sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

As entidades do construção civil falaram. E nada disseram.


Várias entidades ligadas à área da construção civil - o Crea, inclusive - fizeram publicar, nos jornais de ontem, um comunicado.
É de uma página.
Cliquem nas imagens acima para ler melhor as parte inicial e final do comunicado.
Em resumo resumidíssimo, a nota das entidades diz o seguinte: que não se pode tomar o desabamento do "Real Class" como referência para se julgar negativamente, a priori e sem embasamento técnico, a construção civil do Pará, um dos setores mais pujantes.
Perfeito.
Realmente é isso.
Não se pode tomar a exceção como regra.
Não se pode tomar o episódico, o eventual como a regra de todo dia.
Mas também é verdade - e isso não está dito na nota - que a credibilidade que o setor da construção se arroga vai depender de uma coisa apenas - apenas e tão somente de uma coisa: do esclarecimento cabal, completo, total, elucidativo, inequívoco das causas que levaram o "Real Class" a desabar.
Esse negócio das entidades signatárias da nota dizerem são "as maiores interessadas no pleno elucidamento (sic) deste episódio" não quer dizer muita coisa.
Aliás, a rigor não quer dizer nada.
Por quê?
Porque, ora bolas, os maiores interessados na elucidação desse episódio são, por ordem: os familiares das três pessoas que morreram, os compradores de imóveis no edifício que desabou, os vizinhos do edifício que tiveram seus imóveis de alguma forma abalados, os compradores de outros edifícios construídos pela Real Engenharia e, por último mas não menos importante, toda a sociedade paraense.
Todos estão interessados - interessadíssimos - em esclarecer o que a nota chama de "este episódio".
O comunicado das entidades signatárias ficaria mais completo se elas se comprometessem a não deixar sem respostas uma indagação - apenas uma: por que o edifício caiu?
Poderão dizer as entidades que os laudos haverão de esclarecer isso.
É?
Sem vierem com esse argumento, então arranjem outra piada melhor para contar.
Porque, laudo por laudo, a queda do edifício "Raimundo Farias", há 24 anos, produziu 39 mortos e vários laudos.
E aí?
Por que o "Raimundo Farias" caiu?
Ninguém sabe.
Até hoje, não se sabe a razão.
E olhem uma coisa: naquele tempo, há havia o Crea, já havia o Sinduscon.
O blog não tem certeza se a Acop e a Ademi já estavam em funcionamento.
De qualquer forma, o Crea e o Sinduscon - pelo menos eles - também eram interessados, àquela época, no esclarecimento das causas do desabamento do "Raimundo Farias", não eram?
O Crea e o Sinduscon, naquela época, ficaram à espera dos laudos, não ficaram?
Pois é.
E aí?
E aí que, repita-se, nem Crea, nem Sinduscon, nem Acop, nem Ademi, nem ninguém sabe por que o "Raimundo Farias" desabou.
Será assim outra vez?
Vamos ter a repetição desse filme, apesar do enorme interesse da Acop, do Sinduscon, da Ademi e do Crea em elucidar "este episódio"?

7 comentários:

Anônimo disse...

A única coisa eu não corre risco de desmoronar é essa omissão e esse corporativismo.

Oswaldo Chaves disse...

Não PB,

essa não é uma questão de generalizar um incidante isolado que não pode ser associado ao grande desenvolvimento do mercado imobiliário da construção vertical em Belém.

O que está acontecendo é outra coisa muito diferente. São seres humanos morrendo pela ganância de poucos.

Se o PSTU, por exemplo, deixasse de fazer proselitismo político e de fato assumisse as rédeas do sindicato dos trabalhadores da construção civil teríamos de fato a real estatística das mortes ( e que não são poucas) nas obras de Belém.

Até porque, de outro lado, as empresas de construção civil estão muito bem organizadas e representadas nas principais esferas do poder.

Seja no CREA, porque nada contribui para a melhorar este quadro e ainda diz que sua tarefa é controlar somente os profissionais.

Seja na Câmara Municipal, onde o Vereador gervásio Morgado não faz questão de esconder seu lado na ampliar o gabarito de construção de todas as áreas de nossa cidade.

Seja no Poder Público Municipal que aprova tudo que vem com o aval das empreas e que não oxigena a SEURB para melhorar a qualidade da fiscalização preventiva e de acompanhamento.

Tenho certeza que a sociedade não é contra que se construam novos prédios em nossa cidade.

Mas gostaria que este crescimento fosse sustentado e que se respeitasse as questões climáticas, em especial as casos dos espigões na Pedro Álvares Cabral de frente para a orla formando uma barreira a entrada da ventilação na cidade.

E que a Promotoria de meio Ambiente fizesse um Termo de Ajuste de Conduta entre empresas, sindicato e poder público a fim de tirar soluções a curto, médio e longo prazo, evitando que novas vidas se vão.

Anônimo disse...

Todo esse lindo texto desmorona quando se inicia um novo prédio.
Os vizinhos dessas contruções conhecem o inferno!
Queda de ferramentas e/ou materiais nos telhados; rachaduras e fissuras nas paredes e por ai vai.
E as reclamações somente são atendidas, quando são atendidas, na justiça, aquela senhora obesa e paquidermicamente "ágil"!

Caio Castro disse...

Caro PB,
Não fica pedra sobre após o seu post,comentando:
As assessorias de comunicação,quase sempre baseada nos manuais de "produção de uma nota de esclarecimento" esquece ue o mundo,mudaram, as pessoas se informaram, a informação de espalhou e vc deixa bem posto:
Foi muito mais que um episódio e a nota foi "deles' para "eles" mesmos.E quem são eles?

Mais uma vez o EA, presta um serviço a comunidade,transparente e
contundente. Assessorias atenção:
A informação precisa ser para todos.

Caio Castro.

Anônimo disse...

Paulo, amigo.
Só uma correção...
O Raimundo Farias desabou em 1987, há 24 anos, portanto.
Quanto ao resto, você tem toda razão, como sempre.
ABRAÇOS.
Ronaldo Brasiliense

Sérgio Pinto disse...

Outro aspecto que considero também importante e igualmente grave além de tudo que foi comentado pelo o poster diz respeito à subscrição do CREA a esta nota infeliz, para dizer o mínimo. Não consigo conceber como razoável que este órgão que deveria empenhar-se no esclarecimento das causas do desabamento do REAL CLASS subscreva uma nota que traz em seu bojo menção de solidariedade a construtora. Afinal a REAL ENGENHARIA é vítima de que? Se há uma imputação que podemos fazer, sem medo de errar, desde já, é que a REAL é a primeira responsável. A menos que se queira culpar a natureza ou alguma organização terrorista ou algo sobrenatural pela queda do prédio. Concordo que não sejamos precipitados em atribuir a responsabilidade criminal a este ou aquele profissinal, mas minimizar o peso da responsabilidade da construtora é um péssimo sinal. Com essa manifestação o setor da construção civil e, pior ainda, o CREA só nos faz crer que só com muita mobilização da sociedade para evitar que se repita a enorme pizza que virou o processo da RAIMUNDO FARIAS.

Poster disse...

Grande Ronaldo,
Tens razão.
Já corrigir.
Era só pra ver se prestarias atenção (hehehe).
Abs.