quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
Salve, Belém pentecostal!
Salve, Belém! 397 anos de história para contar. Poderia aqui falar de tanta coisa, pois não me falta assunto sob teu manto verde, cravejado de frutos dourados pelo Sol. É nesses túneis vivos que me transporto aquém. É onde enxergo teu passado de glória, tua fundação, teus sonhos. Mas resolvi falar de algo celeste, de um fogo divino que foi aceso aqui. Assim, vou recontar tua história e essa nova façanha, que te deixou mais morena.
Belém! Tudo começou no Forte. Forte do Santo Cristo, como assim chamou Francisco. Caldeira de Castelo Branco não tinha como construir nada. Índio por todo lado. Medo amarelando todos. Foi preciso mostrar-se amigo: miçanga, espelho e pano compraram os teus primeiros filhos. Tupinambá era um bom paraense. Carregou pedra e canhões para que o estrangeiro o intimidasse com seus disparos “experimentais”. E foi assim. Depois de erguido o forte, edificaram uma ermida: a Sé. Palha, taipa e fé. Este foi o começo. O teu começo, Belém.
E foi justamente nesse berço que o fogo do pentecoste caiu. Ali, na Siqueira Mendes, Celina Albuquerque estava orando de madrugada quando isso aconteceu. De repente, em junho, que não chove tanto, choveu fogo do Céu sobre ti, Belém, deixando-te ainda mais morena.
Então, posso imaginar tuas águas ardendo. Labaredas corredeira abaixo. Anjos visitando o Presépio, celebrando tua nova aventura. Belém pentecostal! Cidade da chama celeste, berço do fogo santo que logo queimará todo o Brasil.
Belém, em tuas ruas, o idioma celeste ganhou sotaque chiado. O dom do Espírito agora era coisa cabocla. Iletrados poliglotas. Poetas e poetisas. Profetas e profetisas. Pregadores cheios de fé. Paletós cheios de manga. “Jesus é bom!”, canta o festeiro Daniel Berg, enquanto colhe seu lanchinho frugal de tuas ruas. Generalíssimo. Catorze. Antiga Independência. “Aleluia!” agora não é somente hebraico. A palavra universal virou expressão parauara. Salve, Belém pentecostal! Belém da Fé Apostólica. Da Missão. Belém da Assembleia de Deus.
Agora, perto de quatro séculos, não podemos deixar de proclamar teu centenário de fogo. Um quarto de tua história mudou a tua nação. Um milhão. Dez. Quase vinte milhões de almas hoje compartilham tua chama. Assembleianos paulistas, capixabas, fluminenses. Assembleianos mineiros, goianos: assembleianos paraenses. Todos nasceram de ti. Fagulhas da velha Siqueira, que o vento divino levou adiante, que desceu o rio e subiu a serra, que viajou além-fronteira, pois em quase todo o mundo alguém provém de teu chão.
Quando chegar 2016, quero estar ainda contigo. Quero contar teus primeiros séculos. Um. Dois. Três. Quatro. Quero marchar nessa cadência. Bater o pé no ritmo quente de tuas canções. Quero sorrir, porque também fui tocado por esse evangelho de fogo. Paraense pentecostal. Assembleiano de raiz. Cem por cento caboclo. Cem por cento cristão. Cem por cento de Deus.
O que falar mais de tua história? Lembrar a inesquecível Belle Époque? Apenas isso, não! Belém é a terra da gente. Terra do hoje.
Agora. Isto vale muito mais. Vamos cuidar da nossa cidade. Olhar com carinho suas praças, ruas e rios. Vamos fazer um mutirão permanente, não apenas para comemorar eleição. Acredito no novo prefeito. Belém precisa de amor. Tem feito tanto por nós. Vamos lhe devolver um pouco.
Espero que meus irmãos assembleianos tomem a vanguarda, e comecem logo a festa. “Jesus é bom!”, quero cantar de novo.
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RUI RAIOL é escritor
www.ruiraiol.com.br
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