segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Guatemala: coração do mundo maya


Aproximava-se o dia de mais uma viagem ao exterior. Mais uma vez, acompanharia meu filho que iria fazer uma exposição oral no XVII Congresso Ibero-Latinoamericano del Asfalto, na Guatemala. Às vésperas da viagem, a excitação era muito grande, pois sabia que, na parte reservada ao turismo, iria conhecer o coração do mundo maya. Ficamos hospedados na Casa Santo Domingo, um mosteiro do século XVI construído por jesuítas e destruído por um terremoto e pelas águas de um vulcão extinto que se partiu em fenda e inundou toda a cidade. Após restauro, se transformou num dos maiores cinco estrelas que tive ensejo de conhecer.
Visitamos a cidade da Guatemala durante quase dois dias e o que marcou foi ver a ampla possibilidade para os que preferem o turismo especializado, com serviços para qualquer tipo de posse e a cordialidade que caracteriza o povo guatemalteco. É um país geograficamente pequeno, atravessado por duas cordilheiras e numerosos rios. Apresenta imensa floresta tropical, várias planícies, numerosos lagos e tem um lastro de 33 vulcões, dos quais 3 permanecem ativos; um deles tivemos oportunidade de visitar.
A extensão do país permite uma mobilização rápida de um lugar para outro. Ficamos na cidade colonial da Antigua Guatemala, distante 40 minutos da capital, Cidade da Guatemala, e de lá para o Parque Nacional de Tikal são mais ou menos 600 quilômetros, que fizemos de carro; antes ficamos hospedados na ilha de Flores, a 70 quilômetros de Tikal. De manhã cedo, fomos em direção ao coração do Parque Nacional, para ver as antigas ruínas de Tikal, que se erguem silenciosamente como testemunho da existência do que uma vez fora uma poderosa e magnífica metrópole. Foi neste local, uma floresta tropical, onde a grande civilização maya se desenvolveu e floresceu. Os mayas eram incrivelmente sofisticados para sua época, desenvolveram um avançado sistema matemático e linguístico no contexto de que continua sendo uma cultura essencialmente neolítica.
Não tinham habilidades metalúrgicas e tampouco descobriram o uso da roda; não obstante, suas habilidades arquitetônicas, científicas e artísticas não foram superadas por outro povo americano antigo e podiam comparar-se com civilizações clássicas do Velho Mundo. Quem foram os edificadores de Tikal? De onde vieram? Qual foi a causa do colapso das grandes cidades mayas, que ocorreu por volta de 900 d.C.? Essas perguntas, contudo, necessitam respostas com certo grau de certeza. A civilização maya continua sendo um dos desafios culturais menos entendidos e um dos mais enigmáticos da história da humanidade.
Segundo a maioria dos estudiosos, os primeiros colonos da América eram de origem asiática, que ao final da última era glacial cruzaram a ponte natural que se estende sobre o Estreito de Bering. Pesquisadores acreditam que o primeiro assentamento maya conhecido foi em torno de 2500 a.C., no final do Período Clássico. A cerâmica proto-maya mais antiga foi encontrada nesse sítio. Portanto, a civilização maya descende ao redor da parte sudoeste da Península de Yucatán, provavelmente em torno de 1400 a.C., e muita coisa ainda está por ser descoberta.
O Parque Nacional, segundo o guia que contratamos, é para ser visitado com calma em dois dias. Nós o fizemos em quase 8 horas, obviamente com muitos atalhos. Nosso guia era nativo e já tinha trabalhado em muitos projetos de restauração que ali sempre acontecem. Extasiados, visitamos pirâmides, palácios, templos, residências, locais de oferendas e sacrifícios, aquedutos e lagos criados por esse povo.
A civilização Maya estava dividida em várias dezenas de cidades-Estado poderosas e autônomas, com muitas comunidades menores dentro da esfera de influência de uma ou de outra destas. Os vestígios de fortificações e profundas trincheiras flanqueando a periferia de várias cidades são o testemunho da natureza guerreira desse povo extraordinário.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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