quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Belém nos tempos: a livraria Tavares Cardoso

A Livraria Tavares Cardoso, em 1910

O interior da livraria, em 1910

O prédio após a restauração, em 2008

A incrível livraria, que no início do século XX reunia os melhores títulos do mundo, nos mais variados idiomas e para consumidores que pagavam fortunas para ter acesso a essa sabedoria e cultura. Uma livraria que mais parecia um palácio, com três andares e uma arquitetura que lembrava as grande bibliotecas europeias.
Mais doque isso, foi um dos mais importantes pontos de troca entre a literatura brasileira e portuguesa, na segunda metade do século XIX, levando aos portugueses, obras de ícones brasileiros como Castro Alves. E você passa por ela e nunca teve a curiosidade de conhecer esta história.
Imagine uma cidade, há 110 anos que possuía uma livraria com três andares recheadas de obras do mundo todo. Imagine uma clientela que consumia livros em inglês, alemão, francês e algumas poucas em português. A população sofisticada e rica sonhava em viver na Paris d'América e pagava por isso.
A borracha atraia uma elite endinheirada, que por sua vez pedia produtos sofisticados. Nesse contexto de impressos e leituras, o negócio com os livros atraiu alguns comerciantes portugueses para o ramo, dentre eles, os irmãos Avelino e Eduardo Tavares Cardoso, que aportaram em Belém na década de 1860.
O caminho já tinha sido desbravado por outro livreiro, o tio Henrique d’Araújo Godinho Tavares, que por aqui abriu a Godinho Tavares & Cia. O negócio de tio Henrique foi decisivo para o caminho no ramo dos livros para os irmãos Tavares Cardoso não somente em Belém como também em Lisboa, uma vez que estreitou relações comerciais com o livreiro editor português João Baptista Mattos Moreira.
Uma sociedade que durou até a assimilação, por completo da firma Mattos Moreira & Cia, pelos irmãos Avelino e Eduardo Tavares Cardoso, sob a Livraria Tavares Cardoso & Irmão.
Em 1872, o negócio ganha um caráter transnacional. Avelino mudou-se para Lisboa e abriu outra loja de livros com a mesma denominação da primeira. A sociedade de Henrique d’Araújo Tavares e Mattos Moreira, naquele momento, foi estabelecida diretamente entre Mattos Moreira e Avelino Tavares Cardoso
A parceria entre os irmãos Tavares Cardoso foi responsável pela publicação e divulgação várias traduções de peças e adaptações de romances para o teatro, tão relevante que, a partir de então, as obras desses autores aparecem recorrentemente nos anúncios da Livraria de Tavares Cardoso & Irmão.
A empresa ganha a qualificação de Livraria Universal de Tavares Cardoso & Irmão, em uma via de mão dupla.
Porque em Portugal a parceria possibilitou a edição, impressão e divulgação de obras de escritores nacionais ou de livros com temas brasileiros, impressos em Lisboa, não apenas em primeira como em segunda edição, exemplo disso são os livros: Scenas da Vida Amazônica (1886), Estudos Brasileiros (1889), de José Veríssimo; Saldunes (1900), de Coelho Netto; Estudos Paraenses (1893), de João Lúcio de Azevedo; Os Escravos (1884), de Castro Alves; e O descobrimento do Brasil (1900), de Alberto Pimentel.
Os irmãos Tavares Cardoso tornaram-se nesse contexto de conexão “além-mar” atores e mediadores de trocas culturais entre Brasil e Portugal. Matriz em Belém com filial em Lisboa.
O prédio ainda está no mesmo lugar, na João Alfredo, entre Padre Eutíquio e Sete de setembro. Bem no centro do comércio popular de Belém. Você não o vê porque nunca ousou olhar para o alto.
Para o bem da memória coletiva, a família Tavares Cardoso, ainda proprietária do prédio da Livraria Universal, no centro da cidade, tomou a iniciativa de reformá-lo, com recurso do Monumenta. O Chalé Tavares Cardoso, em Icoaraci, que funcionava como casa de férias do livreiro Eduardo, vendido à prefeitura, não teve tanta sorte e hoje agoniza, esperando o momento de desaparecer levando junto esta história.
O prédio da livraria Universal hoje, funciona como loja de tecidos. Divisórias em madeira escondem todo o esplendor dos 3 andares mas que estão lá. Esta parte escondida, mas milagrosamente preservada, poderia ser compartilhada , e quem sabe virar até atração da loja de tecidos e roupas, que deixaria de ser mais uma , para ser a atração do velho centro.
Fontes: http://www.espea.iel.unicamp.br/textos/IDtextos_55_pt.pdf/ Secult 2004/ Blog Flanar/ fotos atuais retiradas da Internet.

7 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom, espero que este imóvel entre no circuito geoturistico. Aliás este, projeto deveria ser incentivado pelo Estado, assim como a valorização da História, obrigado post, gosto muito de saber sobre Belém de antigamente.

Anônimo disse...

Tirem os camelôs da Rua João Alfredo!!!

Ronaldo Passarinho disse...

Nos dias de hoje, jamais a audácia dos heróis citados teria exito. Infelizmente o "progresso da internet" está acabando com o instrutivo e saudável hábito da leitura. Os excelentes livros que tanto nos ensinaram. dão
lugar a massificação de livros de auto ajuda. Se isso é saudosismo, sou saudosista de um tempo que não tem mais retorno.

Anônimo disse...

Seu Espaço, poderia dizer qual é a tal loja atualmente? A estrutura metálica é uma obra de arte, belíssima!

Anônimo disse...

Só na força. E o governo não quer um novo eldorado.

Anônimo disse...

GOstaria de saber quem deixou derrubar o Grande Hotel!

Anônimo disse...

Quem eram os vereadores de Belém, quando derrubaram o Grande Hotel?
Quem era governador?
Quem era prefeito?
Quem era chefe do Ministério P+ublico Local?