segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Um novo pan-arabismo


Em 1948, Gamal Abdel Nasser destacou-se pelo patriotismo lutando em Fallujah, na Palestina, contra o exército do então jovem Estado de Israel. A derrota dos árabes foi humilhante. As inquietações da juventude voltaram a assolar Nasser: patriotismo, imperialismo, independência, ativismo. Constituiu então o Movimento dos Oficiais Livres, que organizou um golpe de Estado e conseguiu destituir o rei Faruk na noite de 22 para 23 de julho de 1952. Em 18 de junho de 1953, nascia a República Árabe do Egito, com o general Mohammed Naguib como presidente do conselho da revolução. Foi a primeira etapa da “revolução egípcia”.
Depois de se livrar de Naguib (1954), que nesse meio-tempo se tornara presidente da República, Nasser assumiu sozinho as rédeas do poder. Nesse mesmo ano, vítima de uma tentativa de assassinato atribuído aos Irmãos Muçulmanos, ele proibiu a organização e mandou prender vários milhares de membros.
Fez reformas incluindo a universidade islâmica Al-Azhar (1964), para que seus clérigos pregassem a ideologia nasseriana. A intenção não era suprimir a religião da cena política. Essa situação durou até junho de 1967, data em que a derrota para Israel na Guerra dos Seis Dias precipitou a crise das sociedades árabes, abrindo caminho para as contestações islâmicas. Mas foi a partir de 1968, que o pan-arabismo e sua versão nasseriana caminhavam para o fracasso. Em 28 de setembro de 1970, o Egito entrou em luto. A morte do líder que sonhou com um Oriente Médio laico e soberano dava início a uma nova era de extremismos na região.
Dia desses, a tampa do caldeirão do Oriente médio saltou, mas seu conteúdo continua em ebulição. Isso se deve ao Cairo e a Túnis e outras capitais árabes, onde massas demandam a queda de seus déspotas nas ruas.
Acredita-se em mudanças nesses países. Ou será que depois teremos outras ditaduras? O quê? Veja, só. E o Líbano, embora aqui o premier-designado Nagib Mikati tente formar um governo, entra na mesma equação. O sunita Mikati, escolhido pelo Hezbollah, agirá em nome da Síria e do Irã, países que financiam e apoiam politicamente o movimento xiita.
Tudo indica que as revoluções a sacudir o mundo árabe anunciam a chegada de um novo pan-arabismo. É crível, porém, que o cerne do problema ainda continua sendo o conflito entre a Palestina e Israel. Alguém duvida? Por quê? Por que, por ora, o premier israelense, Benjamin Netanyahu, comporta-se, digamos assim, como um “imperador global”.
Especialistas comparam uma queda de Hosni Mubarak, no Egito, com a do xá do Irã, em 1979. Há controvérsia. O caso do Irã é diferente dos atuais porque lá a revolução foi xiita, não sunita. Os xiitas têm sua própria interpretação teológica da política. Trata-se de uma teocracia na qual Deus governa através de estruturas religiosas. Para os sunitas, o homem governa, não Deus, e o governo pertence ao povo.
No mais, como avaliar as revoluções e quais desfechos no Oriente Médio pode-se esperar? Entramos numa nova era no mundo árabe. Lembra quando Condoleezza Rice, então secretária de Estado dos EUA, falou no começo de uma revolução no Oriente Médio, em 2006? Pois é, a revolução começou, mas não do modo desejado pelos americanos. Este é um novo e revolucionário Oriente Médio, não mais submisso aos EUA. Fala-se em um pan-arabismo como aquele de Nasser líder da revolução de 1952 e modelo de líder nacionalista secular. Essas revoluções não são religiosas.



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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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