Mesmo que a figura não seja simpática e tenha o nariz empinado, foi impossível não prestar atenção em Donald Trump (na foto), o pré-candidato do Partido Republicano à Presidência dos Estados Unidos. Quanto mais politicamente incorreto faz de suas declarações, mais consolidava a liderança entre os dezessete aspirantes à nomeação republicana - três abandonaram a corrida mais cedo. Trump começou a disputa prometendo construir um enorme muro para impedir a imigração pela fronteira com o México - e enviar a conta da obra para o país vizinho.
Após os atentados de 13 de novembro em Paris e o massacre de catorze pessoas por um casal de radicais islâmicos na Califórnia, Trump acrescentou que, se for presidente, proibirá a entrada também de muçulmanos. A atitude de candidato que não joga segundo as regras políticas tradicionais agradou a uma boa parcela de eleitores conservadores, principalmente aos que pertencem à minguante classe média americana. O magnata do setor imobiliário não foi o único a despontar, apesar - ou por causa - das ideias estapafúrdias. Um de seus concorrentes, o cirurgião Bem Carson, acredita que as teorias de Charles Darwin são “coisas do demônio”. Pesquisas feitas à época mostram que Trump perderia a eleição de 2016 para a democrata Hillary Clinton.
Os resultados de 1º de fevereiro em Iowa se desviaram em uma direção satisfatória para os republicanos, mas desconfortável para os democratas. Não ainda em termos de eleição de novembro propriamente dita, mas por seu significado para as disputas internas até julho, Trump, um pesadelo para a maquina republicana e para quem tenha um mínimo de bom senso político, saiu diminuído pela derrota para Ted Cruz e mais ainda pelo quase empate com o terceiro colocado, Marco Rubio. Hillary conseguiu um mero empate com Bernie Sanders e isso faz prever uma disputa desgastante.
Os resultados de Iowa repõem a disputa em um curso familiar, mas o consenso ideológico ainda está abalado. Apesar de Iowa ser um Estado tão pequeno, em que as comunidades se reúnem para debater em espaços públicos durante as primárias, seus resultados têm forte influência sobre o financiamento das campanhas e a estratégia dos pré-candidatos à presidência. A vantagem das convenções partidárias de Iowa é que permite que um grupo de eleitores avalie os candidatos de perto e faça escolhas mais bem informadas do que numa primária nacional.
Democratas e republicanos não estão preocupados somente com o enfrentamento entre si. Surgiu um novo fator de preocupação após as primárias de New Hampshire. Em ambos os partidos, venceram aqueles que significam a “insurgência ideológica” - radicais, portanto - no seio de suas próprias legendas em relação ao poder nelas cristalizados. Pelo Partido Republicano, ganhou Trump, com um passeio no segundo colocado, o senador Marco Rubio - ou seja - os conservadores do partido perderam feio para a direita do partido. Pouco antes da votação, um teatral Trump reafirmou seu compromisso de expulsar muçulmanos e de instituir a tortura de simulação de afogamento como método oficial de interrogatório policial.
O favoritismo era de Hillary, que ficava tirando barato das propagandas de Trump. Mas a coisa não foi tão bem quanto esperava. Pelos democratas, os liberais abençoados pelos cardeais do partido, capitaneados por Hillary, foram massacrados, como não se via há 60 anos, por Bernie Sanders - a plataforma socialista, a pregar que ricos e brancos financiem estudos dos pobres e negros, ficou muito à frente da moderada. É prematuro prever o peso que isso terá nos demais estados, mas há temor de que o fenômeno New Hampshire possa influenciar nas prévias da Carolina do Sul e de Nevada.
Trump, das quatro primárias, venceu três e a esperança dos republicanos moderados de retomar as rédeas do partido ao novo populismo de direita de Trump. Esses resultados inesperados embaralham o jogo que vai decidir os candidatos à sucessão de Barack Obama. E aí, hein? Agora, é só aguardar a Super Terça.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
Um comentário:
Discordo sobre embaralhar. A maioria do povo americano não é mais cristã praticante, são cristãos de fachada. Não é por outra razão que o politicamente correto Obama é presidente. Hillary vai ganhar, não com os pés nas costas, mas ganha com o apoio de Obama e do marido. O melhor candidato da oposição er Cruz, mas teria menos chance que Trump justamente por ser conservador de verdade e não um oportunista.
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