Ignorá-lo não resolve a questão: o que faz um jovem se juntar a desconhecidos para atacar o patrimônio de empresas privadas sob o risco de apanhar da PM? “O que nos motiva é a insatisfação como sistema político e econômico”, disse um jovem e três black blocs na bagagem a um repórter de um Jornal televisivo.
Aglutinados pelas redes sociais da internet, milhares de jovens tentam articular outra explosão de protestos, agora no Dia da Independência. Não se sabe se o plano vai funcionar, mas uma coisa é certa: ao contrário dos acontecimentos de junho, o movimento nada tem de apartidário. O alvo da “Operação Sete de Setembro” é a presidente Dilma Rousseff.
Segundo revista de circulação nacional, o caráter político-ideológico da “operação” fica claro quando se identifica alguns de seus fomentadores na internet, entre os mais ativos consta uma ONG (Brazil No Corrupt – Mãos Limpas) de simpatizantes de conhecida família de extrema direita do Rio de Janeiro, os Bolsonaro. E um personagem ligado ao presidente da Assembleia Legislativa e do PSDB paranaenses, Valdir Rossoni. O problema é que parte dos organizadores das manifestações anda com problemas na Justiça e no Ministério Público.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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