terça-feira, 10 de dezembro de 2013
A cultura do improviso
As eleições se aproximam. Estamos ainda a um ano das eleições gerais, mas há sinais de que a disputa será cruenta. A temperatura política, que já esquentara com as primeiras prisões dos condenados no julgamento do mensalão, subiu ainda mais com os desdobramentos da investigação sobre um cartel em obras ferroviárias no Estado de São Paulo. Ela surgiu depois de um acordo firmado pela Siemens com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão do Ministério da Justiça, em que a empresa assumiu participação no cartel.
Relatório atribuído ao ex-executivo da Siemens Everton Rheinheimer, em que há menções às propinas a expoentes do PSDB durante os governos Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin em São Paulo, foi entregue à Polícia Federal pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, filiado ao PT. O documento foi repassado a Cardozo pelo deputado estadual licenciado Simão Pedro, padrinho político do presidente do Cade, Vinícius Carvalho. Essa revelação desatou uma reação virulenta dos emplumados. Sob o comando de Aécio Neves, virtual candidato do partido à Presidência. Eles acusaram o PT de adulterar o relatório, ao enxertar menções às propinas, inexistentes na versão original, e de aparelhar órgãos do Estado para fazer luta política.
Muitos políticos adoram improvisar e ficam presos a uma agenda moralista, o PT e o PSDB evitam o debate maduro de ideias e consomem-se em acusações mútuas de corrupção, como esse escândalo dos trens em São Paulo e o mensalão. É conhecida a volúpia com que o PT busca se eternizar no poder. Nesses dez anos, o Brasil perdeu uma oportunidade histórica de dar um grande salto. Não só em termos econômicos, que foi muito baixo nos governos petistas, como também para enfrentar os graves problemas sociais do país.
Cavalo selado só passa uma vez e nessa vez tivemos a chance de combinar uma alta taxa de crescimento com um regime de liberdades democráticas plenas. Até a explosão da crise financeira, no final de 2008, as condições externas eram muito favoráveis. A China crescia dois dígitos por ano. Puxava o preço das commodities e gerava uma renda extra ao país, um dos maiores exportadores mundiais de alimentos e minérios. Em vez de aproveitar a âncora criada nos anos 1990, com a queda da inflação e a estabilidade fiscal e monetária, o governo abriu o baú da história. Voltou a improvisar e procurou velhas leituras econômicas cheirando a naftalina, e ideias de presença do Estado na economia cheias de teias de aranha, dos tempos do governo Geisel, nos anos 1980, que tiveram alto custo para o país.
Os três primeiros anos do governo Dilma estarão entre os piores da história econômica brasileira, e a perspectiva de melhora no curto prazo é baixa. Os êxitos do PT são bem menores do que se propala por aí. Eles são repetidos de forma tão sistemática e tão eficaz, sem nenhuma resistência da oposição, que todo mundo acha que é verdade. Os argumentos do governo, de que a classe média se tornou maioria no país, são totalmente falaciosos.
A década petista é de falácia, de maquiar estatística, improvisar e todos sabem que os casos de corrupção tenham sido os maiores da história republicana do Brasil. Nunca antes na história deste país houve tanta corrupção quanto na década petista. Mas a sucessão de problemas nos ministérios, de desvios de recursos, nos dois governos de Lula e no governo de Dilma, é um recorde.
O principal partido de oposição, não é um partido de fato. Está na oposição, mas não é oposição. É curioso. No populismo, o símbolo maior da oposição era a UDN de Carlos Lacerda. O suicídio de Getúlio Vargas foi o ápice da briga com a UDN. O Brasil pagou um alto preço pelo golpismo de Lacerda. O PT de Lula e Dilma tem dificuldade de admitir erros e enfrentar a oposição. O PSDB de Aécio e Fernando Henrique sabe apontar os pecados alheios, mas tem telhado de vidro.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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